Ao longo de quase meio século de exercício da advocacia,
principalmente criminal, o maior desafio, que encontro, ao defender um cliente,
é fazê-lo entender que, diante das modernas técnicas de investigação, construir
uma mentira, para justificar conduta delituosa, é terreno pantanoso que, quase
sempre, leva a resultado desastroso. Como é de larga sabença, a missão do
advogado não é transformar o criminoso em inocente, mas, através de argumentos
sólidos, justificar sua conduta, levando-o à absolvição ou a uma pena mitigada.
Faço esta introdução, pela leitura – e apenas pela leitura – do noticiário,
sobre o intrincado caminho, adotado na defesa do ex-presidente Lula, nos
rumorosos casos do triplex do Guarujá e do sítio de Atibaia. Em um primeiro
momento, optou-se pelo total não envolvimento do ex-presidente nos fatos. À
medida que essa negativa se desfazia, diante de eloqüentes indícios contrários,
foi-se tentando ‘’consertar’’ a
estratégia inicial, inclusive propondo medidas judiciais, que impedissem o
depoimento do ex-presidente e sua esposa. Sem me imiscuir na estratégia de seus
ilustres e competentes patronos, mas, a meu exclusivo juízo, tais medidas,
quando rejeitadas, transformam-se em verdadeiro ‘’tiro no pé’’. Leio que Lula, que negava qualquer relação com o
sítio de Atibaia, agora afirma que a reforma do mesmo foi, a seu pedido, pago
por seu amigo Bumlai, preso na ‘’lava
jato’’. Se a intenção era afastar Lula de Sergio Moro,nunca ambos estiveram
tão próximos. Outro equivoco é a noticia – e só a noticia – de que Lula está
reunindo os melhores criminalistas do País, para defendê-lo. Egos à arte, como
harmonizar defesa consistente, com várias cabeças pensantes? O Direito não é
ciência exata, o que permite ver a questão, a ser enfrentada, de ângulos
diferentes. Os advogados, cujos nomes estão divulgados na mídia, são, cada
qual, de incontestável competência, em condições, pois, de produzir excelente
trabalho. Agora, sempre a meu juízo, juntar vários criminalistas, em torno do
mesmo tema, pode ‘’salgar’’ a comida,
por si já difícil de temperar.
segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016
Tempo de Quaresma
Vivemos tempo de quaresma, a exigir reflexão e jejum.
Todavia, é tempo vivido por minoria, mesmo de cristãos, mergulhados em seus
afazeres cotidianos, porque a barra tá pesada pra todo mundo, mas que, na minha
gasta memória, remete-me a minha infância. Encerrado o carnaval, ingênuo, à
época, em cidade do interior, começava a quaresma, com todo o seu ritual. Nas
Igrejas, as imagens dos santos eram cobertas com panos roxos e as rádios apenas
tocavam músicas sacras. Às 18 horas, o serviço de alto falante, instalado na
praça principal, tocava a “Ave Maria’’
e, a seguir, o locutor – Lourival Pechir era seu nome – lia uma mensagem,
alusiva à data. O único cinema da cidade exibia, durante todo o período
quaresmal, o mesmo filme, sobre a ‘’paixão
de Cristo’’, com lotação completa todos os dias, com as pessoas saindo,
olhos vermelhos do pranto derramado, durante a exibição. Durante a semana
santa, propriamente dita, o ritual seguia regras mais rígidas: não se podia
falar alto, palavrão, então, nem pensar, a carne era banida e os bares fechavam
suas portas, ao anoitecer. Mulheres, sobriamente vestidas e véu, cobrindo-lhes
a cabeça, organizavam grupos de oração, que percorriam as residências, rezando
o terço. Na sexta-feira, chamada ‘’da
paixão’’, nada funcionava, inclusive as casas, que não eram arrumadas e o
jejum era completo, quebrado, apenas, após a procissão do ‘’Senhor Morto’’. Às 15 horas – horário que se presume Cristo ter
expirado -, em frente à Igreja Matriz, encenava-se a ‘’paixão de Cristo’’, que
ia da ‘’última ceia’’, até o momento
que Ele é descido da cruz e depositado nos braços da mãe. Daí, seguia-se a
procissão, acompanhada por quase toda a população. Imagens gravadas tão fortes
em mim que, meio século depois, modificam meu comportamento, neste período,
como me abster das comidas e bebidas, que me dão prazer, mesmo sabendo que isto
