Vocês já notaram como os usos e costumes viajam em círculo,
passando, portanto, pelos mesmos pontos? Poderia dar dezenas de exemplos, mas
vou ficar no campo do sexo, onde, em tempos idos e vividos, labutei, com
razoável competência. Quando jovem, o simples pronunciar da palavra ‘’sexo’’ já
era motivo de constrangimento, no geral e no particular e aqui me refiro à
namoradinha! Lá pelo começo dos anos 60, amor e sexo eram duas coisas
completamente distintas. Pegar na mão da namorada levava coisa de um mês e beijar
então só lá pelo terceiro mês e olhe lá. E a ‘’coisa’’ parava aí, porque, se
você ‘’avançasse o sinal’’, vinha logo um ‘’chega pra lá, que eu não sou
dessas’’. Por mais que se amarrasse na namorada, sexo mesmo só na ‘’zona boêmia’’,
existente em qualquer cidade do interior. Veio a revolução sexual dos anos 70,
com a liberação da mulher, com o surgimento da pílula anticoncepcional, ponto
de partida para outras conquistas femininas. A virgindade deixou de ser jóia
rara, trancada a sete chaves, até o dia do casamento. Se o homem podia navegar
no mar dos prazeres sexuais, por que a mulher não? E a mulher navegou, mas via
de regra, vinculava o sexo ao amor. Ao contrário do homem, só se entregava ao
namorado ou ao noive, sempre com muito afeto. A roda do tempo girou e os anos
90 criaram novo sentido para o verbo ‘’ficar’’, que passou a significar
relacionar-se, sexualmente, com outro, sem qualquer compromisso. – ‘’Você está
namorando fulano?’’, pergunta a amiga. – ‘’Não, ele é apenas meu ‘’ficante’’,
responde a outra. Nas baladas, rapazes e moças beijam diferentes bocas e, na
saída, faz-se balanço de quantas bocas cada qual beijou. O vencedor é tratado
com reverencia, por sua ‘’turma’’. Outro dia, vi reportagem, dando conta de um
local, no Parque do Ibirapuera, em que rapazes e moças, de bom nível
socioeconômico, encontram-se apenas para beijar, que é a introdução do
‘’ficar’’. Chegam e saem sem saber o nome de seus parceiros, tantos os são. Se
isto é bom ou ruim, estou muito velho para emitir qualquer juízo de valor, a
respeito. Pode ser que banalize o ato sexual e os próprios participantes, mas é
o que temos para o momento.
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