Há décadas atrás – creio ter sido no governo Collor - ,
Rubens Ricúpero, uma das maiores inteligências que passou pela diplomacia
brasileira, então ocupando importante Ministério, foi apunhalado pelas costas,
por ter dito, em off, que “o que é bom a
gente mostra, o ruim, a gente esconde.” A frase apanhada fora do contexto
da conversa reservada que Ricúpero mantinha com o jornalista (da Globo), foi interpretada como ato de
esperteza e a própria emissora tratou de
demonizar Ricúpero. A frase fazia todo sentido, para o momento de instabilidade
econômica, vivida pelo País: o “bom”
acalmava o mercado; o “ruim”,
aumentava a instabilidade. Agora, o fato se repete, na mesma emissora,
envolvendo seu mais ilustre jornalista, William Waack que, às escondidas, como
convém aos canalhas, foi apanhado, sussurrando frase de conteúdo racista. Em
pouco tempo, a emissora colocou no ar, através de jornalista, que se prestou a
esse papel de capacho, matéria, execrando William Waack e se dizendo repudiar
qualquer forma de discriminação. Logo o “Globo”
que, até bem pouco tempo, onde negro só fazia papel de empregada doméstica.
Waack representa (ou representava) o que havia de melhor na “Globonews”, onde, em seu “Painel”, debatia, com intelectuais de
diferentes ideologias, os macro problemas do País. Fica, em seu lugar, o
ridículo jornal, com seus enfadonhos repórteres, reproduzindo a “voz do dono”. Um jornalista, com a
história e o estofo moral e intelectual de William Waack não pode ser jogado às
feras, por causa de infeliz frase, sussurrada, no particular. Todavia, essa
desfaçatez da “Globo” não causa
surpresa. Cresceu e se agigantou graças às benesses, concedidas pelo regime
militar, mas, esgotado aquele período, passou a ele se referir como “sombrios anos da ditadura”. Entretanto, como dizia minha falecida mãe, “nada como um dia após o outro.” Não é
que, em delação premiada, perante a Corte de Nova York, a “Globo” é
acusada de pagar propina à FIFA, para ganhar concorrência dos direitos
de transmissão de torneios internacionais? A emissora, tal qual o fazem todos
os envolvidos na “lava jato”, jurou
inocência, negou “veementemente” seu
envolvimento na falcatrua e acrescentou que “após rigorosa investigação interna, não se apurou a prática de qualquer
ilicitude.” Perguntei ao Rodolfo o que ele achava da “rigorosa investigação interna.” Ele me olhou com desprezo e,
lembrando o eterno Millôr Fernandes, fez, apenas, “há! há! há!.”
Em magnífico artigo, publicado na edição da semana passada de
“Veja”, sob o título “Um País de Chatos”, o sempre preciso e
brilhante J. R. Guzzo fulmina: ”vai se
inventado, de cima para baixo, uma sociedade mal-humorada, neurastêmica e
hostil à liberdade de expressão.” Um País de chatos, diz ele; de ressentidos,
diria o filósofo Luiz Felipe Pondé, de hipócritas, digo eu, aqui, do andar de
baixo.
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