Eis que, de repente, chega, dezembro, trazendo consigo o
natal. Volto à infância e me vejo na excitação da espera do presente que,
àquela época, era encontrado no sapato, ao pé da cama, na manhã do dia 25.
Invariavelmente, era bola ou revolver de espoleta. A viagem dá um salto e chego
ao natal de meus filhos, ainda pequenos, abrindo, quase com volúpia, os
pacotes, para desvendarem seus segredos. Constato, sem esforço, que, nestas
recordações, o “dono da festa” entra
muito pouco. As árvores de natal, enfeitadas, com mais ou menos detalhes, tradição
herdada dos europeus nórdicos, pois o evento religioso é verdadeiramente
representado pelo presépio, que retrata o nascimento de Jesus. Porque e para
que ele nasceu, todos o sabemos. A dúvida, que, desde remotos tempos, paira, em
corações e mentes, é se esse nascimento, a trajetória e morte de Jesus, cumpriu
o objetivo proposto: fazer com que a harmonia exista, entre os homens. Quando
ele nasceu, o povo judeu estava subjugado pelo Império Romano e, desde lá,
ininterruptamente, os homens, sem qualquer “boa
vontade”, vêm se matando, numa desmedida luta pelo poder. “vanitas, vanitates”, tudo é vaidade e, em
nome dela, todos os dias, buscamos esta
coisa intangível, chamada felicidade, mesmo que, para alcançá-la, tenhamos que
tripudiar sobre terceiros, que jamais consideramos nossos “próximos” ou “semelhantes”.
É como se Jesus, depois feito Cristo,
sentisse amargo gosto na boca, pelo vazio em que caiu seus ensinamentos. Talvez
seja por isto que, cada ano, goste menos do natal, onde emerge a hipocrisia –
sempre ela – de desejarmos “feliz natal”,
sem nem mesmo sabermos o que estamos dizendo. Por isso, nesta quadra do ano,
refugio-me na memória de tempos idos e vividos, quando era hipócrita, sem saber
que o era e achava que o Menino Jesus estava entre os presentes, recebidos e distribuídos. Tenho convicção que, nesta
época, Jesus, mais Cristo do que Jesus, olha-nos nos olhos e deixa cair furtiva
lágrima, por constatar quão longe estamos dele.
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