terça-feira, 13 de maio de 2014

A busca do tempo
Um dos problemas de se ficar velho – a meio a tantos outros – é se ir, progressivamente,  perdendo a referencia com seu tempo, suas coisas e, principalmente, com as pessoas. De larga data, deixei de comparecer a eventos comemorativos de datas – aniversario de formatura, encontro de ex-colegas etc. Além do desprazer de não reconhecer – tanto se descompuseram – antigos “amigos íntimos”, a tristeza de que, toda vez, sempre falta um, levado que foi pela mão da morte. Estupidamente, perguntamos – morreu de que? – como se a forma de que se morreu fizesse alguma diferença. A constatação que fica, é que chegou a hora e a vez de nossa geração e a verdade é nunca acharmos que possamos ser o próximo a ser chamado. “Seja do seu tempo, enquanto é tempo”, dizia um poeta e jornalista, - Sérgio Milliet – lá em minha longínqua juventude. Certa vez, que bebíamos nosso habitual uísque sauer, no “Paribar” (no antigo, com suas mesas e cadeiras de vime se projetando pela calçada) perguntei-lhe como saber que ainda é “nosso tempo”. Ele, com a voz rouca que ainda ecoa em meus ouvidos, esclareceu: - quando seus contemporâneos começarem a morrer, é porque seu tempo acabou-se. Eu já os venho perdendo faz uns 10 anos e escondo a verdade do não tempo chegado ou a mentira de que ainda há tempo a gastar.

Entrei neste assunto pela morte de Jair Rodrigues. Morando na mesma rua, ele ainda incipiente em sucesso, mas sempre com seu sorriso frouxo de quem veio à vida para ser feliz. Viveu, com magia e efervescência, seu tempo e, dádiva que Deus só concede a alguns, partiu de repente, antes que a magia e a efervescência acabassem.

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