quarta-feira, 17 de maio de 2017

Por causa de um aniversariante de amanhã



Hoje, vocês me desculpem, mas vou falar de um amigo e de uma amizade que se aproxima de seis décadas. Lá no começo – parece que foi ontem – éramos dois magérrimos jovens, com a sabedoria inconseqüente da adolescência, eu, caipira chegante, ele, já paulistano, cidade domada, e sempre impecável em seu terno escuro. Não me lembro bem do que nos aproximou. Talvez   a prematura consciência de que, pela origem simples de nossas famílias, não estávamos ali para brincadeira. Tínhamos objetivos a conquistar e estudar e aprender era preciso. Por isso, modéstia  à parte, situávamos entre os melhores. Mas, do que me lembro, com certeza, era da celestial lazanha, elaborada com engenho, arte e muito carinho, pela sua mãe, Maria como a minha, nos intervalos dos Cíceros e Virgílios que o exigente Hélio Pìmentel nos empurrava, goela abaixo. Aprendemos com facilidade, a navegar nos labirintos das orações, a procura dos sujeitos e predicados, que nos dariam a tradução exata... e éramos firmes navegadores, mesmo em mares revoltos. Depois, seguimos caminhos diferentes, mas não o perdi de vista, seguindo-o pelas madrugadas, em seu programa de radio, que ele comandava e do qual participava o notável Sargentelli, inventor do “ziriguidum”. Ri muito – desculpe, amigo, a inconfidência – quando o vi, fazendo papel de “zorro”, no alvorecer da tv Bandeirantes. Mal sabia eu que seria o prenuncio do “zorro” atual, que faz em seus programas diários, onde, com o vigor de sua espada verbal, espanta os malfeitores de todos os gêneros. Certa feita, meu estimado Delfim Netto, falando sobre ele, disse-me considerá-lo o mais inteligente e íntegro jornalista destas bandas. Enchi o peito de orgulho, afinal ele falava do amigo-irmão, fraternidade construída com a solidez dos que não pedem, nem exigem nada, um do outro, senão a própria amizade. Amizade que desconhece o “dou para que dês”. Convivemos menos do que eu gostaria e mais do que mereço, mas, quando nos encontramos, é em almoços regados a vinho, que se prolongam pela tarde, tanto temos a dizer. Pois este amigo, querido amigo, amanhã comemora mais um aniversário. Certamente não terei o privilégio de abraçá-lo, pessoalmente, por conta de audiência, em processo que se arrasta desde 2011 e trabalhar é preciso, para profissionais liberais, como eu, que ainda não se liberaram. Todavia,  ele e todos os momentos vividos juntos, estarão ardendo na fogueira do respeito e do afeto, que nos tornou “amigos para sempre”.
Querido José Paulo de Andrade, que Deus o proteja e o guarde!

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