Nesta quarta-feira da semana santa, ousaria falar de Maria,
mãe de Jesus e, especialmente, de sua indiscutível dor. Na 4ª estação da via
sacra dolorosa, Jesus, ensangüentado, humilhado, encontra sua mãe, dor feita
mais intensa pela absoluta impotência de defendê-lo ou, até mesmo, amenizar o
flagelo a que o filho foi submetido. Ao longo do lúgubre caminho, Maria
assistirá, inerte, ao progressivo sofrimento de Jesus, até sua crucificação,
culminando por recebê-lo, morto, nos braços – 13ª estação. Inimaginável a dor,
incomensurável dor, que tomou conta de Maria, naquele momento. Por certo, em
quadros rápidos, percorreu toda a vida daquele filho amado, desde seu
nascimento, passando pelas suas travessuras, nas ruas de Nazaré, sua
peregrinação, ensinando a incompreendida lição de amor ao próximo, até chegar
àquele trágico desfecho. Quantas vezes, ali, com a cabeça do Senhor morto,
apoiada em seus braços, Maria não deve ter se perguntado “por que?” e “para que?”
E, ao fazer tal reflexão, impossível não pensar em todas as “Marias”, de diferentes nomes e localidades
que, todos os dias, tomam, em seus braços, filhos mortos, sempre perguntando,
entre lágrimas, “por que?”. Quantas
mães, Marias ou não Marias, choraram, na Síria, seus filhos, queimados vivos,
pela bestialidade dos que têm, como único objetivo, o Poder. Quantas mães,
Marias ou não Marias, recebem, tresloucadas, filhos mortos, vítimas de balas
perdidas, ou assassinados, por causas banais. E quantas Marias e não Marias
morrem, ainda vivas e vão morrendo, um pouco a cada dia, por terem enterrado
filhos, vitimados por inesperadas doenças.
Olho para a 13ª estação da “via crucis”, e vejo, menos Jesus e mais, muito mais Maria, seus
olhos, tomados pela saudade, seu corpo, dilacerado pela dor da incompreensão da
morte do filho, saudade e dor que dilaceram todas as Marias e não Marias que
afagaram seus filhos mortos. Humildemente, através da Maria, mãe de Deus, rezo por todas as Marias e não Marias, que
padeceram deste sofrimento, inclusive pela minha mãe, também Maria, cujo olhar,
atônito, parado, ainda vejo contemplando meu irmão, no caixão.
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor esteja convosco e com
todas as Marias e não Marias que vivem o mesmo sofrimento que vivestes.
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