Como muitos anos se passaram e ele até já morreu, posso
contar a irônica história do cliente, libanês de origem, que me procurou para
separação litigiosa... e das bravas. Descobrira que a esposa, bem mais jovem, o
traía. De imediato, não só nada iria fazer, mas até fingiria nem mesmo
desconfiar da traição. Primeiro era “alienar”
todo o seu patrimônio... e que patrimônio. Eu mesmo, que, de larga data
advogava para sua empresa, tive transferida, de modo transitório, para meu nome, fazenda, com alguns milhares de
cabeças de gado. Ela continuava gozando as delícias do adultério e ele, além de
reunir provas concretas, ia se
desfazendo das fazendas e apartamentos. Na hora certa, quase dois anos
depois, entramos com a ação e, para partilhar, sobraram móveis e alfaias. Ele
fez questão de dividir até os talheres. A guarda dos dois filhos, ambos
menores, ficou com ele, excelente pai, que sempre o foi. Resumo da ópera bufa:
do casamento, ela saiu apenas com o amante que, pobretão, não tinha condições
de lhe prover o bem viver. Não sei quanto tempo durou a relação., só tive a
notícia que ela voltou a morar com o pai, empreiteiro de burra cheia, homem das
antigas, que continuou amigo de meu cliente. Este passou a viver recluso: de
casa para a empresa e vice-versa. Limitava-se, muito de quando em vez, receber
amigos – eu, dentre eles – para conversa amena, regada a uísque de muitos anos,
em sua bela cobertura, na região dos Jardins. Cercava os filhos de carinho e
atenção, dividindo-os com empregada de muitos anos, pau pra toda obra, misto de
babá e governanta, tendo, sob seu comando, verdadeira legião de empregados.
Dois anos passados da separação homologada, promove o retorno do patrimônio,
transferindo-o aos filhos, com reserva de usufruto para ele. Aí vem a ironia do
destino: menos de um ano depois, ele é abatido por infarto fulminante, e, como
os filhos ainda eram menores, a mãe é
nomeada tutora dos mesmos, passando a gerir todo o patrimônio deixado. E o advogado dela, que ele execrava, a ponto
de se referir a ele, como “jegue
nordestino”, assume o inventário do dito cujo.
Passados tantos anos, coloco-o em minhas orações, pedindo a
Deus que apascente sua alma.
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