Hoje, vocês me desculpem, mas vou falar de um amigo e de uma
amizade que se aproxima de seis décadas. Lá no começo – parece que foi ontem –
éramos dois magérrimos jovens, com a sabedoria inconseqüente da adolescência,
eu, caipira chegante, ele, já paulistano, cidade domada, e sempre impecável em
seu terno escuro. Não me lembro bem do que nos aproximou. Talvez a
prematura consciência de que, pela origem simples de nossas famílias, não
estávamos ali para brincadeira. Tínhamos objetivos a conquistar e estudar e
aprender era preciso. Por isso, modéstia à parte, situávamos entre os melhores. Mas, do
que me lembro, com certeza, era da celestial lazanha, elaborada com engenho,
arte e muito carinho, pela sua mãe, Maria como a minha, nos intervalos dos
Cíceros e Virgílios que o exigente Hélio Pìmentel nos empurrava, goela abaixo.
Aprendemos com facilidade, a navegar nos labirintos das orações, a procura dos
sujeitos e predicados, que nos dariam a tradução exata... e éramos firmes
navegadores, mesmo em mares revoltos. Depois, seguimos caminhos diferentes, mas
não o perdi de vista, seguindo-o pelas madrugadas, em seu programa de radio,
que ele comandava e do qual participava o notável Sargentelli, inventor do “ziriguidum”. Ri muito – desculpe, amigo,
a inconfidência – quando o vi, fazendo papel de “zorro”, no alvorecer da tv Bandeirantes. Mal sabia eu que seria o
prenuncio do “zorro” atual, que faz
em seus programas diários, onde, com o vigor de sua espada verbal, espanta os
malfeitores de todos os gêneros. Certa feita, meu estimado Delfim Netto,
falando sobre ele, disse-me considerá-lo o mais inteligente e íntegro
jornalista destas bandas. Enchi o peito de orgulho, afinal ele falava do
amigo-irmão, fraternidade construída com a solidez dos que não pedem, nem
exigem nada, um do outro, senão a própria amizade. Amizade que desconhece o
“dou para que dês”. Convivemos menos do que eu gostaria e mais do que mereço,
mas, quando nos encontramos, é em almoços regados a vinho, que se prolongam
pela tarde, tanto temos a dizer. Pois este amigo, querido amigo, amanhã
comemora mais um aniversário. Certamente não terei o privilégio de abraçá-lo,
pessoalmente, por conta de audiência, em processo que se arrasta desde 2011 e
trabalhar é preciso, para profissionais liberais, como eu, que ainda não se
liberaram. Todavia, ele e todos os
momentos vividos juntos, estarão ardendo na fogueira do respeito e do afeto, que
nos tornou “amigos para sempre”.
Querido José Paulo de Andrade, que Deus o proteja e o guarde!
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