A busca do tempo
Um dos problemas de se ficar velho – a meio a tantos outros –
é se ir, progressivamente, perdendo a
referencia com seu tempo, suas coisas e, principalmente, com as pessoas. De
larga data, deixei de comparecer a eventos comemorativos de datas – aniversario
de formatura, encontro de ex-colegas etc. Além do desprazer de não reconhecer –
tanto se descompuseram – antigos “amigos
íntimos”, a tristeza de que, toda vez, sempre falta um, levado que foi pela
mão da morte. Estupidamente, perguntamos – morreu de que? – como se a forma de
que se morreu fizesse alguma diferença. A constatação que fica, é que chegou a
hora e a vez de nossa geração e a verdade é nunca acharmos que possamos ser o
próximo a ser chamado. “Seja do seu
tempo, enquanto é tempo”, dizia um poeta e jornalista, - Sérgio Milliet –
lá em minha longínqua juventude. Certa vez, que bebíamos nosso habitual uísque
sauer, no “Paribar” (no antigo, com
suas mesas e cadeiras de vime se projetando pela calçada) perguntei-lhe como
saber que ainda é “nosso tempo”. Ele,
com a voz rouca que ainda ecoa em meus ouvidos, esclareceu: - quando seus
contemporâneos começarem a morrer, é porque seu tempo acabou-se. Eu já os venho
perdendo faz uns 10 anos e escondo a verdade do não tempo chegado ou a mentira
de que ainda há tempo a gastar.
Entrei neste assunto pela morte de Jair Rodrigues. Morando na
mesma rua, ele ainda incipiente em sucesso, mas sempre com seu sorriso frouxo
de quem veio à vida para ser feliz. Viveu, com magia e efervescência, seu tempo
e, dádiva que Deus só concede a alguns, partiu de repente, antes que a magia e
a efervescência acabassem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário