segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A dúvida não pode levar à condenação

Meu queridíssimo amigo, Oswaldo Jurema, jornalista de longo curso, envia-me artigo – transcrevo, abaixo -, formulando severas observações a respeito das declarações do novo Diretor Geral da Polícia Federal, que considerou  poucos os indícios coletados pela Procuradoria Geral da República, para incriminar o Presidente Michel Temer. Oswaldo, que escreve no “Correio da Paraíba”, seguiu a linha da mídia em geral, mas, na investigação policial e no direito penal, a banda toca em ritmo diferente. O ex Procurador Janot, cujo candidato preferido para sucedê-lo, foi preterido por Temer, transformou seu gabinete, em verdadeiro quartel general, com o objetivo – que virou obsessão – de derrubar Temer: armou, com o pulha da “JBS”, a famigerada gravação e, como recompensa, concedeu àquele pulha e seus comparsas liberdade plena, inclusive de se transferir para Nova York. A afirmação do novo Diretor Geral da Polícia Federal, de que uma única mala de dinheiro não constitui prova suficiente do envolvimento do Presidente, não pode ser extraída do contexto da fala do Dr. Segovia. O que quis ele dizer – e disse – é que o episódio deveria ter sido investigado, em todas as suas nuances, e não ser transformado em pinimba pessoal, como o fez Janot. Quando se investiga um Presidente da República, ultrapassa-se sua pessoa, adentra-se à instituição e se coloca em risco, inclusive, os interesses nacionais. Porisso tal investigação deve ser exaustiva e sigilosa, só vindo a público, quando contundentes forem as evidências. A meu juízo, o novo Diretor Geral da Polícia Federal, em harmonia com a nova Procuradora Geral da República, quer ações menos histriônicas, sem a “Globo” por perto, ações estas que conduzam a resultados concretos e, sempre, sob a égide do ordenamento jurídico do País. Assistimos à  decretação, sem medida, de prisões preventivas que têm, como único escopo, compelir o detido a optar pela delação premiada. A mídia exulta, porque tem mais matéria a divulgar. A população exulta, porque fica com a sensação  de que o País está “sendo passado a limpo.” Todavia, os que militam na advocacia – mesmo não tendo clientes na “lava jato” – vivem tempos de insegurança jurídica -, porque o açodamento na colheita da prova é o caminho mais rápido para o arbítrio. Quem, por exemplo, vai reparar a memória e os  familiares do Reitor da Universidade de Santa Catarina que se matou, ao ser acusado de corrupção, acusação essa, agora, tida como infundada, quando as provas restaram  estruturadas? A Polícia Federal, que “concluiu”, antes de provar? A mídia, que se lambusou com a notícia do falso desvio?
O que me parece sadio e louvável, no discurso de posse do Dr. Fernando Segovia é que quer ele uma Polícia Federal, implacável, no combate à corrupção, ao tráfico de armas e de entorpecentes, mas agindo dentro dos limites da lei. Afinal de contas o arbítrio, cometido em desfavor de nosso adversário, amanhã, pode ser cometido contra nós.

Síndrome da dúvida
Oswaldo Jurema

            Durante entrevista coletiva logo após ser empossado diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia surpreendeu a todos ao criticar a ação da Procuradoria- Geral da República no caso JBS. Considerou a investigação incorretamente célere para incriminar um Chefe de Governo, sob suspeita de corrupção passiva e comprometimento em outros delitos, em decorrência da delação de um duvidoso empresário. E arrematou imperativo:
            “Se fosse sob a égide da Polícia Federal, essa investigação teria de durar mais tempo, porque uma única mala (sic) talvez não desse toda a materialidade criminosa para resolver se havia ou não crime, quem seriam partícipes e se haveria ou não corrupção.” E o conteúdo da mala? E o filme do resgate? E o grampo da delação? E a devolução do valor faltante?
            Todavia, o novo mandante da Federal revelou-se acometido, também, da síndrome da dúvida, chaga que atormenta os responsáveis em desvendar os enigmas da vida pública, mesmo quando a clarividência revela a verdade dos fatos. Onde a maior certeza é a dúvida.
            Aos exemplos, portanto: O prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel –o homem que sabia demais- foi assassinado em tocaia por seis bandidos que lhe sequestraram, torturaram e mataram.  E ainda assim se tem ‘dúvida’ até hoje: se foi assalto(!) ou queima de arquivo; o candidato à presidência, Eduardo Campos, que após longa investigação concluiu-se que estava seriamente implicado em esquemas escusos, o que não foi suficiente para dirimir a dúvida: se foi pane aérea ou pânico de figurões comprometidos; Teori Zavaski, o relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal foi outra vítima de um desastre aéreo; dias antes anunciara o término de vários processos. E pouco tempo depois o delegado que investigou o acidente, foi morto num tiroteio massacrante. Nada a ver, talvez, mas, paira a dúvida.

            Diante de obscuras controvérsias o ex-procurador-geral, Rodrigo Janot- também no rol dos dúbios- proferiu sentença fulminante: “A pergunta que não quer calar é: Segovia se inteirou disso ou ele está falando por ordem de alguém?” Ou ‘talvez fosse necessário’ ter um cadáver sob a dinheirama da mala para então se configurar crime.  Duvido que haja dúvida!”

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