Pra começo de conversa, é preciso colocar a verdade, em seu
devido lugar: o argumento de que a reforma trabalhista é necessária, porque a
CLT remonta aos anos 40, é pura falácia. Na verdade, ao longo de seus 74 anos
de existência, esta velha senhora passou por cerca de 200 cirurgias plásticas,
o que lhe dá a aparência de, no máximo,
30 anos, já que a Constituição de 1988 abrigou os principais direitos do
trabalhador. Também se me afigura aberração jurídica, que compromete o Estado
de Direito, o princípio, estabelecido na reforma, segundo o qual “o acordado se sobrepõe ao legislado”.
Ora, se a lei restou superada pelos fatos sociais e econômicos, basta
revogá-la, seguindo o devido processo legislativo. E por que este açodamento,
em promover esta reforma trabalhista? Temer detém um mandato “tampão” e a atual legislatura termina em
pouco mais de um ano, quando se espera profunda mudança, na composição do
Congresso Nacional, tantos os deputados e senadores, envolvidos em processos
crime. O presidente poderia ter constituído um comissão tripartite – governo,
empregador e empregado – para elaborar um ante-projeto que, avaliando os
problemas de todos os envolvidos, chegasse a um texto, minimamente convergente.
Estive em Brasília, na semana passada e me espantei com a publicidade
eletrônica, espalhada pelo eixo monumental e até no interior do aeroporto JK,
em que a CNI propagava as maravilhas destas reformas. Parecia publicidade de
cerveja, querendo enfiar no inconsciente coletivo determinada mania daquela
bebida. Por certo, o projeto, que já emerge com tantos antagonismos, quando
convertido em lei, será atacado com tantas argüições de inconstitucionalidade,
que sua eficácia se pulverizará. Na minha nada “santa ignorância”, não vejo como a reforma trabalhista, nos termos
em que foi erigida, possa impulsionar a criação de novos empregos, o que só
pode acontecer com a retomada do desenvolvimento econômico, asfixiado que está,
pela crise moral que abala o Executivo, o Legislativo e começa a alcançar o
Judiciário, com o envolvimento – por enquanto – de dois Ministros do Superior
Tribunal de Justiça. Enquanto essa crise moral não estiver debelada, qualquer
proposta de reforma soará como “factóide”,
sem credibilidade e sujeito a chuvas e
trovoadas.
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