segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

LAMENTO PELO VERÃO PERDIDO



Constato que o verão completou um mês com, pelo menos, 20 dias de sol intenso, iluminando as praias e dourando os corpos. Vi, pela TV, que tão plácido estava o mar carioca que as pessoas fizeram do banho noturno seu lugar natural e cotidiano. Expulso, progressivamente da vida, por imposições não queridas, deixei-me ficar por aqui, protegendo-me no ar condicionado. Paradoxo absoluto, porque, ao me proteger, escondo-me do calor, prazer, que já foi constante amor, presença esperada, com ansiedade, quase volúpia. Lembrar dos verões passados, quando sorria para mim mesmo, vendo o corpo amorenado? Lembrar das praias passadas, furando ondas ou, simplesmente, boiando, pensamentos ausentes, olhando a cobertura do céu, ou o contorno da montanha, ao lado? Aprendi, nestes momentos de desprazer, que essas lembranças, como fotografias velhas, vão perdendo nitidez, até não mais se poder identificar se elas, as lembranças, refletem realidade vivida, ou se foi  apenas sonho ou filme. Uns preferem contar mentira para si mesmo; “odeio calor!”. Eu, cá de mim, não por algum pudor, mas porque, tão reles seria a mentira, que saltaria de meus olhos, abaixo a cabeça e, no silêncio dos que não têm outra   alternativa, simplesmente me conformo. Não busco recordações de praias passadas, porque seria me torturar pela ausência delas. Simplesmente, em silêncio, sinto falta delas, como dor, que não dói, mas que sei que está aqui dentro, dizendo, baixinho, “eu estou aqui”. Olho meu corpo, no espelho e sinto falta, não tanto da rigidez de antes, mas da linha divisória entre o queimado de sol e o branco, escondido pelo calção. E me conformo, outra vez, tantas vezes quantas são as visões inúteis de hoje, até porque, com sol ou sem sol, só resta a mediocridade deste parque ao lado, com as pessoas a andarem em círculo, em busca de alguma coisa que parece sempre estar um passo adiante. Sento em um banco, ainda úmido da chuva, que caiu cedo. A monotonia do verde, feita mais monótona, porque não venta! Os patos ou os gansos - o que quer que sejam, não faz a menor diferença – aproximam-se da margem do escuro lago, na esperança que alguém se lhe atirem migalhas de pão. Também eles, os gansos ou patos, tem os olhos entristecidos pela mesmice da paisagem, da torpeza das águas, por onde perambulam, tudo absolutamente igual, vida que segue sem vida. Será assim hoje, amanhã e todos os dias, até que morram de velhice ou doença, o que, no fim, é a mesma coisa, porque morte é morte, não importa sua causa. Tenho pena deles, patos ou gansos, naquela  monótona  quietude, porque posso sentir monotonia e a vida se esvair em outros lugares, como, por exemplo, no bar da esquina ou brincando com os cachorros, que brincam comigo, mesmo, talvez, preferindo fazer outra coisa, como, por exemplo, correr por estrada de terra, no encalço do motoqueiro, que passa, com seu barulho. Felizmente, a noite esparrama seu manto fúnebre sobre a cidade. Felizmente, o fim-de-semana, de mais um verão sem praia, com sua inútil paisagem, vai chegando ao fim. Amanhã, com sol ou sem sol – que diferença faz? – surgirão outras monotonias ou, o que é mais provável, a continuação das mesmas, o preso para soltar, o casamento para desfazer, o conselho – inútil – para dar, a vida correndo pelos dedos, dando a certeza de que o que se perdeu ou o que não se ganhou resta definitivamente armazenado no limbo de minha alma. Recordo Drummond, mas, como não sei tocar, ouço um tango argentino.

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