sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

O “Dia da Justiça”

Saindo de casa, nesta sexta-feira, Rodolfo aborda-me: “que é da gravata, do paletó, hoje não se trabalha?” Respondo-lhe que, como se comemora o “dia da justiça”, o forum não funcionará, o que dispensa o traje oficial. Rodolfo fixa os olhos em mim e, com ar socrático, indaga: “afinal, o que é justiça?” Respondo-lhe, sintetizando  definição que remonta ao Direito Romano: “ é dar a cada um o que lhe pertence.” “E sua profissão alcança esse objetivo?”, quer saber ele, ao que retruco: “quase nunca o Direito e a Justiça conseguem marcar um encontro. Aliás, até marcam, mas o Direito, via de regra, chega atrasado, tantos os obstáculos, que encontra pelo caminho. Vou lhe dar um único exemplo, porque tenho cliente com hora marcada: faz 03 anos que busco reparação para jovem mãe, cuja única filha nasceu morta, porque o hospital (“São Luiz”, hoje, pertencendo à “Rede D’or”) negou-lhe atendimento, a que tinha direito. A prova contra o hospital é contundente e, inclusive, na esfera penal, já houve condenação, por omissão de socorro, que, para variar, recaiu sobre o atendente da noite, até, porque, como dizia, com muita sabedoria, minha falecida mãe: “o pau enverga nas costas do rico, mas quebra mesmo é no cu do pobre”. O hospital contratou o maior escritório de advocacia do Rio (para você ter ideia, o mesmo que defende Eike Batista e onde trabalha a esposa do Ministro Gilmar Mendes) e o processo, por isto ou por aquilo, não sai do lugar. Outro exemplo, para encerrar o papo: sabe aquele processo, cujos honorários permitirão nossa mudança para Arraial D’ajuda e que começou em 1995? Já ganhei em todos os Tribunais e, mesmo assim, a parte contrária, sempre contando com aqueles obstáculos, impede-me de alcançar o objetivo final. Eu e milhares de advogados poderíamos dar-lhe infindáveis exemplos deste frustrante desencontro entre o Direito e a Justiça.” Rodolfo volta à carga: “mas você não desiste, né? Lembro-me da noite, em que você chegou, sorriso aberto, até cantando, porque conseguira liberdade provisória para sua empregada, de quem, aliás, nem cobrou honorários. ” Pois é, Rodolfo, muito de quando em vez, o Direito e a Justiça conseguem se encontrar, principalmente em favor dos humildes, e aí realiza-se verdadeiro casamento real, o que reacende nosso entusiasmo... até o próximo obstáculo”.

Feliz “dia da justiça”, a todos os colegas que, em nome dela, suportam o peso da sua cruz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário