Almoçando com amigos, todos
da mesma vetusta faixa etária, abriu-se debate, sobre o que mais o acúmulo dos
anos incomodava. As opiniões divergiam, havendo consenso apenas no que concerne
às mazelas físicas. Sustentavam uns que nós, mais velhos, estamos sendo
excluídos do mercado de trabalho. Não me sinto atingido, pois tenho trabalhado
mais do que há 10 anos atrás, chegando ao escritório às 8 horas e raramente deixando-o
antes das 20. Afirmavam outros da dificuldade de entendimento com os mais
jovens. De minha parte, entendo que essa dificuldade, além de remontar a
séculos, é ela natural e é bom que assim o seja, pois a experiência, como dizia
Roberto Campos, é "lanterna de popa", vale dizer, apenas ilumina para
trás, tendo, pois, quase nenhuma utilidade, a não ser para nós mesmos. Na
verdade, o que aprendemos, o que vivemos deu-se dentro de uma conjuntura histórica,
geral e pessoal, via de regra, intransferível. Instado a emitir minha opinião, além
da inevitável degenerescência física, incomoda-me a precariedade intelectual
dos dias atuais. E dou um exemplo: já lá vão quatro semanas que a revista "Veja"
informa como sendo "o mais vendido" o livro "Cinqüenta Tons de
Cinza", da novata autora inglesa, E. L. James. Mesmo com as restrições, que
tenho, a este tipo de "eleição", comprei o livro e, para minha
tristeza, confirmou-se a suspeita: o livro é absolutamente primário. Para
começar, a personagem principal é uma jovem de 21 anos, recém saída de uma
Universidade americana e que é ainda virgem. Nem os devaneios mais pueris
poderiam conceber uma mulher americana, de 21 anos, saindo de uma Universidade
e ainda... virgem. Detalhe: essa jovem mora com uma colega, apenas as duas, distante
da "vigília" paterna. Na seqüência, essa donzela vai entrevistar um
magnata solteiro, de 25 anos, cuja atividade empresarial não está esclarecida
no canhestro texto. Só que esse milionário é adepto do sadomasoquismo e
pretende introduzi-la nessa, digamos, arte. Para tanto, deve ela assinar um
contrato que, na forma e no conteúdo, não seria digno de aluno de primeiro ano
de Direito. E a autora segue numa crescente mediocridade, incapaz de dar substância
ao enredo e vida aos personagens. As cenas, pretensamente eróticas, estão mais
para baixa putaria. E o pior é que ela, a autora, promete uma trilogia, o que
não é promessa, é ameaça. Para quem se interessa por erotismo de bom gosto, recomenda-se
(ainda) "O Amante de Lady Chanterley", escrito por Charles Morgan, há
cerca de um século. Quem optar por um erotismo mais forte, picante e muito divertido,
é de se visitar "Os Budas Ditosos", de João Ubaldo Ribeiro. Enfim, inacreditável,
como livro tão medíocre, como o da Lady James possa figurar como o mais vendido,
na relação de uma revista da importância de "Veja".
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