Como de hábito, sexta-feira, 21, logo às 07 da matina, vou ao
“varejão”, mas, quebrando a rotina,
não me preparo para, após as compras, vir para o escritório. Ainda de bermuda e
camiseta, convoco meus fiéis escudeiros, Rodolfo e Nara, a um passeio no
parque.
Rodolfo, sempre ligado em meu cotidiano, interpela-me: “ué, você
não vai trabalhar?”, ao que
esclareço ser feriado. “Feriado de que?”,
quer saber ele, no que procuro ser o mais didático possível: “reverenciamos, hoje, 21 de abril, 03
frustrações vividas pelo País. A primeira, foi a Inconfidência Mineira,
movimento orquestrado por alguns poucos jovens, pertencentes à fina burguesia
da época, pretendendo libertar o Brasil
de Portugal. O movimento se frustrou, não tanto pela delação premiada que teve
como autor Silvério dos Reis, mas, principalmente pela falta de armamento e
apoio popular. A segunda comemoração, invocada em 21 de abril, é a data de
fundação de Brasília. Oscar Niemeyer, Lucio Costa, que a projetaram,
idealizaram, dentro do ideário socialista, uma cidade que desse a sensação de
igualdade, donde a superposição dos prédios dos Ministérios, todos do mesmo
tamanho e estilo, tal qual peças de dominó. O ideário não só não se cumpriu,
mas também Brasília se tornou eloqüente símbolo do capitalismo selvagem: a
plutocracia e os senhores do engenho habitam o espaço nobre, denominado “plano
piloto”, enquanto que a população de baixa renda foi “empurrada” para as
cidades satélites, desprovidas, até, de infra-estrutura urbana. Também se
afirmava que Brasília iria “interiorizar o progresso”, o que não aconteceu, em
mínima escala. O que se interiorizou mesmo foram os privilégios concedidos aos
graduados funcionários dos 3 Poderes, moradores de casas e apartamentos de alto
luxo, tudo pago com o dinheiro do contribuinte. Afastada dos centros de decisão
do país e fora do alcance da “manus populi”, Brasília tornou-se cenário ideal
para as grandes maracutaias que, segundo o empresário Emílio Odebrecht,
remontam há 30 anos, vale dizer, à instalação da “nova Republica”, em 1985.
Brasília consegue ficar longe – pelo menos mil quilômetros – do Rio, São Paulo,
Belo Horizonte, Recife etc., tornando, assim, difícil e caro seu acesso, o que
permite aos “assaltantes” do dinheiro público agirem com a conhecida
desfaçatez.
Finalmente, 21 de abril
nos lembra Tancredo, “o que foi, sem
nunca ter sido”, morto naquela data. Tancredo poderia ter dado origem a uma
nova forma de governar. Político hábil e experiente, tinha, naquele momento, amplo apoio, à
esquerda e à direita. Não sabemos se tinha um projeto de governo, mas, mesmo
que não o tivesse, possuía condições de elaborá-lo, com a colaboração das
melhores inteligências disponíveis. Sua morte, em um 21 de abril, além de nos
privar dessa oportunidade, legou-nos Sarney e, “após ele, o dilúvio”, que
deságua nesta lava-jato que parece não ter dia e nem hora para terminar””.
Rodolfo agradece o inesperado passeio, mas não deixa de
observar:
“país estranho, que
comemora até infortúnio!”.
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