terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Natal sem Jesus

Eis que, de repente, chega, dezembro, trazendo consigo o natal. Volto à infância e me vejo na excitação da espera do presente que, àquela época, era encontrado no sapato, ao pé da cama, na manhã do dia 25. Invariavelmente, era bola ou revolver de espoleta. A viagem dá um salto e chego ao natal de meus filhos, ainda pequenos, abrindo, quase com volúpia, os pacotes, para desvendarem seus segredos. Constato, sem esforço, que, nestas recordações, o “dono da festa” entra muito pouco. As árvores de natal, enfeitadas, com mais ou menos detalhes, tradição herdada dos europeus nórdicos, pois o evento religioso é verdadeiramente representado pelo presépio, que retrata o nascimento de Jesus. Porque e para que ele nasceu, todos o sabemos. A dúvida, que, desde remotos tempos, paira, em corações e mentes, é se esse nascimento, a trajetória e morte de Jesus, cumpriu o objetivo proposto: fazer com que a harmonia exista, entre os homens. Quando ele nasceu, o povo judeu estava subjugado pelo Império Romano e, desde lá, ininterruptamente, os homens, sem qualquer “boa vontade”, vêm se matando, numa desmedida luta pelo poder. “vanitas, vanitates”, tudo é vaidade e, em nome  dela, todos os dias, buscamos esta coisa intangível, chamada felicidade, mesmo que, para alcançá-la, tenhamos que tripudiar sobre terceiros, que jamais consideramos nossos “próximos” ou “semelhantes”.  É como se Jesus, depois feito Cristo, sentisse amargo gosto na boca, pelo vazio em que caiu seus ensinamentos. Talvez seja por isto que, cada ano, goste menos do natal, onde emerge a hipocrisia – sempre ela – de desejarmos “feliz natal”, sem nem mesmo sabermos o que estamos dizendo. Por isso, nesta quadra do ano, refugio-me na memória de tempos idos e vividos, quando era hipócrita, sem saber que o era e achava que o Menino Jesus estava entre os presentes, recebidos  e distribuídos. Tenho convicção que, nesta época, Jesus, mais Cristo do que Jesus, olha-nos nos olhos e deixa cair furtiva lágrima, por constatar quão longe estamos dele.

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