quarta-feira, 15 de agosto de 2012


PARA UM AMIGO OCULTO

Contrariando a intenção que me levou a editar este blog – não bajular nem criticar gratuitamente ninguém – hoje vou falar de um amigo que, para mim, virou sinônimo de equilíbrio e superação. Seu nome não precisa nem deve ser declinado, porque, muito mais importante são suas lições de vida. Conheci-o lá se vão mais de vinte anos. Vida pessoal e profissional pra lá de estável. Empresário muitíssimo bem sucedido no ramo de prestação de serviços, família – esposa lindíssima, diga-se de passagem – bem constituída, levava a vida com o conforto que merecia, mas sem qualquer sintoma de esnobismo, vírus que grassa entre os afortunados. Não era político, mas mantinha vínculos com o PMDB que, à época, governava nosso Estado. Em 1995 Covas chega ao Poder e seus asseclas iniciam pérfida e renhida caçada a esse meu amigo e a suas empresas. Seus principais contratos são, de inopino e unilateralmente, rompidos e ele se vê frente a frente com algumas milhares de rescisões trabalhistas a pagar e a que ele não dera causa. Ao contrário do habitual, ele esgotou suas reservas financeiras, endividou-se, comprometeu seu vasto patrimônio e minimizou o prejuízo de milhares de trabalhadores humildes que, não fosse seu compromisso moral consigo mesmo, teriam passado necessidades primárias. Sua sede monumental, em Alphaville, transformou-se em um liliputiano meio andar, num prédio modesto. Convivi com ele nesse período sombrio e dele jamais ouvi um lamento ou uma imprecação contra seus algozes. Mantinha a mesma voz equilibrada e a mesma sensata atitude dos bons tempos. Mas os ventos continuavam a desafia-lo. Destruído o patrimônio material, viria a ruptura de seu bem maior, sua família. Decretada sua separação, com a perda da guarda dos filhos, viveu ele o sofrimento da solidão, a que não deu causa. Saltava de seus olhos a tristeza, mas de sua boca nunca se ouviu um impropério, uma crítica mais virulenta à mulher que se fora, levando-lhe o filhos (que, mais tarde, a ele retornariam, espontaneamente). Agora enfrenta ele grave problema de saúde que o obrigará a se submeter a uma complexa cirurgia. Fomos almoçar ontem. Preocupava-me como estaria ele, emocionalmente. Preocupação sem sentido: vislumbrei o mesmo equilíbrio de sempre. Falamos de política e de políticos, os bons e os maus. Falou-me ele de seus planos, sempre com um sorriso, às vezes com gargalhadas até. De seu mau físico e da cirurgia próxima, tratou-os como coisa de somenos. Cheguei pesado ao encontro e saí leve, tendo a certeza que esta, a doença infame, será apenas mais um adversário que ele enfrentará e, com certeza, vencerá. Não sei porque, mas cruzei a Avenida Paulista pensando no tema de meu vestibular, realizado meio século passado: “Vence duas vezes quem vence a si mesmo.

Amigo, você é o cara.

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