é de pouca valia, porque não mitiga os pecados cometidos, durante o ano. Acho
cada vez mais difícil amar o próximo, principalmente quando ele não está tão
próximo assim e, muito mais principalmente, quando esse próximo está lá em
Brasília, desgraçando nosso País. O ser humano, ao contrário do que pretendia
Jesus, é movido pelo ressentimento, que parece brotar do inconsciente. De
qualquer maneira, é tempo de quaresma, de lembrar o sacrifício que Cristo fez
por nós. Tempo de exercitarmos a caridade, seja estendo nossa mão ao desvalido,
que repousa, abatido, física ou moralmente, à beira da calçada, seja levando um
átimo de afeto a quem sofre.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016
Tempos idos e atuais
Velho gosta de invocar ‘’seu
tempo’’, como tendo sido o melhor e realmente o foi, pelo menos para ele,
pela singela razão que, no ‘’seu tempo’’,
ele era jovem ou, pelo menos, ainda não ingressara na ‘’pior idade’’, para usar expressão cunhada pelo queridíssimo
amigo, Oswaldo Jurema. Temos memória seletiva, o que nos faz deletar momentos
desagradáveis, como se nossa vida, tivesse sido um constante navegar em águas
calmas. É indiscutível que, no plano objetivo, tudo melhorou e com espantosa
velocidade. Para não me estender em exemplos, fico no campo da medicina, onde a
pluralidade de exames laboratoriais e por imagens, permite que o médico
diagnostique e trate da doença que atormenta o paciente, com mais precisão e
rapidez. A duração da vida provável já ultrapassou os 70 anos e, segundo dados
estatísticos, em menos de 10 anos, cerca de 30% da população brasileira terá
mais de 60 anos. Todavia, como não há bônus sem ônus, este avanço cientifico e
tecnológico tem trazido problemas, de difícil solução. O aumento da expectativa
de vida, além de comprometer os recursos da previdência social, exige uma saúde
pública, muito aquém do orçamento do governo. Os chamados planos de saúde, com
raríssimas exceções, vivem em estado de insolvência, apesar de remunerarem mal os
médicos e hospitais e cobrarem preço elevado de seus associados. Como resolver
tão complexa equação? No campo da educação, a situação não é melhor. Apesar de
toda a tecnologia, colocada à disposição de professor e aluno, esse último
chega ao final do segundo grau, sem a preparação adequada e a maioria nem mesmo
é capaz de identificar a profissão, para a qual se sente vocacionado. A
multiplicidade de cursos superiores, as mais das vezes, sem correlação com o
mercado de trabalho, transforma-se em frustração, quando, ao receber seu
diploma, o formando não identifica o que fazer com ele. Exemplifico dolorosa experiência que vivo, neste momento:
postei, na internet, anúncio, contratando advogado, recém-formado, mas já
inscrito na Ordem, para trabalhar, em meio expediente. Pois, em menos de 24 horas,
já tinha recebido cerca de 50 currículos, alguns, cujos candidatos têm 10 ou
mais anos de formados. Por que isto acontece? Merece observar que só o Estado
de São Paulo possui número maior de Faculdades de Direito do que todos os
países do mundo, reunidos. Por óbvio, tantos profissionais, de duvidosa
formação, não conseguem ser absorvidos pelo mercado de trabalho, daí resultando
o aviltamento da profissão. E, infelizmente, este espantoso dado estende-se
para outros cursos superiores, inclusive para a medicina, com escolas
autorizadas a funcionar, até em recônditas cidades do interior, onde não há,
nem mesmo, hospital, devidamente equipado, para estágio e residência médica.
Ninguém pode ser contra a democratização do ensino superior, mas todos não
queremos profissionais, precariamente formados, a colocarem em risco nossas
vidas e nossos interesses. Assim, vamos vivendo a perplexidade de uma vida que
poderia ser mais fácil, mas que, malgrado todo o avanço tecnológico e
cientifico, torna-se cada vez mais difícil. Esta é a razão pela qual o velho,
com mais freqüência, ao contemplar as dificuldades dos jovens, apenas murmura,
‘’no meu tempo...’’
