terça-feira, 28 de agosto de 2012


Almoçando com amigos, todos da mesma vetusta faixa etária, abriu-se debate, sobre o que mais o acúmulo dos anos incomodava. As opiniões divergiam, havendo consenso apenas no que concerne às mazelas físicas. Sustentavam uns que nós, mais velhos, estamos sendo excluídos do mercado de trabalho. Não me sinto atingido, pois tenho trabalhado mais do que há 10 anos atrás, chegando ao escritório às 8 horas e raramente deixando-o antes das 20. Afirmavam outros da dificuldade de entendimento com os mais jovens. De minha parte, entendo que essa dificuldade, além de remontar a séculos, é ela natural e é bom que assim o seja, pois a experiência, como dizia Roberto Campos, é "lanterna de popa", vale dizer, apenas ilumina para trás, tendo, pois, quase nenhuma utilidade, a não ser para nós mesmos. Na verdade, o que aprendemos, o que vivemos deu-se dentro de uma conjuntura histórica, geral e pessoal, via de regra, intransferível. Instado a emitir minha opinião, além da inevitável degenerescência física, incomoda-me a precariedade intelectual dos dias atuais. E dou um exemplo: já lá vão quatro semanas que a revista "Veja" informa como sendo "o mais vendido" o livro "Cinqüenta Tons de Cinza", da novata autora inglesa, E. L. James. Mesmo com as restrições, que tenho, a este tipo de "eleição", comprei o livro e, para minha tristeza, confirmou-se a suspeita: o livro é absolutamente primário. Para começar, a personagem principal é uma jovem de 21 anos, recém saída de uma Universidade americana e que é ainda virgem. Nem os devaneios mais pueris poderiam conceber uma mulher americana, de 21 anos, saindo de uma Universidade e ainda... virgem. Detalhe: essa jovem mora com uma colega, apenas as duas, distante da "vigília" paterna. Na seqüência, essa donzela vai entrevistar um magnata solteiro, de 25 anos, cuja atividade empresarial não está esclarecida no canhestro texto. Só que esse milionário é adepto do sadomasoquismo e pretende introduzi-la nessa, digamos, arte. Para tanto, deve ela assinar um contrato que, na forma e no conteúdo, não seria digno de aluno de primeiro ano de Direito. E a autora segue numa crescente mediocridade, incapaz de dar substância ao enredo e vida aos personagens. As cenas, pretensamente eróticas, estão mais para baixa putaria. E o pior é que ela, a autora, promete uma trilogia, o que não é promessa, é ameaça. Para quem se interessa por erotismo de bom gosto, recomenda-se (ainda) "O Amante de Lady Chanterley", escrito por Charles Morgan, há cerca de um século. Quem optar por um erotismo mais forte, picante e muito divertido, é de se visitar "Os Budas Ditosos", de João Ubaldo Ribeiro. Enfim, inacreditável, como livro tão medíocre, como o da Lady James possa figurar como o mais vendido, na relação de uma revista da importância de "Veja".

Nenhum comentário:

Postar um comentário