sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Tempos idos e atuais

Velho gosta de invocar ‘’seu tempo’’, como tendo sido o melhor e realmente o foi, pelo menos para ele, pela singela razão que, no ‘’seu tempo’’, ele era jovem ou, pelo menos, ainda não ingressara na ‘’pior idade’’, para usar expressão cunhada pelo queridíssimo amigo, Oswaldo Jurema. Temos memória seletiva, o que nos faz deletar momentos desagradáveis, como se nossa vida, tivesse sido um constante navegar em águas calmas. É indiscutível que, no plano objetivo, tudo melhorou e com espantosa velocidade. Para não me estender em exemplos, fico no campo da medicina, onde a pluralidade de exames laboratoriais e por imagens, permite que o médico diagnostique e trate da doença que atormenta o paciente, com mais precisão e rapidez. A duração da vida provável já ultrapassou os 70 anos e, segundo dados estatísticos, em menos de 10 anos, cerca de 30% da população brasileira terá mais de 60 anos. Todavia, como não há bônus sem ônus, este avanço cientifico e tecnológico tem trazido problemas, de difícil solução. O aumento da expectativa de vida, além de comprometer os recursos da previdência social, exige uma saúde pública, muito aquém do orçamento do governo. Os chamados planos de saúde, com raríssimas exceções, vivem em estado de insolvência, apesar de remunerarem mal os médicos e hospitais e cobrarem preço elevado de seus associados. Como resolver tão complexa equação? No campo da educação, a situação não é melhor. Apesar de toda a tecnologia, colocada à disposição de professor e aluno, esse último chega ao final do segundo grau, sem a preparação adequada e a maioria nem mesmo é capaz de identificar a profissão, para a qual se sente vocacionado. A multiplicidade de cursos superiores, as mais das vezes, sem correlação com o mercado de trabalho, transforma-se em frustração, quando, ao receber seu diploma, o formando não identifica o que fazer com ele. Exemplifico  dolorosa experiência que vivo, neste momento: postei, na internet, anúncio, contratando advogado, recém-formado, mas já inscrito na Ordem, para trabalhar, em meio expediente. Pois, em menos de 24 horas, já tinha recebido cerca de 50 currículos, alguns, cujos candidatos têm 10 ou mais anos de formados. Por que isto acontece? Merece observar que só o Estado de São Paulo possui número maior de Faculdades de Direito do que todos os países do mundo, reunidos. Por óbvio, tantos profissionais, de duvidosa formação, não conseguem ser absorvidos pelo mercado de trabalho, daí resultando o aviltamento da profissão. E, infelizmente, este espantoso dado estende-se para outros cursos superiores, inclusive para a medicina, com escolas autorizadas a funcionar, até em recônditas cidades do interior, onde não há, nem mesmo, hospital, devidamente equipado, para estágio e residência médica. Ninguém pode ser contra a democratização do ensino superior, mas todos não queremos profissionais, precariamente formados, a colocarem em risco nossas vidas e nossos interesses. Assim, vamos vivendo a perplexidade de uma vida que poderia ser mais fácil, mas que, malgrado todo o avanço tecnológico e cientifico, torna-se cada vez mais difícil. Esta é a razão pela qual o velho, com mais freqüência, ao contemplar as dificuldades dos jovens, apenas murmura, ‘’no meu tempo...’’

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