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016
A ditadura da toga ataca outra vez
Leio, com indizível terror jurídico, que o Supremo Tribunal
Federal, por maioria de votos, decidiu que réu condenado em segunda instancia
(Tribunais Estaduais e Regionais) já deva começar a cumprir a pena,
independentemente dos recursos impetrados junto ao Superior Tribunal de Justiça
e ao próprio Supremo. Não vou deitar falação jurídica, mas falar do devido
processo legal que tem por escopo principal assegurar o primado da justiça e do
Direito. Apenas lembro que o réu, primário, com endereço certo, tem o direito
de recorrer em liberdade, segundo norma expressa do Código de Processo Penal e,
muito mais, nossa Constituição Federal assevera que qualquer cidadão somente
será considerado culpado, após a sentença condenatória ‘’transitar em julgado’’, isto é, quando aquela sentença não mais
for suscetível a qualquer recurso. A esdrúxula decisão do Supremo demonstra que
a ‘’ditadura da toga’’ volta a funcionar com inusitada virulência, não
identificada nem mesmo nos mais duros dias do regime militar. O Poder Judiciário
não legisla, não cria leis, atribuição exclusiva do Poder Legislativo. Assim,
jogando, na lata do lixo jurídico, sua missão de ‘’guardião da Constituição’’,
o Supremo invade seara própria do Legislativo, suprimindo norma explicita do
Código de Processo Penal e, o que é pior, da própria Carta Magna. A presunção
de inocência, prevista em nosso ornamento jurídico, é garantia de liberdade
individual, que deve ser preservado, até que se exaure, por completo, o direito
de defesa do réu. A justificativa de que a existência de múltiplos recursos
pode inviabilizar a prisão do réu, é abjeto sofisma. Os recursos foram criados
exatamente para dar segurança jurídica ao cidadão. Se os há em demasia, que os
reduzam, através de modificação na legislação, o que só pode ser efetivado pelo
Poder Legislativo. Não fora assim, qual o sentido da existência do Superior
Tribunal de Justiça e do próprio Supremo? Imaginemos a seguinte hipótese,
absolutamente plausível, a partir desta aberração jurídica, agora instalada:
determinado réu, condenado em segunda instância (pelos Tribunais Estaduais), é
preso e recolhido a uma destas masmorras, que são as prisões brasileiras.
Todavia, contra tal condenação recorre ao Superior Tribunal de Justiça. Depois
de lapso de tempo não inferior a 02 anos, o STJ julga o recurso e absolve o
réu. Quem recomporá o dano sofrido pelos 02 anos de sua prisão? Qual o preço da
liberdade, das seqüelas deixadas por uma prisão injusta e indevida? Anoto que o
juiz Sergio Moro manifestou-se, com eloqüência, a favor da decisão do Supremo.
Não podia ser diferente, já que ele é, hoje, o maior representante desta ‘’ditadura da toga’’, que vai colocando o
sistema judicial brasileiro ao lado do sistema nazista e do stalinista. Como
advogado, vejo a lei ser esfacelada. Como cidadão, constato que a liberdade
ficou comprometida. Espero que a Ordem dos Advogados não se omita, diante de
tamanho descalabro!
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016
Investigação não é sinônimo de condenação
O PT e, agora a própria presidente, tem procurado blindar
Lula, afirmando serem injustas as investigações, envolvendo o triplex do
Guarujá e o sitio de Atibaia. Convém esclarecer que a investigação policial é
mero procedimento administrativo, onde se coletam provas e, uma vez concluído
tal procedimento, é ele enviado ao Ministério Público que tem as seguintes
alternativas: a) devolve o procedimento (que recebe o nome de Inquérito
Policial) à autoridade policial para complementação da prova; b) requer ao juiz
o arquivamento do Inquérito, por considerar insubsistentes as provas produzidas;
c) oferece denuncia contra o averiguado, por considerar que há, pelo menos
indícios da prática de crime. Por óbvio, qualquer cidadão está sujeito a ser
investigado, independentemente de sua condição socioeconômica. Para tanto,
basta que haja ‘’indícios’’ da existência do ilícito. ‘’Indícios’’, em bom
vernáculo, significa ‘’vestígios’’, ‘’rastros’’ da prática delitiva. Ora, no
caso do ex-presidente Lula, os rastros deixados, quer no triplex do Guarujá,
quer no sítio de Atibaia, permitem, melhor, exigem a instauração de
procedimento investigativo, que, como já salientamos, é fase preparatória para
instauração ou não do processo penal. Se esses ‘’rastros’’ não chegaram a Lula
ou não indicarem a prática de ilícito penal, o inquérito será arquivado. O
procedimento investigativo é ato discricionário da autoridade policial, cujos
limites são rigidamente fixados pela lei. No caso de Lula, seus excelentes
advogados estarão atentos para que a discrição não se transforme em arbítrio,
que é a deturpação do poder discricionário. Lula, como homem público que,
inclusive, acena com a possibilidade de voltar a disputar a presidência da
República, deve ser o mais interessado na apuração dos fatos. Concluindo-se
pela inexistência de conduta ilícita – como ele e o PT sustentam – receberá
verdadeira ‘’certidão de honestidade’’, este desusado atributo, que ele alega
ter recebido, como única herança, de sua mãe ‘’analfabeta’’. Agora, o ‘’jus
esperniandi’’, conduta adotada pelo ex-presidente e seus ‘’companheiros’’,
pretendendo dinamitar as investigações como, por exemplo, ao promover
manifestações de rua e chegar ao extremo de propor medida judicial para não
depor sobre eventuais irregularidades, na compra e reforma do triplex do
Guarujá, só faz reforçar as suspeitas de que ‘’há algo de podre no reino da
Dinamarca’’.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2016
Começar de novo...
