sexta-feira, 30 de maio de 2014

A história de João

João trabalhava em nossa casa, já lá iam dez anos. Pessoa simples, mal escrevia o nome, mas era absolutamente dedicado ao trabalho e, como minha esposa tem o habito de atravessar a madrugada, vendo televisão, João sentia-se na obrigação de fazer-lhe companhia, até que o sono invencível o levasse para o quarto. No outro dia, a mesa do café da manhã já estava  preparada para os que, logo cedo, começavam sua jornada. João, bom contador de caso, trazia, sempre, sorriso nos lábios e disposição para atender a todos. João era evangélico e se impressionava com as “curas”, rápidas e volumosas que se realizavam em sua “Igreja”. No dia do pagamento, João separava metade do salário e o entregava ao “Pastor”. Um dia, João aparece com dor abdominal que os chás e remédios tradicionais não conseguiam debelar. Meu filho, médico, especialista exatamente em aparelho digestivo, leva João para sua clínica, submete-o a uma bateria de exames e o resultado foi fulminante: câncer no intestino. João chorou, nós choramos, mas como a doença fora diagnosticada no início – dizia-nos nosso filho – uma cirurgia, extirpando a parte comprometida do intestino, permitiria a João continuar vivendo, com algumas limitações. Cirurgia marcada, eis que João, sorrindo, nos traz uma noticia, que seria cômica, se não fosse trágica: consultara o “Pastor” de sua “Igreja” e ele o aconselhou a esquecer a cirurgia, porque “Cristo o livraria da doença...” desde que, é claro, ele aumentasse sua contribuição financeira. Assim, João recusou-se à cirurgia, malgrado nossa pressão e ameaça – de nosso filho – de interná-lo à força. Uma manhã, João desapareceu, sem deixar vestígios. Procuramo-lo em todos os lugares possíveis, inclusive utilizando a Policia: frustração total. Quase um ano depois, João aparece esquelético, esquálido, atormentado por dores alucinantes. Minha esposa leva João para o hospital e um cirurgião, dos melhores, opera João. Abre e fecha, nada mais a fazer: o câncer espalhara por todo o organismo. Dias depois, João morre. O tempo fora o carrasco de João e aquele “Pastor”, que o convencera a não operar, seu mais furioso inimigo. Quis processar o “Pastor”, a “Igreja”, todos que induziram João a não se tratar. Sua família recusou-se: “não carece, doutor, foi a vontade de Deus”, disse-me a mãe,  em sua doce e conformada ignorância. Muitos anos se passaram e vejo, pela televisão, outro “Pastor” dividir sua fala entre cobrar contribuições e promover curas imediatas. Quantos “João” haverá naquela platéia, a acreditarem e a enriquecerem aquele “Pastor” que, em nome de Deus e de Cristo, induzem a erro tantos incautos, tomando-lhes o produto de duro trabalho. Trata-se de conduta ilícita, tipificada em nosso Código Penal (estelionato – art. 171; charlatanismo – art. 283; periclitação da vida e da saúde – art. 132; ou até mesmo homicídio doloso – art. 121). Todavia, em nome da liberdade de culto, protegida pela nossa Constituição Federal, essas “Igrejas” proliferam, espalhando falsas curas e matando outros “João”. É tempo, com urgência, de a Igreja Católica, porque santa e verdadeira, erguer, com desmesurada eloqüência, sua voz contra esses falsos pastores e suas seitas demoníacas, levando ao povo, principalmente a suas camadas mais humildes, a verdadeira palavra de Deus. A messe é grande e não podemos continuar a perdê-la com nossa leniência. Quanto ao “nosso” João, recordo e imito o poeta Manoel Bandeira: João chegando ao céu, São Pedro o recebendo: “entre, bom e doce João, fique à vontade, a casa é sua.”

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Uma tarde no Tribunal

A princípio, a cena podia até ser considerada bizarra. Lá estava o homem, sentado na primeira fila da sala de julgamento do Tribunal. De onde eu estava, via-o apenas de lado, com seu surrado terno preto, brilhando de tanto usar e sua poída camisa amarelada, que, um dia, provavelmente fora branca. Olhava, fixa e atentamente para os Desembargadores, a indicar que aguardava o julgamento do seu processo. Sem dúvida que aquele homem, simples, quase roto, no vestir, destoava do ambiente austero da Corte, Juízes com suas togas pretas e advogados, impecavelmente vestidos. Suspensa a sessão, para um lanche dos Magistrados, não resisti à tentação de me sentar ao lado daquele estranho homem. Cumprimentei-o quase sussurrando e ele, devolveu-me o cumprimento com um contido sorriso. Sua estreita gravata alcançava metade do peito e devia ter a idade do resto da roupa. Perguntei se seu processo seria julgado e ele, repousando a mão sobre a minha, que descansava no espaldar da cadeira, respondeu-me que não tinha nenhum processo a ser julgado, era aposentado, viúvo, os filhos casados e distantes. Como não suportava ficar em casa, sozinho, vinha todos os dias assistir às sessões do Tribunal, entrando na sala que tivesse mais movimento. Quando os julgamentos terminaram, convidei-o para um café e ele, com indisfarçável satisfação, aceitou. Procurei uma mesa de canto, na lanchonete da “Conde do Pinhal”, que habitualmente freqüento e lá nos instalamos. Contou-me um pouco de sua vida: 80 anos, funcionário público aposentado da vizinha Secretaria da Justiça, sonhara, em jovem, ser advogado, defendendo grandes causas no Tribunal do Júri. Salário medíocre, família constituída cedo, o sonho foi sendo adiado, até ser sepultado de vez. Os filhos – dois - casaram-se, mudando para o interior, visitando-o raramente. A mulher, a única que tivera por toda a vida, morrera, já lá iam quase 20 anos, vítima de um câncer fulminante. Pensara em se matar, mas havia os filhos a acabar de criar. Em resumo: sem mulher, filhos distantes, ficou só, vivendo de parca aposentadoria. Morava ali ao lado, na “Tabatinguera”, quarto alugado. Quando o Tribunal do Júri era no Palácio da Justiça, não perdia os julgamentos. Conhecia de nome (e até citou alguns) os principais advogados e promotores da época. Depois que o Júri se transferiu, primeiro para a Vila Mariana e depois para a Barra Funda, não mais lá foi: a distância era muita e o júri perdera a majestade (com o que eu, quase tão velho e saudosista quanto ele, concordei). Passou, então, a freqüentar as sessões do Tribunal que, ao contrário do Júri, funcionava todos os dias, pela manhã e pela tarde. Conhecia termos e até teses jurídicas, o que faria inveja a muitos advogados recém formados. Como a noite já anunciava sua presença, saímos, cada qual em sua direção. Só então me dei conta que não lhe perguntara o nome, nem ele o meu. Não sei por que, mas me lembrei de um verso de um poeta de minha juventude: “Chorei, choraste! Tinhas a alma de sonho povoada e a alma de sonhos povoada eu tinha...

terça-feira, 27 de maio de 2014

A falta de senso
Vejo e leio no “Google noticias” de hoje, 27, que a Presidente Dilma ficou “estarrecida com o atraso de salários dos jogadores de futebol”. Na foto, ao lado da Presidente, identifico alguns atletas, como Dida, Alex, Juan, Rui, cujos salários superam aos 200 mil reais mensais. Ao que me consta os clubes de futebol são entes privados, sujeitos a crises financeiras transitórias, como qualquer empresa privada, cujos trabalhadores, em caso de prolongado atraso em seus pagamentos, podem promover a rescisão de seus contratos de trabalho. No momento, em que redijo estas mal traçadas linhas, professores, profissionais de saúde, motoristas, policiais, serventuários da justiça, dentre outras classes, reivindicam melhores salários e, destaque-se, ganham esses profissionais menos de 1% dos atletas acima citados e não se têm noticia de terem sido recebidos pela Presidente, com direito a foto. Bom seria de Dª Dilma “se estarrecesse” com as condições dos hospitais, como mostrou o “Fantástico”, do último domingo; com o miserável salário dos professores – e fui um deles – que são obrigados a jornadas duplas e até triplas de trabalho, para ganharem, por mês, o que um daqueles jogadores ganha em meio dia; com os “bicos” que os policiais são obrigados a fazer, em seus dias e horas de folga, para proporcionarem um mínimo de conforto a suas famílias.

Ironicamente, o movimento dos jogadores chama-se “Bom Senso”, exatamente o que faltou à Presidente ao se engajar na causa que menos precisa da presença do Estado.
O espanto nosso de cada dia
1-    A Presidente Dilma afirma que vai acabar com a seca no Ceará. Quando eu era criança, um certo Dr. Janot prometeu a mesma coisa: bombardearia as nuvens, provocando precipitação pluviométrica. Como não se formaram nuvens, o plano fracassou. Depois, criaram um Órgão, chamado “Departamento Nacional de Obras contra a Seca – DNOCS”, com esse especifico objetivo. O Departamento não “obrou” e a seca continuou. Mais recentemente, Ciro Gomes, então Governador do Ceará prometeu erradicar a seca, abriu quilométrico canal de irrigação, mas a seca, impávida, continuou. Agora, eleição batendo na porta, Dª Dilma promete esfacelar a dita cuja seca. Será?
2-    A oposição gritou, esperneou e foi até ao Supremo para abrir a CPI, que investigaria as derrapadas da Petrobrás. Criada, a oposição se recusou a indicar seus membros para integrar a Comissão e o líder, Senador Aloísio Nunes saiu com esta pérola: “meu Partido tem decisão formada e não vai gastar energia nenhuma com a Comissão do Senado”.
3-    O velho Maracanã, que eu freqüentei, assiduamente, até os anos 90, comportava 200 mil espectadores. Gastaram 2 bi para reformá-lo e agora comporta cerca de 50 mil. Qual a lógica?
4-    O Santos gastou uma “fortuníssima” para trazer Leandro Damião. Agora ele vai para a reserva de um time mediano ou emprestado... se algum clube se interessar.
5-    O Ministério da Educação criou mais 500 vagas em Faculdades de Medicinas, espalhadas pelo interior do Brasil, em cidades onde nem mesmo há hospitais, adequadamente equipados. Vão aprender o que? Em ano eleitoral pode tudo.
6-    Dengue vira epidemia em todo o Estado de São Paulo, inclusive na Capital, depois de ter sido erradicada, ao final dos anos90, graças à ação do então Secretário Jorge Pagura. À propósito, sanitarista do Estado alerta às pessoas que suspeitarem ter contraído a doença que procurem o médico. Qual a outra alternativa, morrer?
7-    Polícia Militar para em Recife e vândalos saqueiam lojas. O que tem a dizer os “especialistas em segurança”, que propõem a extinção das policias militares?
8-    Médico cubano do programa “mais médicos” é acusado de abusar, sexualmente, de pacientes. É o governo lançando o programa “mais abuso sexual”.
9-    Sempre ouvi dizer que o câncer não é doença transmissível. Agora surge a notícia de que o câncer de próstata pode ser doença sexualmente transmissível. A vida está mesmo ficando difícil e ainda há os que teimam em prolongá-la.

10-                     Um passarinho passou em minha janela e me contou que, por trás das paralisações dos ônibus, há uma “guerra” entre as empresas e as cooperativas de ônibus, sendo que essas ultimas contam com o apoio da Prefeitura. Briga de cachorro grande, mas quem sai mordida é a população, ceifada em seu direito de ir e vir.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Carlos Lacerda: sempre presente

É sempre oportuno lembrar-nos daqueles que, ao longo de nossas vidas, deixaram em nós, a marca de suas influências. É a maneira de mantê-los vivos, quase que conversando conosco, oferecendo-nos o doce gosto de suas personalidades marcantes. Por isso, falar sobre Carlos Lacerda e minha fugaz convivência com ele é a oportunidade para reviver momentos importantes e inesquecíveis em minha vida. E o faço neste dia, passados exatos 37 anos de sua morte.
Carlos Lacerda foi, e talvez continue sendo, a maior influência ideológica que minha juventude absorveu e que iria marcar, para sempre, minhas convicções políticas. A memória mais remota remete-me lá pelos 12 anos de idade, ouvidos colados à Rádio Mairinque Veiga, Lacerda a desancar Juscelino e sua maior megalomania, chamada Brasília. O tempo provou que Lacerda estava certo: Brasília, nem de longe, cumpriu seu objetivo, que seria a interiorização do progresso. O jornalista de “A Folha”, Fernando Rodrigues, em magnífico artigo, quando do aniversário daquela cidade, demonstrou o retumbante fracasso social e econômico em que ela se tornou, por nada ter acrescentado à região. Além do mais, Brasília “isolou” o poder das injunções populares, possibilitando que grandes falcatruas fossem e continuem a serem perpetradas. Lacerda tinha essa capacidade de premonição, apanágio apenas dos gênios. Entretanto, só vim a conhecê-lo, pessoalmente, em 1963. Ele acabara de ser indicado candidato à Presidência da República, pela UDN, no pleito, que se realizaria em 1965 e já percorria o País em pré-campanha. Foi ele fazer uma palestra na Faculdade de Direito da PUC-SP, onde eu estudava. Lá, tínhamos um partido – o “PIU – Partido Idealista Universitário” – que nós, seus filiados, tínhamos a risível pretensão de ser a “UDN acadêmica”. Batíamos de frente com a “JUC – Juventude Universitária Católica”, cujo mentor era o Padre Enzo, Diretor da Faculdade de Filosofia da mesma Universidade, que nós, “udenistas”, execrávamos, por considerá-lo “comunista de batina”. Apesar de todas as manifestações contrárias, Lacerda foi fazer sua palestra e eu, que era o orador do partido, fui escalado para saudá-lo. Fiquei uma semana escrevendo e ensaiando meu discurso e, na hora, suava e tremia, tal o nervosismo. Acabada a palestra, Lacerda, sempre atencioso e gentil, abraçou-me e me convidou para conhecer algumas obras importantes, que estava realizando na então Guanabara, da qual era Governador. A falta d’água era problema crônico naquela cidade. Havia, até, uma música de carnaval dos anos 50, cujo refrão dizia: “Rio de Janeiro, cidade que nos seduz, de dia falta água, de noite falta luz...” Pois Lacerda, mesmo com o boicote financeiro do Poder Central (primeiro Jango depois o próprio Castello Branco) estava construindo a “Adutora do Guandu”, que iria resolver, definitivamente, o problema de falta d’água na cidade. Outra obra importante era o “Túnel Rebouças”, que ligaria a zona norte à zona sul, em poucos minutos. Até então, o único elo entre as duas regiões era a Avenida Brasil, o que, além de alongar a distância, provocava, já naquela época, enormes engarrafamentos. A “esquerda festiva” era contra o túnel porque – alegavam – infestaria de “suburbanos” as praias do Leblon e de Ipanema. Era uma época incrivelmente contraditória: a esquerda, que suspirava e revirava os olhos por Cuba, era tremendamente elitista e homens, realizadores de obras populares, como Lacerda, eram tidos como reacionários. Mas o certo é que, um dia, recebi, em minha casa, o convite para a tal visita. No dia e hora marcados, apresentei-me no Palácio Guanabara e com mais outras pessoas, também convidadas percorremos inúmeras obras, inclusive a “Vila Kennedy” para onde estavam sendo transferidas as pessoas, retiradas da “Favela do Pasmado”, que se instalara sobre o túnel novo de Copacabana. Ao invés de casas improvisadas com tapume, Lacerda mandara construir moradias decentes, com água, luz e esgoto, o que era um luxo, naquela época. A “Rodoviária Novo Rio” foi considerada pela oposição rancorosa, obra faraônica, pelo seu tamanho. Menos de 20 anos após sua inauguração, já se mostrava pequena. Eu e os outros visitantes, ficamos hospedados no “Hotel Novo Mundo”, ali na Praia do Flamengo, onde estava sendo construída a maior obra urbanística do mundo, o aterro do mesmo nome e que é um dos mais belos cartões postais do Rio. À noite, depois da visita, Lacerda nos ofereceu um jantar, quando nos apresentou extensa relação de suas obras, o que nos deixou a todos simplesmente maravilhados. Incrível a capacidade de trabalho daquele homem que ainda encontrava tempo, madrugada adentro, para dar “incertas” em hospitais e delegacias, a fim de constatar se tudo estava funcionando a contento. De volta a São Paulo, e como sempre tive mania de escrever, mandei-lhe algumas cartas, que ele jamais deixou sem resposta, chamando-me “meu jovem causídico”. Mesmo sabendo, é claro que as respostas vinham de algum “ghost writer”, era sempre uma deferência, que me encantava. Voltei a me encontrar com Lacerda, no dia 31 de março de 1964, que coincidiu estar eu no Rio. Naquela época, eu, habitualmente, passava o fim de semana no Rio. Ia de carona com meu cunhado ou algum amigo dele, todos pilotos da Varig, que tinha acabado de comprar a “Real Aerovias”. Saía de São Paulo em um dos vôos noturnos da 6ª feira e voltava do Rio à noite do domingo. Ficava hospedado na casa de minha irmã, que morava na Rua Paissandu, bem perto do Palácio Guanabara. Meu roteiro era, de dia, praia e, à noite, o “Beco das Garrafas”, então o templo da bossa nova. Passava todo o tempo saboreando uma única cerveja – o dinheiro pouco não suportava mais do que isso – enquanto via e ouvia Vinicius, Tom, Claudete Soares, Lucio Alves e outros bambas da MPB. Também freqüentava o “Cine Paissandu”, templo do cinema novo, onde se fazia pose de intelectual e se assistia a filmes chatíssimos. Pois no dia 31 de março, estoura a Revolução e, pelo rádio, fico sabendo que o Almirante Aragão dirige-se ao Palácio Guanabara, para prender Lacerda. Eu, que estava a menos de 500 metros de lá, saí correndo em direção ao Palácio, para me juntar a tantos outros que lá estavam para defender nosso líder. Defender, eu não sabia como, já que nunca atirara nem mesmo com espingarda de chumbinho. Mas sabia que a história estava acontecendo e queria participar dela. O Palácio estava protegido por caminhões de lixo que eram, por assim dizer, a divisão “panzer” do Lacerda. Já dentro do Palácio, após dar meu nome a um soldado, creio que da Aeronáutica, subi a escadaria central, que desembocava em um enorme salão, àquela hora apinhado de gente. A um canto, falando ao telefone e, com a outra mão, empunhando uma metralhadora, estava Lacerda. Encerrada a ligação, dirigi-me para cumprimentá-lo e ele, para meu espanto, abraçou-me calorosamente. Lembro-me, vagamente, de que fui encaminhado ao Coronel Gustavo Borges, então Secretário de Segurança, que estava distribuindo as armas para defesa do Palácio. Dele recebi um fuzil que segurei com extremo cuidado, já que, desajeitado como sou, tinha medo que disparasse. Felizmente o ataque não veio e Lacerda, em inflamado discurso, saudou a Revolução e convocou uma reunião de seu Secretariado. Voltei para São Paulo e, à distância, fui assistindo ao esgarçamento das relações de Lacerda com o Governo Castello Branco. Lacerda tinha um grande e legítimo projeto, o de ascender à Presidência a República. Pertencia ele a uma geração – que infelizmente desapareceu – em que se almejava chegar ao Poder para realizar um trabalho, em favor da população, o fazer pelo prazer de fazer e não, como agora, que se quer chegar ao Poder, por puro interesse pessoal. Foi com essa filosofia de atender ao interesse popular que Lacerda governou a Guanabara: construiu a Adutora do Guandu; construiu 500 quilômetros de esgoto; o Túnel Rebouças; o Emissário Submarino; o Aterro do Flamengo; a Rodoviária Novo Rio; cerca de 200 escolas de ensino fundamental; promoveu a desfavelização do Pasmado; integrou a Barra, que nem telefone tinha, à cidade; além de vários viadutos. Quando olhamos para trás e contemplamos esse magnífico conjunto de realizações, temos que nos perguntar como tudo isso foi possível, malgrado a odiosa perseguição do Poder Central, principalmente do Presidente Castello Branco, que quis seduzi-lo, oferecendo-lhe a Embaixada em Paris, que ele recusou, porque julgava ter o direito de disputar a Presidência da República. Tinha se preparado, a vida inteira, para isso, e não aceitaria, passivamente, que esse direito lhe fosse usurpado. Castello, apunhalando-o pelas costas, urdiu a candidatura Negrão de Lima, prorrogou seu próprio mandato e passou a tratar Lacerda como inimigo, chegando a articular com a oposição a rejeição das contas do Governador. Missão impossível. Nenhum homem público teve sua vida pessoal e sua administração tão revolvida quanto Lacerda. Não encontraram qualquer irregularidade, qualquer desvio de conduta. Da mesma forma que era um trabalhador compulsivo, entendia que a honestidade, mais que uma virtude, era uma obrigação, principalmente do homem público. Quando, em 1966, Castello deixou claro que não haveria perspectiva de devolver o Governo aos civis, Lacerda, de forma alucinada, engendrou a frente ampla, juntando-se a Juscelino e Jango. Naquela oportunidade, tive a ousadia de escrever-lhe uma carta, acusando-o de destruir sua majestosa história, aliando-se a quem mais combatera, tendo-nos como fiéis escudeiros. Era como se nosso Comandante-em-chefe passasse para o lado do inimigo. Foi assim que me senti. Não entendi, nem aceitei, apesar da resposta, que ele me enviou, falando em salvar a democracia, em superiores interesses da pátria etc. Não dava para engolir Juscelino e Jango. Era, “mutatis mutandi” deixar de torcer pelo Botafogo e passar a torcer pelo Flamengo que, diga-se de passagem, era o time dele. Eu era – olha a imodéstia outra vez – “revolucionário” até a raiz do cabelo e também achava prematuro o retorno dos civis ao Poder. Somente vim a ter contato com Lacerda, outra vez, quando, após sua cassação, foi ele preso e consegui visitá-lo, graças à interferência de um General, que fora amigo de meu pai. Lacerda, em que pese a inteligência, a conversa fácil, perdera o entusiasmo e, desta vez, falava, para valer, em sair da vida pública e fazer o que nunca pudera, isto é, dedicar-se à família. Após esse episódio, não mais o vi, até o lançamento de sua obra “A Casa de meu Avô”. Noite de autógrafo em sua “Nova Fronteira”, editora que fundara com seus filhos, Sérgio e Sebastião. Quando cheguei à mesa, ele se levantou e me deu um forte abraço. No livro, apôs uma dedicatória eloqüente, como ele: “Ao jovem causídico, transfiro meu entusiasmo pelo Brasil.” Eu, já morando no Rio, de vez em quando ia visitá-lo na Editora, sempre ao final da tarde. Falávamos exclusivamente em literatura, já que ele proibia que se falasse em política, se bem que, de forma irônica, criticava-me por “servir à ditadura”.

Era um sábado chuvoso, sem qualquer perspectiva de praia. Sobrava esperar pela tarde e ir torcer pelo Botafogo. Toca o telefone, era o Almirante Meziano, meu companheiro de Ministério da Fazenda e Lacerdista empedernido, como eu. “Desculpe ligar, mas o Lacerda morreu, está sendo velado no São João Batista, e o enterro será às cinco da tarde.” Atirei-me ao sofá, entre estupefato e absurdamente triste, porque nem mesmo sabia que ele estava doente. Troquei de roupa e lá fui para a Rua Real Grandeza. O velório cheio, mas não tanto quanto ele merecia. A Revolução e os covardes de sempre temiam o Lacerda, mesmo morto. Fiquei até umas três horas da tarde e corri para o Maracanã. O Botafogo perdeu e eu aproveitei para chorar duas grandes paixões de minha vida.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Por causa de um fim de semana com Fernando Pessoa
Sozinho, na praia deserta, nesta manhã de outono, quase inverno, olho para o indefinido, e, sob meus olhos, repousa, preguiçoso, o mar, velho e eterno companheiro, de quem me afastara a tristeza do cotidiano. Ao longe, quase na linha onde o oceano desaba, um ponto preto se desloca, lentamente. Fixo-me nele, na ânsia irracional de identificá-lo. O ponto cresce e se visualiza: um barco, vela içada, provavelmente retornando da lida. Percebo que outros barcos surgem, pelo mesmo caminho, entrando, barra adentro em direção ao cais, onde depositarão, seus ganhos e suas perdas. Invejo-os, porque não tenho onde     ancorar minhas angústias e minhas alegrias. Mas, agora, agora, olhando o mar, de costas para a mata, não me interessam angústias e alegrias. Com o sentido marítimo deste momento mágico, só me interessa o mar e as coisas que estão em sua superfície, como enfeites. Que se ralem os barcos, se não trazem      peixes. Para meus olhos, são apenas enfeites que adornam          o dorso do mar. Alguém - um pescador? – passa por mim e diz ‘’bom dia’’. Odeio-o, porque me tirou da contemplação. Mas, assim mesmo, respondo ‘’bom dia’’, pouco me importando se ele terá um dia bom. Provavelmente terá um dia como tantos outros, indiferente ao barulho das ondas, tímidas a esta hora da manhã. Vem-me à lembrança outras praias e outros tempos idos e vividos. O mistério de todas elas. A beleza de todas elas. A chegada e a partida: ‘’Olá, mar, como vai você? Que saudade!’’; ‘’Adeus, mar, será que volto a vê-lo?’’ A dolorosa instabilidade deste impossível universo, em suas horas marítimas, indo e vindo, chegando e vindo, gregos, rasgando as águas, Vikings, rasgando as águas; piratas, roubando nas águas; ninfas camoneanas, banhando-se nas águas; navios guerreiros, ensangüentando as águas. Pois o mar, velho e eterno companheiro, é isso: morte e vida, que vem e vai. Trágico pensar que vou embora e ele vai ficar, braços abertos a outros que, espero, saibam amá-lo, como eu, deixando-o molhar o corpo, como carícia suave ou com o ardor de amante ensandecida.
Olá, mar, adeus mar!
Alguém senta a uma pequena distância de mim. Incomoda-me aquela presença, porque me rouba a solidão e porque estupidamente, fecha os olhos. Se veio à praia, é por causa do sol, do mar, da praia e das coisas que há nela. Se fecha os olhos, apaga todas essas coisas. Dizer isso, pode soar ridículo aos ouvidos de quem, por não saber o que é olhar para as coisas, não compreende quem fala delas.
Se as coisas existem para serem vistas, por quê fechar os olhos para elas? Ser assim é ser cego sem sê-lo. Se Deus está em todas as coisas – e eu creio nisso – Ele está nesta praia, nas arvores que a circundam; no mar que a banha; no sol que a aquece. Então aquela pessoa, estática, alheia a este balé fantástico, fecha os olhos para Deus. Por certo deve ser um desses cretinos que dizem: ‘’Não acredito em Deus’’, como se Deus precisasse que acreditem nele. Ele apenas existe e se mostra em todas essas coisas simples de se ver, como esta praia, este mar, este sol e estas arvores entorno. Não acreditam Nele? Pior para eles, primeiro, porque são cretinos (embora não se saibam cretinos); segundo, porque, quando precisarem Dele, sentir-se-ão menores e piores.

Mas, como não suporto cretinos e, muito menos, sou Deus, vou embora.  

quinta-feira, 15 de maio de 2014

A copa sem crise

Você, que está aí sentado, vestindo a camisa da seleção brasileira, apenas esperando o primeiro gol do Brasil para explodir em ufanismo, aproveite bem esse mês lúdico, que se aproxima e aproveite bem: grite, pule, abrace amigos, vizinhos, afinal, como dizia Nelson Rodrigues, é a “pátria de chuteiras”, que vai entrar em campo. Não importa que o Neymar ganhe alguns milhões por mês e você tenha comprado seu carrinho 1.0 em 60 prestações e, com algumas atrasadas, o banco ameace tomá-lo. Não importa que a empresa, na qual você trabalha, esteja ameaçada, por não ter conseguido aquele financiamento do BNDES para modernizar seus equipamentos e que corresponde a um milésimo do concedido ao Corinthians, para construir o “Itaquerão”. Afinal, o que sua empresa produz, alimento? O Corinthians, meu caro, desperta paixões, em cujo nome explodem as mais formidáveis contendas, desde a antiguidade mais remota. Eu diria, com todo respeito, desde a expulsão de Adão e Eva do Paraíso. Não leve a serio as futricas da imprensa, que tudo vai subir, depois da copa, inclusive a cerveja. Aliás, este é mais um motivo para bebê-las, todas que puder. Torça o nariz para os anúncios de que a Petrobrás está indo para o buraco. Afinal, quantas ações da dita cuja você possui? O que você tem a ver com o entra e sai dos mensaleiros da “Papuda”? Nada disso importa. Aqueça seu coração, agite sua bandeira, porque o sonho – com direito a feriados – vai começar. Como dizia Manoel Bandeira (não, não é o dono da padaria da esquina) “evoé, Baco”.
E, “se não ganharmos a copa?”, pergunta você. Aí vamos às ruas, protestar contra o aumento do ônibus, da conta de luz e, principalmente, da cerveja, porque aí já é falta de consideração.


quarta-feira, 14 de maio de 2014

Cheguei a me debruçar sobre o papel para redigir um texto sobre o tema, que segue abaixo, muitíssimo superior ao que tinha na cabeça, até por ser de autoria do mestre de todos nós, Professor Ives Gandra da Silva Martins. Bom proveito a todos.

Não Sou:

- Negro, Nem Homossexual, Nem Índio, Nem Assaltante, Nem Guerrilheiro, Nem Invasor De Terras. Como faço para viver no Brasil nos dias atuais? Na verdade eu sou branco, honesto, professor, advogado, contribuinte, eleitor, hétero... E tudo isso para quê?

Meu Nome é: Ives Gandra da Silva Martins*

Hoje, tenho eu a impressão de que no Brasil o "cidadão comum e branco" é agressivamente discriminado pelas autoridades governamentais constituídas e pela
legislação infraconstitucional, a favor de outros cidadãos, desde que eles sejam índios, afrodescendentes, sem terra, homossexuais ou se autodeclarem pertencentes a minorias submetidas a possíveis preconceitos.

Assim é que, se um branco, um índio e um afrodescendente tiverem a mesma nota em um vestibular, ou seja, um pouco acima da linha de corte para ingresso nas Universidades e as vagas forem limitadas, o branco será excluído, de imediato, a favor de um deles! Em igualdade de condições, o branco hoje é um cidadão inferior e deve ser discriminado, apesar da Lei Maior (Carta Magna).

Os índios, que pela Constituição (art. 231) só deveriam ter direito às terras que eles ocupassem em 05 de outubro de 1988, por lei infraconstitucional passaram a ter direito a terras que ocuparam no passado, e ponham passado nisso. Assim, menos de 450 mil índios brasileiros - não contando os argentinos, bolivianos, paraguaios, uruguaios que pretendem ser beneficiados também por tabela - passaram a ser donos de mais de 15% de todo o território nacional, enquanto os outros 195 milhões de habitantes dispõem apenas de 85% do restante dele. Nessa exegese equivocada da Lei Suprema, todos os brasileiros não-índios foram discriminados.

Aos 'quilombolas', que deveriam ser apenas aqueles descendentes dos participantes de quilombos, e não todos os afrodescendentes, em geral, que vivem em torno daquelas antigas comunidades, tem sido destinada, também, parcela de território consideravelmente maior do que a Constituição Federal permite (art. 68 ADCT), em clara discriminação ao cidadão que não se enquadra nesse conceito.

Os homossexuais obtiveram do Presidente Lula e da Ministra Dilma Roussef o direito de ter um Congresso e Seminários financiados por dinheiro público, para realçar as suas tendências - algo que um cidadão comum jamais conseguiria do Governo!

Os invasores de terras, que matam, destroem e violentam, diariamente, a Constituição, vão passar a ter aposentadoria, num reconhecimento explícito de que este governo considera, mais que legítima, digamos justa e meritória, a conduta consistente em agredir o direito. Trata-se de clara discriminação em relação ao cidadão comum, desempregado, que não tem esse 'privilégio', simplesmente porque esse cumpre a lei..

Desertores, terroristas, assaltantes de bancos e assassinos que, no passado, participaram da guerrilha, garantem a seus descendentes polpudas indenizações, pagas pelos contribuintes brasileiros. Está, hoje, em torno de R$ 4 bilhões de reais o que é retirado dos pagadores de tributos para 'ressarcir' aqueles que resolveram pegar em armas contra o governo militar ou se disseram perseguidos.

E são tantas as discriminações, que chegou a hora de se perguntar: de que vale o inciso IV, do art. 3º, da Lei Suprema?
Para os que desconhecem o Inciso IV, do art. 3°, da Constituição Federal a que se refere o Dr. Ives Granda, eis sua íntegra: "Promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação."
Como modesto professor, advogado, cidadão comum e além disso branco, sinto-me discriminado e cada vez com menos espaço nesta sociedade, em terra de castas e privilégios, deste governo.
Prof.

Ives Gandra da Silva Martins, é um renomado professor emérito das Universidades Mackenzie e UNIFMU e da Escola de Comando e Estado Maior do Exército Brasileiro e Presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo).

terça-feira, 13 de maio de 2014

O Supremo, Políticos e Mensaleiros

O Supremo Tribunal Federal, vivendo em mundo irreal, proibiu as empresas de fazerem doações às campanhas políticas. Vale dizer: institucionalizou o “caixa 2”. Por certo, ninguém é tão ingênuo a ponto de acreditar que os candidatos vão despender recursos próprios ou parcas contribuições de pessoas físicas. No modelo norte-americano, onde a lei é cumprida e a hipocrisia é punida, as doações para tal mister, são livres, desde que os doadores e os donatários as registrem. Na última eleição presidencial, Obama gastou cerca de 300 milhões de dólares e ninguém se escandalizou. Aqui, o PT registrou gastos da ordem de 30 milhões de reais, ninguém acreditou, mas ficou por isto mesmo. Agora, vem esta empulhação de financiamento público de campanha, o governo desviando recursos – que não repassa – da saúde, da educação, para prover um bando de sacripantas, candidatos a larápios do patrimônio público. Uma honesta reforma política deveria começar acabando com o sistema bi-cameral. Sofisma dos mais rudimentares afirmar que o Deputado Federal representa o povo e o Senador representa a Unidade Federativa, como se as duas coisas não se confundissem. E que tal reduzir para 4 o numero de Deputados por Estado?
Informa a mídia que o “fundo partidário” (dinheiro que o governo repassa aos partidos políticos) consome, anualmente, mais de 01 bilhão de reais. Quer dizer, não há recursos para saneamento básico, para programa de combate a dengue, mas sobra para custear as farras – viagens, transplante de cabelo, orgias – dos membros do poder legislativo.

Mudo de assunto e volto ao Supremo. Não é que o Ministro Joaquim – sempre ele -, do alto de sua frustração ditatorial, mandou todos os “mensaleiros”, que trabalhavam fora, de volta à Papuda? Passou por cima da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do próprio Supremo e gritou, espada em riste: -“aqui quem manda sou eu”. Provavelmente, quando a matéria for levada à apreciação de seus pares – muito mais ímpares dele -, vai levar outra tunda. Não tenho simpatia pelo PT e muito menos pelos mensaleiros, mas, de um Juiz (até de futebol) espera-se equilíbrio e sobriedade, virtudes que não integram as características de nosso Joaquim. 
A busca do tempo
Um dos problemas de se ficar velho – a meio a tantos outros – é se ir, progressivamente,  perdendo a referencia com seu tempo, suas coisas e, principalmente, com as pessoas. De larga data, deixei de comparecer a eventos comemorativos de datas – aniversario de formatura, encontro de ex-colegas etc. Além do desprazer de não reconhecer – tanto se descompuseram – antigos “amigos íntimos”, a tristeza de que, toda vez, sempre falta um, levado que foi pela mão da morte. Estupidamente, perguntamos – morreu de que? – como se a forma de que se morreu fizesse alguma diferença. A constatação que fica, é que chegou a hora e a vez de nossa geração e a verdade é nunca acharmos que possamos ser o próximo a ser chamado. “Seja do seu tempo, enquanto é tempo”, dizia um poeta e jornalista, - Sérgio Milliet – lá em minha longínqua juventude. Certa vez, que bebíamos nosso habitual uísque sauer, no “Paribar” (no antigo, com suas mesas e cadeiras de vime se projetando pela calçada) perguntei-lhe como saber que ainda é “nosso tempo”. Ele, com a voz rouca que ainda ecoa em meus ouvidos, esclareceu: - quando seus contemporâneos começarem a morrer, é porque seu tempo acabou-se. Eu já os venho perdendo faz uns 10 anos e escondo a verdade do não tempo chegado ou a mentira de que ainda há tempo a gastar.

Entrei neste assunto pela morte de Jair Rodrigues. Morando na mesma rua, ele ainda incipiente em sucesso, mas sempre com seu sorriso frouxo de quem veio à vida para ser feliz. Viveu, com magia e efervescência, seu tempo e, dádiva que Deus só concede a alguns, partiu de repente, antes que a magia e a efervescência acabassem.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

O Brasil no Ranking do Ensino
Com o peito estufado de orgulho, recebo a noticia que “o Brasil subiu de penúltimo para antepenúltimo lugar na lista dos 40 piores países, em matemática, ciência e leitura, e também em índices de alfabetização e aprovação escolar” (“UOL noticias – 08.5). Palmas para nós, que passamos o México para trás. Provavelmente, já em 2050, graças ao denodado esforço de nossos competentes governantes, talvez subamos mais uma posição.
A verdade é que a educação, no Brasil, jamais foi considerada prioridade. A escola pública, de larga data, não ensina, nem educa e, com as exceções a confirmarem a regra, permite que o aluno complete o ensino médio sem saber escrever. Quanto às escolas particulares, tiveram que reduzir o nível de exigências, para evitarem a “fuga de clientes”. A famigerada “política de quotas” desmereceu a meritocracia, abrindo as portas das Universidades a alunos desqualificados que, se conseguirem concluir seus cursos, derraparão no mercado de trabalho. Afirmar, como o fez certa educadora, que “nós não temos (bons) professores, porque a carreira não é atraente”, é enorme balela. Na verdade, a carreira nunca foi atraente e, apesar disto, já tivemos ensino de alto padrão. Hoje, ele está na rabeira da conjuntura mundial, porque a educação se politizou, na pior acepção do termo e até os livros escolares – alguns com erros crassos -, seguindo o modelo oficial, estão mais preocupados em doutrinar os estudantes. Outro dia, li que uma escola de segundo grau, que se chamava “Presidente Médici”, passou a se chamar “Carlos Marighela”, sendo que nenhum dos dois diz coisa alguma a um jovem de seus 12 anos. Por que o sectarismo? Em nome da democracia no ensino, multiplicam-se as Universidades, despidas de estrutura para o aprendizado. O resultado é o altíssimo índice de reprovação nos exames para ingresso no exercício profissional. Temos maior numero de Universidades do que os Estados Unidos. E daí, qual o resultado prático disso? Qual o maior centro de pesquisa do mundo? Quantos prêmios “Nobel” o Brasil ganhou? Para onde vão nossos estudantes, em busca de cursos de especialização?

Termino, dizendo o óbvio: enquanto mantivermos um ensino subdesenvolvido, seremos um país subdesenvolvido que não é capaz nem mesmo de formar uma seleção de futebol com jogadores que atuem no Brasil.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

A culpa é dos astros
Liga-me um amigo querido, dizendo que, depois de velho, tornei-me panfletário. Recebo o termo não como vitupério, mas como elogio, pois sinal de que não permiti que apagasse em mim a capacidade de me indignar. Como o impedir? A Petrobrás, no olho do furacão, multiplica sua publicidade, mostrando-se linda e poderosa, mas, ao mesmo tempo, “promove” a demissão de 8 mil trabalhadores. Padilha candidato a governar o mais importante Estado da Federação, vem à televisão e, aponta como exemplo de sucesso de segurança pública, as administrações petistas das cidades no entorno da Capital. Será que alguém não disse a esse “sem noção” que a segurança pública é atribuição do Governo do Estado e que as cidades, quando muito, possuem uma “guarda metropolitana” que, além de incipiente, tem atuação restrita, à proteção dos prédios e logradouros públicos? Como não se agitar na cadeira, quando se vê Alckmin e o mesmo Padilha correrem atrás de Paulo Maluf, político considerado maldito, à esquerda e à direita, implorando por seu apoio político? E a invasão dos terrenos, por “sem tetos”, inclusive ao lado do “Itaquerão”? O nosso Prefeito (temos um?) afirma que o déficit habitacional, em nossa urbe, é de 250 mil moradias. Busco os dados no CDHU que dão conta que cada unidade (2 quartos, sala, cozinha e banheiro = 40m²), incluindo infra estrutura, custa por volta de 60 mil reais, que, multiplicados pelos 250 mil do Prefeito, alcançam um valor inferior a 30% do que o governo injetou no estádio do Corinthians. E o País, já com tantos problemas sociais, não é que vai facilitar o ingresso de haitianos?
Felizmente, descobri a causa de tanta inquietação: está nos astros. Recorro ao renomado astrólogo Oscar Quiroga, que assim vaticina para os nascidos sob o signo de aquário:

“Aquário – 21/01 a 19/02 – Tudo é muito intenso, mas também tudo é incerto. Essa combinação é de deixar qualquer alma enlouquecida, pois a intensidade promove decisões, enquanto a incerteza faz com que essas decisões sejam questionadas”  

segunda-feira, 5 de maio de 2014

É a História, Imbecil
Em 1936, sob os olhos complacentes do mundo, a Alemanha retoma a Alsacia Lorena, incorporada que fora à França, por força do tratado de Versalles. O argumento, para a retomada, era que, naquela região, falava-se o alemão e se cultivam usos e costumes alemães, portanto constituíam “espaço vital” para o desenvolvimento da nova Alemanha. Dois anos depois, uma esmagadora eleição plebiscitária decidiu pela anexação da Áustria à Alemanha e a justificativa voltaria a ser o “espaço vital”. Na seqüência, sob os mesmos argumentos, as chancelarias inglesa e francesa entregaram a Hitler o Sudeto, parte meridional da Tchecoslováquia, que também pertencera à Alemanha, até o final de 1918. Somente quando os nazistas voltaram-se contra a Polônia, com os mesmos argumentos é que a Europa Ocidental constatou que a guerra expansionista do III Reich não teria ponto final. E o mundo mergulhou no mais espetacular conflito, que a história registrou. Impressiona-me como a história é impiedosa para aqueles que, emburrecidos, não querem percorrer suas lições. Ninguém, dotado de um mínimo de senso critico, podia aceitar que o esfacelamento da União Soviética, em 1989, fosse recebido com vodka e champangne pelos russos, da mesma forma que só a pretensão imaginava a Alemanha inerte, após lhe ser retirado um terço de seus territórios, de sua população e de suas riquezas. Putin repete Hitler e, depois de retomar a península da Criméia, estende suas mãos para buscar toda a Ucrânia, com suas riquezas minerais.  Putin, mirando-se no exemplo de Hitler, estimula o povo, que fala russo, que cultiva usos e costumes russos, a se insurgirem contra os fracos administradores ucranianos. Putin trata com desdém as ameaças do Ocidente, meras ameaças, porque dependem do gás russo, sem contar que o efetivo militar russo é, pelo menos 3 vezes superior ao ucraniano. Que farão os “aliados” de hoje: entregarão a Ucrânia, como, outrora entregaram a Eslováquia, ou serão capazes de tomar efetivas medidas que conterão Putin, dentro de seu espaço? Obama, ontem, em solenidade na Casa Branca, ridicularizou Putin? De se lembrar que Daladier, o Primeiro Ministro francês, chamava Hitler de “le petit homme et leur ridicule monstache” (o pequeno homem e seu ridículo bigode). Pois aquele ridículo bigode, em pouquíssimo tempo, desfilaria sob o Arco do Trinfo.

Começaria tudo outra vez?

sexta-feira, 2 de maio de 2014

O Feriado da Justiça

O “Fantástico”, na esteira de matéria vinculada no “New York Times”, criticando a baixa produtividade do trabalhador brasileiro, tem exibido reportagem seqüencial, comparando a desproporção, em nosso prejuízo, é claro, do que produzimos e do que produzem os norte-americanos. O assunto veio-me
à cabeça, nesta inútil sexta feira, quando todo o Poder Judiciário, Estadual e Federal, “decretou” feriado, ele, cuja semana santa começou na quarta feira. Como é largamente sabido, os processos se arrastam, preguiçosos, trazendo incomensuráveis prejuízos para os cidadãos que batem às portas do Poder Judiciário, buscando a reparação de seus direitos lesionados. Já se consagrou o jargão de que “justiça lenta não é justiça”. Infelizmente, trata-se, tão somente, de frase de efeito, inútil, como esta sexta feira preguiçosa, intercalada entre o fim de semana e um feriado, ironicamente denominado “dia do trabalho”.