Com indisfarçável surpresa, constato que o ano chega a seu
final e, em pleno 2017 ainda estou por aqui, tantos companheiros ficados pelo
caminho. Não sou chegado a “balanços”,
porque sempre há perdas e ganhos a considerar e temos a patológica tendência de
“chorar o leite derramado”, esquecidos
dos momentos de paz, o papo amigo, a cerveja gelada, sorvidas nas tardes quentes ou os vinhos encorpados, a
espantarem as noites frias. Acabei de completar meu ciclo de exames médicos e,
afora pequenas dores musculares, ainda dou para o gasto, mesmo que esse gasto
seja apenas o trabalhar diário e a vida familiar, aí incluindo meus cachorros,
filhos queridos, uns, confesso, mais queridos, como a Nara e o Olavo e, é
claro, Rodolfo, meu politizado pastor companheiro de tertúlias noturnas e de
fins-de-semana, a falarmos deste Brasil sem jeito, atolado na incompetência e
na improbidade dos homens públicos. E, como bem observou Rodolfo, o mundo, além
fronteira, também não vai melhor, com Maduro, destruindo a Venezuela, o coreano
maluco, soltando mísseis e Trump insuflando mais conflitos, entre israelenses e
palestinos. Também, nada disto é novidade e, entra ano, sai ano, o ser humano
injeta mais ódio, ressentimento e hipocrisia em seu cotidiano viver, que, ao
contrário do que ele imagina, tem encontro marcado com a morte e, o que é pior,
é ela, a morte, quem marca a hora e o local deste indesejável encontro. Mas,
como temos a vocação para o erro, quanto mais conquistamos a liberdade, mais
nos apressamos a suprimi-la, agora, em nome desta coisa imbecil, chamada “o politicamente correto”. Já não podemos
dizer o que pensamos e o que sentimos, segundo ancestral costume, porque
corremos o risco de ser apontados (e, até mesmo, processados) como racistas,
homofóbicos e outros epítetos de rasteiro calão. A mulher que passa, cheia de
graça, e que, de graça, recebe um elogio, mesmo sem graça, ao invés de inflar o
ego, corre ao distrito policial mais próximo e registra boletim de ocorrência,
contra quem a elogiou, no todo ou em partes (eu, como não canso de alardear,
prefiro coxas). Há cerca de 30 anos, abasteço meu carro, no mesmo posto de
gasolina e, com frequência sou atendido por uma frentista a quem, por motivos
óbvios, chamo “negão” e ele se refere
a mim como “bigode”. Apesar de não
perceber nele qualquer sinal de constrangimento, como, de igual sorte, nem de
longe, penso em lhe exigir que respeite minha “doutorice”, resolvi omitir o
codinome, para não incidir em injuria racial.
Ontem, quando projetava grafar estas toscas linhas, pedi ao
Rodolfo, como sugestão, o que desejar aos que gastaram seus minutos, lendo meus
textos. Ele foi rápido, como os cowboys, de minha infância, ao sacar o
revólver: “saúde, o máximo de saúde
possível e tranquilidade, o máximo de tranquilidade possível, porque 2018 não
será fácil. Ainda teremos “lava jato”, levando impurezas, sob forma de
corrupção e trazendo impurezas, sob forma de arbítrio. Teremos ilusões perdidas
e sonhos realizados. Deslizaremos da alegria à tristeza e, graças a Deus,
vice-versa. Todavia, além de tudo isto, teremos eleições e, com elas, o horário
gratuito e o desfile de pretendentes a heróis da pátria mãe gentil, que também
sou filho teu e quero me servir dessa gentileza”.
Então, estes são meus votos a meus acompanhantes, conhecidos
e desconhecidos, que passaram a me conhecer: muita saúde e muita tranquilidade
neste ano que bate à porta. E, por falar em Deus, por que não o colocar, sempre
que possamos, em nossos corações e mentes e podermos dizer, como Maria, “a minha alma engrandece o Senhor e meu
espírito se alegra em Deus, meu Salvador.”
Em tempo: para que não me acusem de plágio, “últimas páginas” é o título de obra do
magnífico Eça de Queiróz, editada, postumamente, e que reúne crônicas do
imortal escritor português.