É
tempo e hora de desejar feliz ano novo aos prezados amigos. Agora, que a
‘’grande ilusão do carnaval’’ evaporou-se, é hora de entrar, pra valer, na
selva e... salve-se quem puder. Enquanto janeiro enchia as praias, nosso PIB
continuava se afundando, a zika a ameaçava as olimpíadas e o Lula se afogava em
vastas ondas de corrupção, que se espraiavam no Guarujá, chegando à Atibaia.
Está mais do que provado que a campanha presidencial da dupla Dilma/Temer foi
abastecida com recursos ilícitos, desviados da Petrobrás, o que obriga o TSE a
mandar ambos para casa e realizar nova eleição. A origem da crise brasileira
está na falta de confiabilidade neste (des) governo. Vejam o exemplo do Japão
que instituiu juros negativos, como forma de compelir a população a consumir e
investir. Medida tão radical só é possível, onde a administração pública goza
da confiança e do respeito da população, substantivos pra lá de abstratos, em
nosso amado ‘’bananil’’. Meu cachorro lê, com absoluto tédio, a
notícia, ditada pelo Ministro Jacques Wagner, segundo a qual o governo vai
multar proprietários de imóveis fechados, onde possam ser detectados focos do ‘’aedes aegyti’’. Observou meu cachorro,
com aquele ar superior de pastor alemão, que a grande maioria dos locais de
reprodução do famigerado mosquito, situa-se onde não há rede de esgoto, que
corre a céu aberto. Mais um gol contra. No ultimo final de semana, o glorioso
exercito nacional foi à rua participar da campanha de combate ao mosquito. Em
que consistiu tal participação? Na simplória distribuição de folhetos
explicativos dos métodos preventivos, a serem utilizados. Melhor fora se nossos
soldados visitassem as residências e os edifícios para identificarem focos de
reprodução do mosquito, orientando os moradores. Desconfiamos – eu e meu
cachorro – que o governo, quebrado, precisando arrancar ‘’algum’’, prefere a multa. Lemos – eu e meu cachorro – que a
presidente, mal acordou e já ligou para Jaques Wagner querendo saber que proveito
se poderia tirar da epidemia. A idéia da multa fez nossa dirigente dar pulos de
alegria. E a multa tem que ser federal, para que os Estados e Municípios não
queiram tirar proveito. No sentindo oposto, limpo e legitimo, a CNBB, seguindo
as diretrizes traçadas pelo Papa Francisco, em sua encíclica ‘’Laudato Si’’ – sobre o cuidado da casa
comum, sugere que o Executivo-federal, estadual e municipal – inclua ‘’saneamento’’ entre direitos
fundamentais.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016
Mensagem de aniversário
Sem querer ser cabotino e mesmo sem consultar a autora,
queridíssima amiga de mais de meio século, que lá no começo foi mais que amiga,
retransmito, pela beleza, profundidade e reflexão exigida, os cumprimentos que
me foram dirigidos quando do meu aniversário. Além de refrigério e demonstração
de bem querer, foi lição de vida para quem, com inquietude e sem mais sonhos
por sonhar, aprofundou-se mais na “pior
idade”.
Saul querido,
Lindo dia ensolarado com um belo céu azul. À beira
da piscina, água fria, tomando uma cervejinha gelada, olhando os
passarinhos brincando no jardim. Meu panorama do dia de seu aniversário.
Pensei em como lhe cumprimentar pela melhor
idade. Mas que bobagem essa de melhor idade. Não posso ser falsa, não
existe isso. Dentro do contexto poderemos até dizer isso, mas seco assim, fica
brega e surreal.
Melhor idade foi quando você brincava na rua, sem
preocupações em sua Teófilo Otoni, talvez empinando pipa, talvez correndo,
talvez.... Voltava depois para sua casa onde a família o esperava. Boa época.
