Apesar de minha definitiva formação ideológica, não perco a
oportunidade de aprender, com os que me são culturalmente superiores, mesmo de
posições contrárias. Certa feita, dileto amigo, que me visitava, ao percorrer
minha biblioteca, observou, entre surpresa e ironia: “quem não o conhece e o avaliasse pelos seus livros, não teria dúvida,
em afirmar que você quase pertence à esquerda”. Se eu tivesse que indicar
obras importantes da literatura mundial, com certeza, incluiria “Germinal”, de Emile Zola e “Quarup”, de Antonio Callado e que longe
estão de se situarem na margem direita do rio.
Fiz toda essa introdução para comentar – e recomendar – que atravessei
a madrugada, lendo as “Cartas da Prisão”,
de Frei Betto. Frei Betto pertenceu a um grupo de padres dominicanos, liderados
por Carlos Marighella, que realizaram ações subversivas, principalmente, a
partir de 1968. A principal função de Frei Betto, era coordenar a fuga de
companheiros, a partir de Porto Alegre, com destino ao Uruguai e Argentina.
Preso, em 1969, passou por vários presídios, até ser libertado, ao final de
1973. Em suas “Cartas”, escritas a
parentes e amigos, demonstra serenidade e fé, mas, acima de tudo, apresenta sua
visão pessoal dos textos bíblicos e da imperiosa necessidade de a Igreja
Católica aproximar-se das comunidades carentes. Discordo, frontalmente de Frei
Betto, que prega o socialismo, como forma de o Estado e a própria Igreja se
conduzirem, mas concordo, quando afirma “que
muitos cristãos tenham uma visão estática da missa, apenas uma cerimônia
dominical, sem nenhuma repercussão em suas vidas concretas”. Esta era,
também, a visão do Papa Bento XVI, e que, através das “pastorais” deu dinamismo à Igreja Católica..
Como Frei Betto assinala, na “introdução”, “este livro
retrata as duras provocações a que foram submetidas os presos políticos”,
fato que já era do conhecimento de todos que viveram aquela época. Apesar da
angústia da prisão, Frei Betto não
claudicou na fé e manteve a esperança utópica de que, com a ascensão da classe
operária ao Poder, o Brasil viveria “tempo
de socialismo”. Essa esperança fê-lo se aproximar de Lula e do PT, que
abandonou, depois de constatar que ambos tinham um projeto pessoal de governo e
onde o pobre entrava apenas como massa de manobra.
O livro merece ser lido, não só como documento histórico, mas
também, para os católicos, como reflexão de relevantes temas de nossa religião.
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