PARA UM AMIGO OCULTO
Contrariando
a intenção que me levou a editar este blog – não bajular nem criticar
gratuitamente ninguém – hoje vou falar de um amigo que, para mim, virou
sinônimo de equilíbrio e superação. Seu nome não precisa nem deve ser declinado,
porque, muito mais importante são suas lições de vida. Conheci-o lá se vão mais
de vinte anos. Vida pessoal e profissional pra lá de estável. Empresário
muitíssimo bem sucedido no ramo de prestação de serviços, família – esposa
lindíssima, diga-se de passagem – bem constituída, levava a vida com o conforto
que merecia, mas sem qualquer sintoma de esnobismo, vírus que grassa entre os
afortunados. Não era político, mas mantinha vínculos com o PMDB que, à época,
governava nosso Estado. Em 1995 Covas chega ao Poder e seus asseclas iniciam
pérfida e renhida caçada a esse meu amigo e a suas empresas. Seus principais
contratos são, de inopino e unilateralmente, rompidos e ele se vê frente a
frente com algumas milhares de rescisões trabalhistas a pagar e a que ele não
dera causa. Ao contrário do habitual, ele esgotou suas reservas financeiras,
endividou-se, comprometeu seu vasto patrimônio e minimizou o prejuízo de
milhares de trabalhadores humildes que, não fosse seu compromisso moral consigo
mesmo, teriam passado necessidades primárias. Sua sede monumental, em
Alphaville, transformou-se em um liliputiano meio andar, num prédio modesto.
Convivi com ele nesse período sombrio e dele jamais ouvi um lamento ou uma
imprecação contra seus algozes. Mantinha a mesma voz equilibrada e a mesma
sensata atitude dos bons tempos. Mas os ventos continuavam a desafia-lo.
Destruído o patrimônio material, viria a ruptura de seu bem maior, sua família.
Decretada sua separação, com a perda da guarda dos filhos, viveu ele o
sofrimento da solidão, a que não deu causa. Saltava de seus olhos a tristeza,
mas de sua boca nunca se ouviu um impropério, uma crítica mais virulenta à
mulher que se fora, levando-lhe o filhos (que, mais tarde, a ele retornariam,
espontaneamente). Agora enfrenta ele grave problema de saúde que o obrigará a
se submeter a uma complexa cirurgia. Fomos almoçar ontem. Preocupava-me como
estaria ele, emocionalmente. Preocupação sem sentido: vislumbrei o mesmo
equilíbrio de sempre. Falamos de política e de políticos, os bons e os maus.
Falou-me ele de seus planos, sempre com um sorriso, às vezes com gargalhadas
até. De seu mau físico e da cirurgia próxima, tratou-os como coisa de somenos. Cheguei
pesado ao encontro e saí leve, tendo a certeza que esta, a doença infame, será
apenas mais um adversário que ele enfrentará e, com certeza, vencerá. Não sei
porque, mas cruzei a Avenida Paulista pensando no tema de meu vestibular,
realizado meio século passado: “Vence
duas vezes quem vence a si mesmo.”
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