Melhor idade foi quando seu peito ficou arfando de
susto de vir para uma cidade grande, num lugar desconhecido, para encontrar
pessoas desconhecidas. Que susto! Mas veio, viu e venceu. Venceu e fez amigos,
se destacou, fez parte de um grupo especial. Melhor idade era poder ir em grupo
tomar café na Padaria.
Melhor idade foi nos conhecermos, termos
nossos amigos, nossos bailinhos, nossos professores que nos enalteciam.
Que época saudosa e linda. Época em que éramos o máximo.
Melhor idade foi quando você foi pai e depois pode
criar seus filhos e torná-los gente de bem que também hoje já
constituíram família. Melhor idade foi você ir com a Aline para a Disney
brincar com ela e a sua criança interna.
Melhor idade é quando você olha para trás e
percebe que você cumpriu a sua parte da melhor forma possível.
Melhor idade é você ter uma profissão em que também
se destacou e entre acertos e erros, estão todos salvos.
Melhor idade é você, mais sossegado, poder escrever
seus livros, suas crônicas. Aí sim posso dizer que esta á a melhor idade, até
por que tanto quanto se sabe é a única época em que estamos vivendo.
Com todo o meu carinho desejo a você uma saudável
melhor idade. Que os ventos sejam suaves, a chuva fresca, céu ensolarado e
noite estrelada.
Com carinho
Sônia
P.S. como não posso deixar de ser prosaica, não
enviei esta “missiva” a tempo por que meu computador faleceu na sexta feira e
só foi consertado hoje. A carta estava escrita na minha cabeça.
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016
Um aniversário qualquer
Depois de uma noite agitada por ininterruptos pesadelos, Luiz
Claudio acordou, com estranha sensação, no corpo e na alma. Era dia de seu
aniversário, data que preferia esquecer. Na solidão do apartamento, roupa
espalhada pelo chão, restos de comida no prato e na panela, seu primeiro
pensamento foi para Maria Clara. Logo, logo ela telefonaria, desejando-lhe
felicidades, como se ela nada tivesse a ver com aquele estado de desapego, em
que se encontrava. Um dia, ela simplesmente jogou as roupas dentro da mala,
roçou-lhe o rosto com os lábios e saiu para nunca mais. Quase 5 anos depois,
voltou a ligar-lhe, apenas no dia do aniversário, para dizer aquelas baboseiras
de sempre, como se eles não tivessem vivido tórrida historia de amor, que ela
insistia em dizer que, para ele, era apenas sexo, como se as duas coisas, amor
e sexo, não se fundissem. Resolveu que hoje não falaria com ninguém,
principalmente com Maria Clara, porisso tirou o telefone da tomada e desligou o
celular. Resolveu que passaria o dia na praia, não na sua praia, porque não
queria encontrar conhecido, mas na mais distante possível. Todavia, ao abrir a
cortina, chovia e o céu estava coberto de pesadas nuvens cinzentas, como sua
alma. No banheiro, olhou-se no espelho e teve um susto: a imagem refletida era
a dele menino, cabeça raspada, menos no topete. Menino sem passado ou futuro,
apenas o presente, com o futebol de rua, o banho no rio e a matiné do domingo.
Voltou para a cama atordoado. Talvez não acordara e o pesadelo se transformara
em sonho. Fechou os olhos, mas o barulho da chuva, agora mais intensa, trazia a
realidade para dentro do quarto. Voltou ao espelho, que agora refletia a imagem
de um rapaz, com seus vinte e poucos anos, recebendo seu diploma de faculdade
e, de cujos olhos emergia um misto de medo e esperança. Mais perplexo ainda,
andou pela sala, foi até a cozinha, bebeu um resto de café adormecido e sentou
defronte à janela, olhando a chuva molhar a rua, quase deserta, naquela inútil
manhã de domingo. Pensou em sua vida, seus ganhos e perdas, principalmente em
Maria Clara, que perdera, pela sua incapacidade de demonstrar que era muito
mais do que sexo. Quase em pânico, voltou ao espelho. Agora, a imagem refletida
era de um velho, absurdamente velho, olhos embaçados, pálpebras arqueadas e
ralos fios de cabelos brancos, em desalinho. Numa fração de segundos, as três
imagens, do menino, do jovem e do velho se superpuseram, dando-lhe a exata
dimensão do tempo, de todos os tempos, como a dizer-lhe, sem palavras, só com
imagens, que seu tempo acabara. Calmamente, como se cumprisse um ritual
ensaiado, Luiz Claudio trocou de roupa, tomou o elevador, deu bom-dia ao
porteiro, atravessou a rua e, serenamente, caminhou em direção ao mar.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016
Diálogos pra lá de prováveis
Cena 01 (28.01.2016)
Dilma: ‘’Lula,
meu querido, estou sem rumo. Logo, logo o Congresso volta, vai ser chumbo pra
todo lado e, sem o ajuste fiscal acabo sendo despejada.”’
