sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Por conta do Evangelho de hoje

Como já alardeei aqui, não começo o trabalho, antes, até, do primeiro cafezinho, sem ler e refletir sobre o “Evangelho do dia”. No de hoje, cognominado “Evangelho do perdão”, (Mateus, 5, 20-26), Jesus assevera: “quando estiveres levando tua oferenda ao altar e ali te lembrares que teu irmão tem algo contra ti, deixa tua oferenda diante do altar e vai primeiro reconciliar-se com seu irmão.”

Quanto mais persisto na leitura do Evangelho, sinto não ter a menor possibilidade de passar, nem mesmo pelas imediações do céu e já me darei por satisfeito se tiver uma vaga no purgatório e o Evangelho de hoje consolida esta convicção. Não armazeno ódio ou ressentimento, a não ser por um árbitro de futebol, que legitimou um gol do Fluminense, roubando do Botafogo o título de campeão carioca de 1971. Não consegui, até hoje, esquecer o nome dele, José Marçal Filho. Afora esse caso isolado, quando me indisponho com uma pessoa, simplesmente, tiro-a de minha vida, nem mesmo repito o nome dela. É como se ela não existisse e, se não existe, não me pode ser objeto de ódio ou ressentimento. Como, então, reconciliar-me com quem não existe? Na mesma passagem do Evangelho, Jesus determina: “não cometerás homicídio”. E esse “homicídio”, que não pode ser cometido, não se limita à morte física: “todo aquele que tratar o irmão com raiva, deverá responder no tribunal”. Posso argumentar que tirar alguém de minha vida, não caracteriza ato de raiva, por isso torno-me inimputável. Todavia, sabemos, Jesus não se deixa enganar com sofisma de advogado “mequetrefe”, porque ele exige “reconciliação”. É como se ele dissesse para mim: “desenterre as pessoas que enterrou vivas, reconcilie com elas e, somente depois disto, será digno de meu perdão”. Ai fica difícil, porque teria, além de superar o orgulho, convencer-me a mim mesmo, que estava errado, quando promovi o enterro. Então fica assim mesmo, como está: transformar os desafetos em inexistentes, é menos grave que odiá-los e espero merecer a complacência divina, na hora de meu julgamento.

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