terça-feira, 25 de abril de 2017

Por Causa de 21 de abril



Como de hábito, sexta-feira, 21, logo às 07 da matina, vou ao “varejão”, mas, quebrando a rotina, não me preparo para, após as compras, vir para o escritório. Ainda de bermuda e camiseta, convoco meus fiéis escudeiros, Rodolfo e Nara, a um passeio no parque.
Rodolfo, sempre ligado em meu cotidiano, interpela-me: “ué, você  não vai  trabalhar?”, ao que esclareço ser feriado. “Feriado de que?”, quer saber ele, no que procuro ser o mais didático possível: “reverenciamos, hoje, 21 de abril, 03 frustrações vividas pelo País. A primeira, foi a Inconfidência Mineira, movimento orquestrado por alguns poucos jovens, pertencentes à fina burguesia da época, pretendendo libertar o  Brasil de Portugal. O movimento se frustrou, não tanto pela delação premiada que teve como autor Silvério dos Reis, mas, principalmente pela falta de armamento e apoio popular. A segunda comemoração, invocada em 21 de abril, é a data de fundação de Brasília. Oscar Niemeyer, Lucio Costa, que a projetaram, idealizaram, dentro do ideário socialista, uma cidade que desse a sensação de igualdade, donde a superposição dos prédios dos Ministérios, todos do mesmo tamanho e estilo, tal qual peças de dominó. O ideário não só não se cumpriu, mas também Brasília se tornou eloqüente símbolo do capitalismo selvagem: a plutocracia e os senhores do engenho habitam o espaço nobre, denominado “plano piloto”, enquanto que a população de baixa renda foi “empurrada” para as cidades satélites, desprovidas, até, de infra-estrutura urbana. Também se afirmava que Brasília iria “interiorizar o progresso”, o que não aconteceu, em mínima escala. O que se interiorizou mesmo foram os privilégios concedidos aos graduados funcionários dos 3 Poderes, moradores de casas e apartamentos de alto luxo, tudo pago com o dinheiro do contribuinte. Afastada dos centros de decisão do país e fora do alcance da “manus populi”, Brasília tornou-se cenário ideal para as grandes maracutaias que, segundo o empresário Emílio Odebrecht, remontam há 30 anos, vale dizer, à instalação da “nova Republica”, em 1985. Brasília consegue ficar longe – pelo menos mil quilômetros – do Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Recife etc., tornando, assim, difícil e caro seu acesso, o que permite aos “assaltantes” do dinheiro público agirem com a conhecida desfaçatez.
Finalmente, 21 de abril nos  lembra Tancredo, “o que foi, sem nunca ter sido”, morto naquela data. Tancredo poderia ter dado origem a uma nova forma de governar. Político hábil e experiente,  tinha, naquele momento, amplo apoio, à esquerda e à direita. Não sabemos se tinha um projeto de governo, mas, mesmo que não o tivesse, possuía condições de elaborá-lo, com a colaboração das melhores inteligências disponíveis. Sua morte, em um 21 de abril, além de nos privar dessa oportunidade, legou-nos Sarney e, “após ele, o dilúvio”, que deságua nesta lava-jato que parece não ter dia e nem hora  para terminar””.
Rodolfo agradece o inesperado passeio, mas não deixa de observar:
país estranho, que comemora até infortúnio!”.


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