Lula: ‘’calma,
minha flor, o problema é que você é muito turrona, não ouve ninguém, quer
resolver tudo sozinha, acha que sabe tudo. Por que você não se aconselha com o
Delfim, que sabe tudo de economia, tem a confiança do empresariado e, apesar do
peso, tem tremendo jogo de cintura?’’
Dilma: ‘’mas será que ele me atende, ele, que trabalhou nos governos militares
e eu, do outro lado, lutando para derrubá-los?’’
Lula: ‘’é
claro que ele atende, não está preso ao passado. Até me disse, uma vez que era
socialista Fabiano. Não sei bem quem é esse tal de Fabiano, pelo jeito deve ter
sido professor do homem e meio chegado a comunista. O Delfim é gente boa e
muito me orientou, quando assumi o governo. Ele me ensinou, por exemplo, que
comercio exterior não é a venda dos produtos por ambulantes, fora das lojas,
como eu pensava. O pessoal ia lá no meu gabinete e falava em ‘commodities’’ e
‘’produtos primários’’ e eu achava que estavam falando de pessoas acomodadas
que só fizeram o curso primário. Eu até ficava meio na bronca, eu que mal
completei o curso primário, mas nunca fui acomodado. Aí, o Delfim me explicou
e, na época, eu entendi, mas já me esqueci, só sei que tem a ver com negociação
de produtos agropecuários, minérios e outras coisas. Outra vez, vieram me falar
que os juros dependiam de uma reunião do Copom. Fiquei apavorado, achando que
tinha a ver com o DOPS. Liguei pro Tuma, que ainda tava vivo e, como não o
encontrei, liguei pro Delfim. Dei um suspiro de alivio, quando ele me explicou
que é um órgão do Banco Central que define a política da taxa de juros. Gente
fina o Delfim. Se hoje posso cobrar 200 mil dólares por palestra, devo muito a
ele. Querida, liga, pode usar meu nome, que ele vai ajudar você a sair dessa
roubada.’’
Cena 02 (29.01.2016)
Dilma: ‘’Gostaria
de falar com o Ministro Delfim Netto?’’
Secretária do Delfim
(com voz de ‘’poucos amigos’’): ‘’quem quer falar
com ele? Ele está ocupado, não sei se vai poder atender!’’
Dilma: ‘’Diga que é a Dilma!’’
Secretária (já perdendo
a pouca paciência): ‘’Dilma de onde, minha senhora? Você
é jornalista, vendedora?’’
Dilma: ‘’Eu
sou a Dilma, presidente da República.’’
Secretária: ‘’Ah
bem, mas a senhora liga daqui a meia hora, porque, agora, ele está falando com
o José Paulo, da rádio Bandeirantes e, quando fala com esse jornalista, não
atende nem o Papa’’.
Dilma (meia hora
depois): ‘’Será que agora dá pra falar com o Ministro?’’
Secretária: ‘’Vou passar a ligação, mas vê se não demora, porque ele vai provar
ternos e o alfaiate já está esperando.’’
Dilma: ‘’Ministro, obrigada por me atender, mas estou confusa, o Nelson é
fraquinho e o Lula sugeriu que eu consultasse o senhor’’.
Delfim: ‘’Estou
às ordens, presidente. Pra começar, a senhora deve comparecer à sessão do
Congresso, fazer as reverencias de praxe e, com humildade, conclamar deputados
e senadores a fazerem parceria com o governo, para superar a crise. Sobre as
questões pontuais, quando a senhora vier a São Paulo, passe aqui, no Pacaembu
(não, não é no estádio, é no meu escritório), que eu lhe dou o caminho das
pedras.’’
Dilma: ‘’Obrigada,
Ministro e desculpe pelo passado.’’
Delfim: ‘’Não
tem de que, presidente, afinal, à época a senhora era muito jovem e jovem é
inconseqüente mesmo.’’
Pano Rápido: Dilma, na sessão solene do Congresso Nacional: ‘’Senhores e Senhoras Senadores e Deputados: Conclamo V Excias. a
formarem parceria com o governo, objetivando superarmos a crise econômica que
nos assola.’’
