quarta-feira, 5 de abril de 2017

Carta a um leitor desconhecido



Escreve-me desconhecido leitor de meus escritos, perguntando-me porque escrevo e se acho terem eles, os escritos, alguma serventia para quem os lê. Considera-os, via de regra, toscos, de linguagem  empolada e recheados de idéias preconceituosas e ultrapassadas. Como concordo com todo o juízo, por ele externado, limito-me a justificar o porquê deste “blog”. Tudo começou faz, mais ou menos, 04 anos, pelo interesse de conversar com pessoas mais próximas que, apesar de próximas, o cotidiano as colocava distante, cada qual tocando sua vida, envolvida com seus problemas pessoais. O passar dos anos nos empurra para a solidão, mesmo numa cidade de 12 milhões de habitantes, mesmo em uma profissão  na qual o contato com pessoas seja imprescindível. Só que os habitantes da cidade integram mera paisagem, não vêem e não são vistos e, quanto aos clientes, afora uns poucos que se tornaram íntimos, pela longevidade de seus processos, a esmagadora maioria passa, sem deixar marcas. A rotina do trabalho – igual a rotina de todos – tira-me de casa às oito da manhã e me devolve às 8 da noite, ainda com a cabeça voltada para o feito e o a fazer. É aí que bate a dor ardida da solidão, a vontade danada do papo íntimo, que só se tem com iguais, mesmo os que se desigualam em idéias e ideais. As redes sociais, penso, ao contrário do que pensa muita gente, proporcionam a magia de se comunicar com incontáveis pessoas, sem sair de casa ou do local de trabalho, permutando idéias e, até, sentimentos. É remédio eficiente contra este novo “mal du siècle”, que, como todo remédio, deve ser tomado de acordo com a bula, para não vitimar o paciente. Acontece que meus escritos – que os sei tacanhos -, por culpa dos conhecidos, chegaram a olhos desconhecidos, não procurados por mim. Persigo tão somente sair da monotonia do cotidiano e, roubando um pouco do tempo, sem planejamento ou método, conto histórias vulgares ou digo o que penso e sinto, sem outra intenção, senão dizer o que sinto e o que penso. Gostaria de saber poetar, como meu amigo Marcelo Martins que, em versos curtos e enxutos, derrama sentimento e, qualquer dia, vou  me exibir, transcrevendo alguns poemas dele. Adianto que ele é petista e que, para horror de Rodolfo, usa, até, boné do “MST”. Mas ele é ótimo, como pessoa e poeta, o que, para mim, é o suficiente. Assim, como não sou de versos, deito na prosa manca o refúgio para a melancolia de estar sentado de costas para a rua, como se estivesse sentado de costas para a vida. Portanto, meu desconhecido leitor, não veja neste “blog”, qualquer pretensão literária. Escrevi 03 livros e tenho um quarto pronto que, com certeza, repousará, sepulto, no armário defronte. Agradou-me tê-lo escrito, por contar a história de “amor em tempo de ódio” (título que dei a ele). Ao relê-lo, constatei que me emocionava a mim, mas somente a mim, vez que falava de tempo e coisas que não interessam mais. Testei-o, lendo alguns trechos para Rodolfo e, por várias vezes, flagrei-o, abrindo a bocarra, em inequívoco sinal de tédio, este mesmo tédio, que me constrange, quando releio meus escritos. Desculpe-me, meu desconhecido leitor, mas sou apenas um inábil pescador de palavras, cujo anzol, quase sempre, retorna vazio, porque a ele faltou a isca.

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