Conheci-o, lá pelo final dos anos 70, a ele apresentado pelo
amigo comum, Valdir Trancoso Peres, um dos mais brilhantes advogados de júri,
com quem tive o privilégio de conviver. Ainda não tinha ele, o apresentado, o
prestigio grangeado, dentro e fora do mundo jurídico, mas, entre nós,
principalmente os que militavam na área criminal, sua competência faiscava. Foi
quase “amor a primeira vista”:
tornamo-nos amigos! Geralmente às sextas-feiras, boca da noite, íamos tomar
aperitivo, em bar, que não mais existe, ao lado do “Rubayat”, ao final da Faria Lima “velha”, que, ao depois, seria
prolongada, na administração Paulo Maluf. Falávamos, quase nada, de assuntos
ligados a nossa profissão e, com muito prazer e intensidade de literatura, ele,
dos autores franceses – que lia no original – e eu, dos ingleses, recepcionados
por bons tradutores. Só concordávamos, em poesia, já que ambos comungávamos ser
Baudelaire o maior de todos e cujas “Oeuvres
Complètes” ele me presenteou. Considerava-se um “social democrata” o que,
convenhamos, não quer dizer muita coisa e, quando eu fazia tal observação, ele
sorria, afirmando que, nós, advogados, não podemos adotar posições radicais ou
imutáveis, porque “não sabemos o cliente
que nos espera”. Perdemos o contato freqüente, primeiro, porque, com a
transferência de meu escritório para a Aclimação, nosso aperitivo de 6ª feira
ficou prejudicado; segundo, porque sua fulminante ascensão profissional exigia
que eu me mantivesse à distância. De quando em vez, falávamos, por telefone e
era só. Corria o ano 2.000, ele já influente, até no meio político, “fazendo” Ministros e Desembargadores e
eu, em meu canto, tocando meu modesto escritório. Eis que sou contratado para
defender empresário do mercado financeiro, “apanhado” na “operação Satiagraha”, com expressiva conta em paraíso fiscal, sem
conhecimento das autoridades brasileiras. Sabedor ser ele advogado dos
envolvidos mais importantes, liguei para combinarmos estratégia uniforme de
defesa. Debatemos o assunto e, ao final, disse-me que a “operação” morreria, antes de chegar à praia, tantos os equívocos
legais perpetrados. E morreu, graças aos erros e à ação decisiva dele, já,
àquela altura, conhecido, em nosso meio, pelo codinome de “Deus”, tal seu poder de resolver questões, aparentemente insolúveis. Foi Ministro da Justiça de Lula e,
graças a seu engenho e arte, manteve o ex Presidente fora do alcance das garras do “mensalão”.
Marcio Thomaz Bastos, “Deus”,
para os íntimos, morreu em pleno governo Dilma e, se vivo ainda fosse, teria
transformado a “lava-jato” em inexpressivo esguicho.
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