Depois de quase 10 horas de trabalho, sem tempo de acessar,
pela internet, as notícias do dia, chego em casa, ansioso por banho, módica
dose de uísque e farto jantar, eis que sou retido, no portão, por Rodolfo que,
com incontida indignação, exige minha opinião, sobre a sessão do Senado, que se
encerrara, adiando a decisão sobre o afastamento do senador Aécio Neves,
determinada pelo Supremo Tribunal Federal. Para decepção dele, Rodolfo,
respondo-lhe que minhas prioridades – banho, uísque, jantar – são mais importantes
do que essas questiúnculas entre uma Corte, que se apequenou e um Congresso,
cujo odor fétido ultrapassou os limites dessa desastrada Brasília, encaixada,
de propósito, no meio do mato, longe do pensamento lógico e atuante. Todavia,
como ser emocional que sou, sucumbo-me, ante o olhar decepcionado do amigo
querido – tão poucos os tenho – sento-me, no primeiro degrau da escada,
advertindo que o papo será rápido. Começo dizendo que a politização do Supremo,
transformou-o numa Corte liliputiana, a passar ao largo da interpretação e
aplicação do bom Direito. Só na cabeça desvairada de ministros, como o incrível
Barroso, com aquele ar de “quem soltou um
“pum”, aqui?”, é que se pode degenerar a ideia de que o impedimento de sair
de casa, à noite, não constitui forma de prisão e, por se tratar de senador,
dependeria de autorização do Senado. Não é necessário nem mesmo ser estudante
de direito para se saber que qualquer decisão judicial que restrinja ou suprima
o direito de ir e vir, deve ser considerada prisão. Barroso pode não ter “notório saber jurídico” (e, naquela
Corte, poucos o têm), mas não é jejuno, em matéria jurídica. Por óbvio, sua
decisão, bem como a daqueles que o acompanharam, violando o princípio
constitucional na independência dos Poderes, teve conotação política. A quem
beneficiou, não estou nem um pouco interessado em saber. Quanto ao Senado, está
de cócoras, com seus membros – quase todos – se borrando de medo do Supremo,
tantas as falcatruas em que estão envolvidos. Por isso, permitem que a
mini-corte (que de Supremo só tem o nome), usurpe-lhes as prerrogativas conferidas
por uma Constituição, cognominada “cidadã”,
mas que está mesmo é para “casa da mãe Joana”,
tanto que é mexida, com nebulosas
intenções.
“Por tudo isto, meu
caro Rodolfo, é deixar passar estes
fuxicos de mulheres desocupadas e irmos ao que interessa: você, a comer ração e
fazer cafuné em Nara, eu, entrar na doce paz da minha casa”.
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