Em artigo publicado na edição de
outubro da “Revista do Advogado”, sob
o título “A difícil reforma política”,o
ilustre advogado Eduardo Muylaert, notório membro da “esquerda caviar”, lá pelas tantas, afirma que “fator importante que pesou na derrocada do governo militar foi a
péssima situação da economia no fim do regime autoritário”. O insigne
advogado e este modesto escriba pertencem a mesma geração e, assim, viveram
aqueles tempos. Muylaert, bem ao estilo da esquerda, não afirma, mas insinua
que a crise econômica de 1981, que se abateu sobre o Brasil, foi provocada por
incompetência do governo Figueiredo. Nada mais falso! A crise, na verdade,
iniciou-se no governo Geisel e “estourou”,
nas mãos de Figueiredo. Na época, 85% do petróleo, consumido no país, era
importado e, de repente, o preço do barril pulou de 02 para 14 dólares. Quase
ao mesmo tempo, a taxa de juros, nos Estados Unidos, teve um reajuste de 20%,
com reflexos em nossa dívida externa. Foi, então, que Figueiredo dispensou
Mario Henrique Simonsen, colocando, em seu lugar, Delfim Netto, que ocupava a
Pasta de Agricultura. Delfim granjeara prestígio nacional e internacional, vez
que, fora o “mago” da época mais auspiciosa da economia brasileira – governo Medici
-, quando crescemos à inimaginável taxa de 9% ao ano, sobravam empregos e o
salário mínimo equivalia a 300 dólares, equivalência jamais encontrada nos
períodos subsequentes. Delfim, graças a sua credibilidade, junto à comunidade econômica-financeira,
nacional e internacional (Clube de Paris, Banco Mundial e FMI) reequilibrou
nossas contas e, ao passar o governo, nossa economia estava estabilizada. Por
outra banda, falar em “derrocada do
governo militar”, como o faz ilustre advogado, é afastar-se da verdade
histórica. O retorno do País à normalidade democrática já estava desenhada,
desde o governo Geisel, que extinguiu o AI-5 e sancionou a Lei da Anistia,
permitindo o retorno dos exilados. Figueiredo foi ungido – contra a vontade da “linha dura” – com o compromisso de
devolver o governo ao poder civil. Quando Paulo Maluf derrotou Mario Andreazza,
na Convenção da Arena, o próprio “sistema”
começou a trabalhar pela vitória de Tancredo no Colégio Eleitoral: Delfim Netto
foi interlocutor, junto à classe empresarial e o Ministro do Exército, General
Leonidas Pires Gonçalves, aparou arestas existentes entre os militares.
Tancredo era civil confiável, tanto assim que manteve o General Leonidas, no
Ministério do Exército e, para a Pasta da Fazenda, foi Francisco Dornelles, que
servira ao governo Médici, como Secretário da Receita e ao Governo Geisel, como
Procurador Geral da Fazenda Nacional. Cumpriu-se assim, o programado: o retorno
do governo ao poder civil se deu de modo gradual e seguro. Os principais
líderes civis da época – Franco Montoro, Ulisses Guimarães e o próprio Tancredo
– sabiam que a prudência mandava que, se quisessem o Poder de volta, deveriam
seguir as regras do jogo, estabelecidas pelo “sistema militar”. Tanto assim é que, Tancredo agonizante, enquanto
se discutia quem deveria assumir, quem decidiu pelo
sucessor de Tancredo, foi o General Leonidas, representando a “voz dos quartéis”, decisão que recaiu
sobre Sarney, que sempre pertenceu ao “sistema”,
enquanto Ulisses era considerado “rebelde”.
Quem não foi testemunha ocular
daqueles tempos, poderá, em livros isentos, confirmar que os fatos se passaram
como aqui narrados. Falar em “derrocada
do regime militar”, é contar bravata, o que é típico da “esquerda caviar”.
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