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016
A eleição norte-americana
Quando olhamos o cenário político norte-americano, chegamos a
nos conformar com a mediocridade do nosso. Pelo Partido Republicano, disputam a
indicação o mega empresário Donald Trump e o Senador Ted Cruz. O primeiro é um megalomaníaco
bilionário, cuja maior proposta é construir um magnífico muro, em torno da
fronteira com o México, a fim de evitar a entrada ilegal de imigrantes. Mais,
propõe expulsar 06 milhões desses, que existem no País. E, para proteger a indústria
nacional, pretende aumentar, significadamente, impostos sobre produtos vindos
da China. O Senador Ted Cruz, representante do Estado do Texas, integra a ala
mais conservadora do partido, o ‘’tea party’’. Propõe bombardear o Estado
Islâmico e, internamente, acabar com os subsídios aos planos de saúde, dura
conquista de Obama. Pelo lado democrata, disputam a indicação Hilary Clinton,
ex-primeira dama e corna, mundialmente reconhecida como tal, com um discurso
intervencionista do estado nas relações privadas, como, por exemplo, restringir
a venda e uso de armas de fogo. O seu oponente, Senador Bernie Sanders,
identifica-se como socialista, o que chega a ser excrescência, no País mais
capitalista do mundo. Pretende controlar bancos e universalizar o sistema de
saúde, o que aumentaria em muitos bilhões de dólares a dívida interna do País.
A se confirmarem as pesquisas, o páreo eleitoral ficará entre Ted Cruz e Hilary
Clinton, com mais chances de vitoria para a segunda, que tem a máquina do
governo, a seu lado. Como, nos Estados Unidos, o voto não é obrigatório,
estima-se que apenas 40% dois cidadãos irão às urnas, o que significa que o
presidente eleito, quem quer que seja, governará com o beneplácito da minoria
da população. Como pode o mais importante País do mundo funcionar com
Presidente tão medíocre, qualquer dos quatro que for eleito? Em primeiro lugar,
porque o Congresso movimenta-se, sem cambalachos com o Executivo. A existência
de apenas dois partidos, com linha ideológica bem definida, faz com que o jogo
seja mais limpo. Em segundo lugar e principalmente, porque é a iniciativa
privada quem comanda o espetáculo, sem que o poder público e a burocracia
entravem o desenvolvimento econômico. E, em terceiro lugar, porque a lei é para
valer, tanto para o rico, quanto para o pobre. Lá, realmente, ‘’todos são
iguais perante a lei’’.
terça-feira, 2 de fevereiro de 2016
‘’Começar de novo’’
Hoje, 02 de fevereiro, dia em que se homenageia Iemanjá e
abre, oficialmente, o carnaval da Bahia (sim, porque o carnaval baiano, na
verdade, dura o ano inteiro), as instituições – o Supremo Tribunal Federal e o
Congresso Nacional- voltam a funcionar. Durante as férias de janeiro, o
Ministério da Saúde declarou-se derrotado pelo Zika Vírus, Lula enrolou-se,
ainda mais com seu triplex, no Guarujá e seu sítio, em Atibaia, novas contas de
Eduardo Cunha, no exterior, foram descobertas e Dilma e seus asseclas articularam
para boicotar o impeachment. Quem pode fugir para as praias ou esquiar no
Colorado ou na Suíça, afastou-se deste mau cheiro que continuou exalando de
Brasília. Quem – como este que vos fala – precisou continuar matando um leão
por dia, obrigou-se a respirar este ar nauseabundo de um País que teima em
regredir em tudo, menos em corrupção, onde avançamos 05 casas. Pessoalmente,
acho que o impeachment ‘’gorou’’, primeiro, porque foi
capitaneado pelas imundas mãos do Presidente da Câmara; segundo, porque temos
uma oposição pífia, sem um líder de expressão nacional; terceiro, porque o
Planalto, hábil na arte de corromper, abriu a ‘’burra’, distribuindo cargos e vantagens aos adversários que não
perderam tempo e mudaram de barco. Não duvido que todas as mediadas impopulares
– como a ressurreição da CPMF – sejam aprovadas. Este Congresso é o mais
corrupto de nossa história e, a esta altura, seu abjeto Presidente, Renan
Calheiros, já deve ter negociado sua exclusão da ‘’lava jato’’, em troca de apoio incondicional ao Planalto. É a
velha e conhecida política do ‘’é dando
que se recebe’’, que gerou e continuará gerando tantos malefícios ao
Brasil. E a crise econômica, a inflação e o desemprego crescentes, como ficam?
Ficam do jeito que está, com tendência a piorar, já que o cenário internacional
também não nos ajuda. Brasília está distante do Brasil e a rela extensão de
nossos problemas chega lá distorcida, ao sabor dos interesses do Governo.
