sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Para falar de chatos, ressentidos e hipócritas



Há décadas atrás – creio ter sido no governo Collor - , Rubens Ricúpero, uma das maiores inteligências que passou pela diplomacia brasileira, então ocupando importante Ministério, foi apunhalado pelas costas, por ter dito, em off, que “o que é bom a gente mostra, o ruim, a gente esconde.” A frase apanhada fora do contexto da conversa reservada que Ricúpero mantinha com o jornalista  (da Globo), foi interpretada como ato de esperteza e  a própria emissora tratou de demonizar Ricúpero. A frase fazia todo sentido, para o momento de instabilidade econômica, vivida pelo País: o “bom” acalmava o mercado; o “ruim”, aumentava a instabilidade. Agora, o fato se repete, na mesma emissora, envolvendo seu mais ilustre jornalista, William Waack que, às escondidas, como convém aos canalhas, foi apanhado, sussurrando frase de conteúdo racista. Em pouco tempo, a emissora colocou no ar, através de jornalista, que se prestou a esse papel de capacho, matéria, execrando William Waack e se dizendo repudiar qualquer forma de discriminação. Logo o “Globo” que, até bem pouco tempo, onde negro só fazia papel de empregada doméstica. Waack representa (ou representava) o que havia de melhor na “Globonews”, onde, em seu “Painel”, debatia, com intelectuais de diferentes ideologias, os macro problemas do País. Fica, em seu lugar, o ridículo jornal, com seus enfadonhos repórteres, reproduzindo a “voz do dono”. Um jornalista, com a história e o estofo moral e intelectual de William Waack não pode ser jogado às feras, por causa de infeliz frase, sussurrada, no particular. Todavia, essa desfaçatez da  “Globo” não causa surpresa. Cresceu e se agigantou graças às benesses, concedidas pelo regime militar, mas, esgotado aquele período, passou a ele se referir como “sombrios anos da ditadura”.  Entretanto, como dizia minha falecida mãe, “nada como um dia após o outro.” Não é que, em delação premiada, perante a Corte de Nova York, a “Globo” é  acusada de pagar propina à FIFA, para ganhar concorrência dos direitos de transmissão de torneios internacionais? A emissora, tal qual o fazem todos os envolvidos na “lava jato”, jurou inocência, negou “veementemente” seu envolvimento na falcatrua e acrescentou que “após rigorosa investigação interna, não se apurou a prática de qualquer ilicitude.” Perguntei ao Rodolfo o que ele achava da “rigorosa investigação interna.” Ele me olhou com desprezo e, lembrando o eterno Millôr Fernandes, fez, apenas, “há! há! há!.”
Em magnífico artigo, publicado na edição da semana passada de “Veja”, sob o título “Um País de Chatos”, o sempre preciso e brilhante J. R. Guzzo fulmina: ”vai se inventado, de cima para baixo, uma sociedade mal-humorada, neurastêmica e hostil à liberdade de expressão.” Um País de chatos, diz ele; de ressentidos, diria o filósofo Luiz Felipe Pondé, de hipócritas, digo eu, aqui, do andar de baixo.

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