COMEMORAÇÃO DO CINQUENTENÁRIO DO CONCILIO VATICANO II
Completa-se, hoje, 11 de
outubro, meio século que o Papa João XXIII abriu o “Concilio Vaticano II”, que
tinha como objetivo promover a modernização da Igreja de São Pedro. Apenas a
título de exemplo, convém lembrar que a missa era, até então, rezada em latim
e, a partir do Concílio, passou a sê-lo nos idiomas dos respectivos países. Naquele
conclave, duas correntes se confrontaram: a tradicionalista, que não concordava
com as mudanças, e a renovadora, que as entendia como absolutamente necessárias.
O atual Papa, Bento XVI, uma das maiores inteligências e culturas produzidas
pela Igreja, integrava a ala que pugnava pela modernização e que terminou tendo
suas idéias prevalentes, abrindo espaço para seguidos aperfeiçoamentos. Vivia-se
um período de grandes agitações políticas. A guerra fria atingia seu ponto mais
crítico, com a tentativa dos Estados Unidos de desestabilizarem o Governo Fidel
Castro, no episódio que ficou conhecido como “Baía dos Porcos”. No Oriente Médio,
as relações de Israel com o mundo árabe começava a se deteriorar, degenerando, poucos
anos depois, em conflitos, que perduram até nossos dias. Na América do Sul, a
crescente ameaça comunista trazia inquietação e insegurança, o que faria com que
países como Brasil, Argentina, Chile e Uruguai descambassem para regimes autoritários,
com supressão das liberdades individuais. Por certo, a Igreja não podia ficar
alheia a tais acontecimentos, voltada, exclusivamente, para sua missão espiritual.
A evangelização deveria ter conceito mais abrangente, principalmente abraçando
a necessidade de discutir e participar, de forma efetiva, das necessidades
sociais dos menos favorecidos. Talvez tenha sido essa a principal vitória dos
que, no Concílio, pregavam a modernização da Igreja. Não se tratava, é claro, de
se imiscuir nas questões de Estado, mas, sim, tomar posição clara e firme
naquelas, em que estava em jogo o exercício de uma vida digna, no conceito
Tomista do termo. Deus não quer o ser humano vilipendiado, física e moralmente
e esta lição foi expressamente ministrada por Cristo. Assim, a partir do
Concílio, a Igreja “foi para as ruas”, em defesa da dignidade humana. Como não poderia
deixar de ser, essa nova postura trouxe extremos. Iria surgir, por exemplo, uma
“Igreja Progressista”, que chegou ao exagero de pregar um Cristo socialista, revolucionário
armado. Como sói acontecer, com o tempo, principalmente sob o pontificado de
João Paulo II, esses exageros foram extirpados e os que professaram visão tão equivocada,
ou se voltaram para a verdadeira doutrina da fé, ou abandonaram o clero. O Sumo
Pontífice, Bento XVI, com a autoridade de quem se filiou à ala modernizadora, vem,
com extrema competência, recompondo os verdadeiros valores da Igreja Católica, demonstrando
a necessidade de se valorizar a liturgia sem, no entanto, perder a percepção de
que não podemos fechar os olhos para os necessidades de nossos semelhantes. A
este ponto, convém trazer à colação a seguinte lição formulada por Bento XVI, em
sua exortação apostólica “Sacramentum Caritatis”: “com efeito, quem participa na Eucaristia deve empenhar-se na edificação da paz neste
nosso mundo marcado por muitas violências e guerras e, hoje de modo particular,
pelo terrorismo, pela corrupção que estão em contraste com a dignidade do homem,
pelo qual Cristo derramou seu sangue, afirmando assim o valor de cada pessoa.”
Felizmente, para nós, católicos, Bento XVI, passados 50 anos, persevera em sua
vontade de modernizar a Igreja e, neste pastoreio, espera e exige nossa colaboração.
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