Sempre gostei de história, fonte para compreender o mundo, em
todas as épocas, até porque os fatos se repetem, como se guiados por inexorável
determinismo. E, nesse contexto, tenho quase obsessão pela Alemanha e sua
capacidade de superar os sucessivos reveses suportados, principalmente ao longo
do século 20. Nesse século, as vicissitudes do povo alemão afloram quando,
derrotada na primeira guerra mundial, é
compelida a assinar o “Tratado de
Versailles”, pelo qual perde 1/3 de sua população e território,
impõe-se-lhe pesada indenização financeira, a ser paga aos países vencedores,
além de outras sanções, que iriam impactar a já combalida economia, que perdera substancial força de trabalho, nos
campos de batalha. Em 1922, necessitava-se a astronômica soma de 01 bilhão de
marcos para se comprar 01 dólar, o que levou a Alemanha a requerer moratória, não aceita pela França,
cujas tropas, em represália, ocuparam o
“distrito do Ruhr” então mais importante centro industrial do
país. O descontentamento do povo alemão, como sempre acontece em situações
análogas, foi capitalizado por um líder emergente, Adolf Hitler, hábil orador que, unido à classe
conservadora, iniciou sua marcha em direção ao poder, onde chegou, como
Primeiro Ministro, em janeiro de 1933, iniciando feroz perseguição a seus
inimigos políticos e aos que considerava
“racialmente inferiores”,
especialmente, judeus e ciganos. Todavia, seu principal foco, ao ascender ao
poder, era o raquítico estado da economia, com mais de 6 milhões de
desempregados. Historicamente, pode-se afirmar que o desemprego, a brutal
desvalorização da moeda e suas conseqüências, a carestia, tudo isto corroeu a
democracia alemã, propiciando a chegada de Hitler ao governo. A partir daí, a
Alemanha experimentou rápida e profunda recuperação sócio-econômica: centenas de milhares de pessoas sairam da
estatística do desemprego e passaram a trabalhar no campo ou em obras públicas,
inclusive drenagem de terras, construção e reparos de estradas e ferrovias. Em
final de 1934, quase um milhão de alemães foram empregados em vários planos de
postos de trabalho com patrocínio do Estado, com destaque para a construção das
“Autobahn”, rede de autoestradas,
onde se utilizou pouco maquinário, exatamente para dar emprego ao máximo
possível de pessoas. O certo é que dos 06 milhões de desempregados, de quando o
Partido Nacional Socialista chegou ao poder, menos de 01 ano depois, restavam 1,7
milhão , que seriam rapidamente absorvidos pela indústria bélica e pela nova
florescente indústria privada. Em 1937, acelerou-se o desenvolvimento de
fábricas de borracha sintética e produção de gasolina, voltada para viabilizar
projeto de produção de novo automóvel, destinado a se tornar o mais vendido no
mundo – o Volkswagen Fusca. A Alemanha nazista era país capitalista, no qual os
meios de produção ainda pertenciam, predominantemente, à iniciativa privada,
que obtinha excelentes lucros, mas submetida à elevada carga tributária e alto
grau de controle estatal. Por outro
lado, a extinção dos sindicatos independentes, fez com que salários e
reivindicações trabalhistas ficassem submetidas à chancela do Estado. Em resumo era uma economia capitalista na qual
os capitalistas não estavam no volante. Assim, já em 1936 a economia alemã
superava a depressão e, em 1938, era a mais sólida da Europa, dando ao
psicopata Adolf Hitler e sua troupe,
condições materiais para iniciar uma guerra que ceifaria cerca de 60
milhões de vidas e, mais uma vez, tal qual em 1918, destruiria a própria
Alemanha. Contrariando todas as expectativas e quase sem nenhuma ajuda externa,
graças ao denodo do povo e lideranças de homens, como Konrad Adenauer, já em final dos anos 60 a Alemanha, renascida
das cinzas de 45, ocupava posição de liderança,
no cenário europeu, liderança esta que passou a ser absoluta no começo
dos anos 80. Quando, em 1989, o “Muro de Berlim” foi posto abaixo, os
sociólogos e economistas internacionais previram nova crise, gerada pela
necessidade de a Alemanha Ocidental, postada na atualidade, ter que assimilar a
anacrônica Alemanha Oriental, até então sob o jugo da União Soviética . Contrariando os profetas dos caos,
a crise não ocorreu e a união das “duas
Alemanhas” foi quase indolor. Hoje, aquele país, hegemônico em todo continente europeu, segura, pelas
pontas dos dedos, a União Européia, cujos interesses nunca foram muito
convergentes e que começou a se esfacelar com o “Brexit” . Até quando os alemães aceitarão pagar a conta da
irresponsabilidade fiscal da Grécia, Espanha, Portugal, Itália, saberemos nas
próximas eleições daquele País. Angela Merkel ainda goza de prestígio como “Dama de ferro”. Todavia, ventos
nacionalistas, vindo, principalmente dos Estados Unidos, que elegeram Trump e
da França, que dá favoritismo a Marine Le Pen, podem chegar à Alemanha que, em
qualquer hipótese, não perderá sua liderança mundial e continuará como exemplo
a ser seguido.
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