Brasília, digo e repito, não tem povo, ou, se tem, este não conta, pois quem
conta são os que estão no poder ou gravitam entorno dele. Quem conta, quem
decide, habita o ‘’Plano Piloto’’,
com suas mansões, à beira do ‘’Paranoá’’,
ou seus apartamentos de luxo. A plebe ignara foi escorraçada para as
cidades-satélites, versão um pouco melhorada das favelas cariocas e paulistas e
distantes, hora ou mais, do centro das decisões. A própria operação ‘’lava jato’’ vai perdendo força e, sem
esforço, prevejo que se transformará em pálido esguicho, quando chegar nas
Tribunais Superiores. Aposto um doce que não terão coragem de colocar a mão em
Lula e não me surpreenderei se ele ainda sair dessa como herói, em condições de
disputar e ganhar as eleições presidenciais de 2018. Afinal, quem nasce para
Venezuela jamais será uma Alemanha. De minha parte, chego ao final da estrada,
sem nutrir qualquer expectativa de ver o Brasil sair deste medíocre terceiromundismo,
lamentando pelos filhos e netos que aqui continuarão vivendo tendo que,
cumprindo a maldição bíblica, ganhar o pão com o suor do próprio rosto. Mas,
logo mais, é carnaval, tempo de vivermos a efêmera mentira da felicidade.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016
Cumprimentos e lembranças
Vou a uma Delegacia Especializada tratar de assunto do meu
interesse. O Delegado Titular, que ocupou o cargo por vários anos, foi promovido
graças a sua capacidade e honradez, acima de qualquer suspeita. Dignifica a
Polícia Paulista e, dentre tantas operações realizadas, sem alarde e sem
holofotes, desbaratou a máfia dos fiscais da Prefeitura e do ICMS. Guardem este
nome: Luiz Storn. Tem tudo para ser Secretário de Segurança, se buscarem um
homem probo e competente. Mas, chego na Delegacia e encontro outro Delegado
sentado na cadeira, que se levanta, com um sorriso largo, quando entro na sala:
é meu conhecido, de larga data. Jovem, dinâmico e competente... e santista
roxo. Lembrei-me de que, em seu gabinete anterior, guardava um ‘’mini-museu’’
do Santos. Indaguei onde estava e ele me levou até a estante, onde, dentre
várias peças preciosas, há um pequeno quadro daquele majestoso Santos, dos anos
60 que além de Gilmar, no gol e Zito, no meio-campo, tinha aquele ataque com
Dorval, Mengalvio, Coutinho, Pelé e Pepe. O quadro contém o autógrafo de todos
os jogadores e, ao que parece, foi herança do pai. Naquele momento, o Inquérito
perdeu a importância e eu fiquei a contar ao Dr. Luiz Carlos (é o nome do
Delegado) alguns fatos, envolvendo o Santos de seu coração, que eu presenciei,
das arquibancadas do Maracanã ou do Pacaembu. Sou Botafogo fanático e também
coleciono meus ‘’troféus’’, como a camisa do Jairzinho, ganha do próprio, em
1970 e que arderá comigo. Viajo ao Maracanã e me lembro – suprema humilhação –
do ‘’chapéu’’ que Pelé deu em Manga, para, depois, marcar mais um gol, em uma
partida que termináramos o primeiro tempo, ganhando de 2x0 que se encerrou 4x2
para o Santos. Dessas viradas fatídicas, recordei-lhe um Corinthians e Santos,
no Pacaembu, onde fui, levado pelo saudoso Nelson, que nos deixou, no ano
passado. Já fazia uma década que o Corinthians não vencia o Santos e meu amigo ‘’sentia’’
que aquele seria o domingo da virada. E parece que seria mesmo, porque o
primeiro tempo terminara 3x0 para o Corinthians. A massa torcedora queria,
mais, exigia goleada acachapante, que redimisse os 10 anos de humilhação. Acho que
os gritos da torcida corintiana irritaram Pelé e companhia e, no segundo tempo,
Heitor (acho que era este o nome do goleiro do time do ‘’Parque São Jorge’’) buscou
a bola 8 vezes, no fundo das redes. O Dr. Luiz Carlos, nascido depois daquela
época, fez um ar de tristeza por não ter visto aquele Santos e eu uma forte dor
no peito, por me lembrar do Botafogo de então e este, de hoje.
Quanto ao Dr. Luiz Carlos, com o vigor de sua juventude, mas
com experiência já acumulada, tenho convicção que executará sólido trabalho, como novo titular da ‘’Delegacia
de Lavagem de Dinheiro e Ocultação de Bens e Valores’’.
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