Velho gosta de invocar ‘’seu
tempo’’, como tendo sido o melhor e realmente o foi, pelo menos para ele,
pela singela razão que, no ‘’seu tempo’’,
ele era jovem ou, pelo menos, ainda não ingressara na ‘’pior idade’’, para usar expressão cunhada pelo queridíssimo
amigo, Oswaldo Jurema. Temos memória seletiva, o que nos faz deletar momentos
desagradáveis, como se nossa vida, tivesse sido um constante navegar em águas
calmas. É indiscutível que, no plano objetivo, tudo melhorou e com espantosa
velocidade. Para não me estender em exemplos, fico no campo da medicina, onde a
pluralidade de exames laboratoriais e por imagens, permite que o médico
diagnostique e trate da doença que atormenta o paciente, com mais precisão e
rapidez. A duração da vida provável já ultrapassou os 70 anos e, segundo dados
estatísticos, em menos de 10 anos, cerca de 30% da população brasileira terá
mais de 60 anos. Todavia, como não há bônus sem ônus, este avanço cientifico e
tecnológico tem trazido problemas, de difícil solução. O aumento da expectativa
de vida, além de comprometer os recursos da previdência social, exige uma saúde
pública, muito aquém do orçamento do governo. Os chamados planos de saúde, com
raríssimas exceções, vivem em estado de insolvência, apesar de remunerarem mal os
médicos e hospitais e cobrarem preço elevado de seus associados. Como resolver
tão complexa equação? No campo da educação, a situação não é melhor. Apesar de
toda a tecnologia, colocada à disposição de professor e aluno, esse último
chega ao final do segundo grau, sem a preparação adequada e a maioria nem mesmo
é capaz de identificar a profissão, para a qual se sente vocacionado. A
multiplicidade de cursos superiores, as mais das vezes, sem correlação com o
mercado de trabalho, transforma-se em frustração, quando, ao receber seu
diploma, o formando não identifica o que fazer com ele. Exemplifico dolorosa experiência que vivo, neste momento:
postei, na internet, anúncio, contratando advogado, recém-formado, mas já
inscrito na Ordem, para trabalhar, em meio expediente. Pois, em menos de 24 horas,
já tinha recebido cerca de 50 currículos, alguns, cujos candidatos têm 10 ou
mais anos de formados. Por que isto acontece? Merece observar que só o Estado
de São Paulo possui número maior de Faculdades de Direito do que todos os
países do mundo, reunidos. Por óbvio, tantos profissionais, de duvidosa
formação, não conseguem ser absorvidos pelo mercado de trabalho, daí resultando
o aviltamento da profissão. E, infelizmente, este espantoso dado estende-se
para outros cursos superiores, inclusive para a medicina, com escolas
autorizadas a funcionar, até em recônditas cidades do interior, onde não há,
nem mesmo, hospital, devidamente equipado, para estágio e residência médica.
Ninguém pode ser contra a democratização do ensino superior, mas todos não
queremos profissionais, precariamente formados, a colocarem em risco nossas
vidas e nossos interesses. Assim, vamos vivendo a perplexidade de uma vida que
poderia ser mais fácil, mas que, malgrado todo o avanço tecnológico e
cientifico, torna-se cada vez mais difícil. Esta é a razão pela qual o velho,
com mais freqüência, ao contemplar as dificuldades dos jovens, apenas murmura,
‘’no meu tempo...’’
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