Saindo de casa, nesta sexta-feira,
Rodolfo aborda-me: “que é da gravata, do
paletó, hoje não se trabalha?” Respondo-lhe que, como se comemora o “dia da justiça”, o forum não funcionará,
o que dispensa o traje oficial. Rodolfo fixa os olhos em mim e, com ar socrático,
indaga: “afinal, o que é justiça?”
Respondo-lhe, sintetizando definição que
remonta ao Direito Romano: “ é dar a cada
um o que lhe pertence.” “E sua
profissão alcança esse objetivo?”, quer saber ele, ao que retruco: “quase nunca o Direito e a Justiça conseguem
marcar um encontro. Aliás, até marcam, mas o Direito, via de regra, chega
atrasado, tantos os obstáculos, que encontra pelo caminho. Vou lhe dar um único
exemplo, porque tenho cliente com hora marcada: faz 03 anos que busco reparação
para jovem mãe, cuja única filha nasceu morta, porque o hospital (“São Luiz”, hoje,
pertencendo à “Rede D’or”) negou-lhe
atendimento, a que tinha direito. A prova contra o hospital é contundente e,
inclusive, na esfera penal, já houve condenação, por omissão de socorro, que,
para variar, recaiu sobre o atendente da noite, até, porque, como dizia, com
muita sabedoria, minha falecida mãe: “o pau enverga nas costas do rico, mas
quebra mesmo é no cu do pobre”. O hospital contratou o maior escritório de
advocacia do Rio (para você ter ideia, o mesmo que defende Eike Batista e onde
trabalha a esposa do Ministro Gilmar Mendes) e o processo, por isto ou por
aquilo, não sai do lugar. Outro exemplo, para encerrar o papo: sabe aquele
processo, cujos honorários permitirão nossa mudança para Arraial D’ajuda e que
começou em 1995? Já ganhei em todos os Tribunais e, mesmo assim, a parte
contrária, sempre contando com aqueles obstáculos, impede-me de alcançar o
objetivo final. Eu e milhares de advogados poderíamos dar-lhe infindáveis
exemplos deste frustrante desencontro entre o Direito e a Justiça.” Rodolfo
volta à carga: “mas você não desiste, né?
Lembro-me da noite, em que você chegou, sorriso aberto, até cantando, porque
conseguira liberdade provisória para sua empregada, de quem, aliás, nem cobrou
honorários. ” Pois é, Rodolfo, muito
de quando em vez, o Direito e a Justiça conseguem se encontrar, principalmente
em favor dos humildes, e aí realiza-se verdadeiro casamento real, o que
reacende nosso entusiasmo... até o próximo obstáculo”.
Feliz “dia da justiça”, a todos os colegas que, em nome dela, suportam o
peso da sua cruz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário