COMO EXTRAIR PRAZER DE UMA NOITE DE
INSÔNIA
Um
acontecimento imprevisto e desagradável (nada que não possa ser rapidamente
superado), roubou-me o sono, tirando-me da cama às duas horas da madrugada. E,
como sempre faço nessas ocasiões, refugiei-me na leitura, que me conduz a
mundos distantes do problema, que me atormenta. Vinha eu da frustração
intelectual dos “Cinqüenta Tons de Cinza”, badalado livro, que já vendeu cerca
de dois milhões de exemplares, malgrado sua insuportável mediocridade, sobre a
qual já falei aqui. Grande sucesso, mas enorme porcaria. Relembro Nelson
Rodrigues: “A unanimidade é sempre burra.”
Mas hoje, após a madrugada não dormida, quero falar de um livro que, por sorte,
ganhei ontem do próprio autor e que me acompanhou até o romper do dia. Trata-se
do “Anagrama” (editora Letras do
Pensamento), de meu amigo, Desembargador Mario Antonio Silveira, para mim,
muito mais importante como amigo do que como Desembargador, apesar de seu
incontestável saber jurídico. Ele e eu sabemos separar os dois mundos, tanto
assim é que, relatando um processo meu, não se constrangeu não se dando por
impedido, do mesmo modo em que não se constrangeu em julgar contra meus
interesses.
Mas,
falo do livro “Anagrama”: para
começar, é prefaciado pelo poeta Paulo Bomfim, o que não é para qualquer um. Se
quiserem, pode ser uma ou várias histórias de amor, vividos e perdidos. Mas, se
também quiserem, é a história de lutas internas e externas, que começa no
interior da França, ao eclodir da segunda guerra mundial, passa pelo Rio de
Janeiro e termina, quarenta anos depois, em um parque de Paris, num encontro,
que poderia ser um reencontro, mas que o autor prefere perpetuar em lembranças físicas. Mario
Antonio percorre lugares mágicos, no Rio dos anos 40 e até
nos indica bons vinhos. Mais, não digo, para não tirar o prazer da leitura de
um bom livro, “avis rara”, em tempo de tantos medíocres tons de cinza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário