A mídia – com exceção à “Carta
Capital” – vem dando como definitiva a saída de Temer da Presidência da
República, com eleição indireta de novo mandatário pelo Congresso Nacional,
entre qualquer brasileiro, filiado a partido político. A esquerda,
representada, predominantemente, pelas organizações sindicais de trabalhadores
e assemelhadas, como o MST, protestam por eleições diretas já, ante a
possibilidade real de Lula ser eleito. Revista, deste último fim-de-semana,
chegou a relacionar os presidenciáveis, na hipótese de eleição indireta,
incluindo o Ministro Meirelles nesta relação, o que é equívoco, já que ele,
como Ministro do atual governo, não teria prazo hábil para se
desincompatibilizar, adquirindo, assim, condições legais para ser candidato.
Ouvi sociólogos, analistas políticos e juristas, debatendo a saída para a crise
política, que se instalou desde a delação premiada, homologada, de modo
imperfeito, pelo Ministro Edson Fachin. Tal delação, com certeza, será
submetida ao plenário do Supremo e, tenho para mim, corre o risco de ser
anulada. Quanto à cassação da chapa, “Dilma-Temer”,
pelo TST, parece improvável que se resolva a curto prazo,
seja por possível pedido de vista, seja
porque, contra qualquer decisão, cabe recurso ao Supremo. Quanto aos pedidos de
impeachment do Temer, é lícito concluir que o Presidente da Câmara, Rodrigo
Maia não os colocará em pauta, enquanto as questões, aqui citadas, não
estiverem definitivamente resolvidas. Aliás, o pai de Rodrigo, Cesar Maia, em
entrevista concedida ao jornal “O Globo”,
edição de ontem, domingo, desenvolveu a mesma linha de raciocínio. De se
concluir, pois, que impasse não tem data para encerrar, admitindo-se que
perdure, até as eleições do próximo ano. E o Brasil, como fica? Se as reformas
são fundamentais para o equilíbrio econômico das contas públicas, como fica a
aprovação de tais reformas, com a base aliada “rachada”? Terá a equipe econômica um “plano b”, caso as reformas
não sejam aprovadas? O Brasil não pode se vítima de interesses subalternos.
Leio, com espanto – e a capacidade de me indignar, já a perdi – que Lula e
Sarney foram chamados para ajudarem a solucionar a crise. Dá pra acreditar?
segunda-feira, 29 de maio de 2017
sexta-feira, 26 de maio de 2017
De volta ao passado
Como tanta gente por aí, estou na lida desde os 14 anos,
quando fui trabalhar com um irmão, numa fábrica de pisos. Todavia, de tudo que
fiz, até chegar ao exercício da advocacia, o mais prazeroso foi ter sido professor.
Comecei dando aulas particulares, sempre na área de “humanas” e, aos 21 anos ingressei, como Professor de Português e
Literatura, para o então curso colegial, período noturno, no “Liceu Siqueira Campos”, próximo ao Largo
do Cambuci e freqüentado por alunos da classe média. Dava 100 aulas mensais, 05
por noite. A grana era pouca, mas, reunidas às aulas particulares, dava para
pagar a faculdade e o aluguel de apartamento, à época chamado “já vi tudo”: bastava abrir a porta da
frente, o que se devia fazer com cuidado, pelo risco de sair pela janela. Havia
dois grupos de professores, os “velhões”, na faixa dos 40 e poucos anos e nós,
os jovens, todos ainda na faculdade e rigorosamente iguais, em penúria
financeira. Formávamos um time de futebol-de-salão, que não tinha pra ninguém,
nem para alunos e muito menos para professores de outros colégios. Modéstia a
parte, no gol, eu era muralha e, lá na frente, o José Milton Dallari – que me
honra com sua amizade, até hoje – era o Messi, sem qualquer exagero. Chegou a
ser convidado a jogar na Itália, mas preferiu servir ao Brasil, trabalhando,
primeiro com o Ministro Delfim Netto e, depois, no governo Itamar, integrou,
como Secretário de Controle de Preços, a equipe que criou o Plano Real. O certo
é que nós, os “professores jovens”,
formávamos uma “tribo”, fora e dentro
do colégio. Algum tempo depois, fui lecionar no “Liceu Eduardo Prado” – também
já “falecido” -, que ficava, se ainda
me recordo, na Rua Urussuaí, no Itaim, então bairro de bacana. Como professor,
reconheço, fui um chato, perseguindo os alunos com análise sintática, através de intrincados períodos
compostos, extraídos de Camões e Alexandre Herculano. Com indisfarçável
sadismo, via-os correr atrás de orações principais, sujeitos e outros elementos,
quase sempre encravados em lugares quase inacessíveis. E, naquela época, havia
exame oral, que chamávamos a “hora da
vingança”. Sabe aquele aluno, metido a engraçadinho, que perturbava a aula,
com piadinhas sem graça? Pois ei-lo a nossa frente, pronto a ser inquerido. Que
tal uma pergunta que tínhamos a certeza que ele não sabia a resposta? Por
exemplo: “diga qual o poeta e a escola
literária a que pertenceu, cujo nome é um alexandrino perfeito”. Por certo,
fazia eu cara de desprezo, diante do silêncio do infeliz. Não cultivei o hábito
de reprovar. Aprendi, desde cedo, que a vida se encarregaria de se desincumbir
dessa desagradável missão. O tempo passou e o padrão de ensino sofreu radical
transformação. O “idioma”, que se usa na internet, nada tem a ver, na forma e
conteúdo, com o que aprendi e tentei ensinar. Se mudou para melhor ou pior, não
tenho aptidão para avaliar. Aquela gama de conhecimentos, que acumulamos, hoje,
é considerada “cultura inútil”, até
porque o “Google” está aí mesmo para
fornecer a informação desejada. Faço a memória viajar, sem melancolia. Como me
ensinou o poeta Sergio Milliet, companheiro de “uisque sauer”, no velho “Paribar,
o importante é ser do seu tempo, enquanto é tempo”.
Obs.: caso o Google não informe: o poeta cujo nome era um
alexandrino perfeito, chamava-se “Olavo
Braz Martins dos Guimarães Bilac” e pertenceu ao parnasianismo, escola
literária que cultuava a arte pela arte – “ars
gratia est”, como esculpido atrás do leão da “Metro”.
terça-feira, 23 de maio de 2017
Rodolfo, eu e a JBS
Foi um fim-de-semana para não se esquecer. A chuva inclemente
prendeu-me, a mim e ao Rodolfo, em casa. Fiquei a ler, na sala e, de quando em
vez, ele me espiava, pela janela, como a perguntar o que faríamos. A certa
altura, contrariando ordens expressas de minha esposa, deixei-o entrar. Ele tem
o hábito de, tão logo adentra ao ambiente, fazer rápido xixi no braço do sofá,
que eu limpo, correndo. Diz que é para marcar território, o que afirmo ser
desnecessário, porque todos os espaços, inclusive o do meu coração, já lhe
pertencem. Peço-lhe que não faça barulho, pois, se a madame acordar ele será posto pra fora e vou “ouvir um monte”, que eu preciso procurar
psiquiatra, com essa loucura de conversar com cachorro. Ela jamais entendeu
esta nossa sinergia, que surgiu desde o primeiro dia, quando fui buscá-lo lá no
canil. Lembro-me de que, quando entrou no carro, foi logo dizendo – “que bom que é você!”. Confesso que tomei
um susto, mas logo me acostumei e agradeci a Deus por me ter mandando você,
disse-lhe, para me tirar da solidão, que a velhice traz, esta sensação, quase
certeza, que vamos sendo postos de lado, como roupa velha que não serve mais,
como dizia o excelente Belchior. A morte é, para mim, manifestação
incompreendida de Deus, que leva tanta gente boa, como o próprio Belchior e
deixa estes pústulas, que afundam, cada vez mais, o Brasil. Enquanto divagava,
com a “Pastoral” de Beethoven, ao
fundo, Rodolfo acomodou-se a meu lado, perguntando-me, como se fosse eu
oráculo, se sairíamos desta enrascada toda, e o que justificava terem todos os
partidos e tantos políticos estarem envolvidos neste esquema de corrupção. Procuro explicar-lhe que este mal, desde
sempre, esteve presente no sangue da política brasileira, cuja relação com o
empresariado – de péssima qualidade, diga-se de passagem -, sempre foi espúria.
Para não recuar muito, na história, lembrei que o governo Getúlio Vargas
utilizava-se do Banco do Brasil, para ajudar os “amigos” e a construção de Brasília enriqueceu muitos “amigos” de Juscelino. Receber vantagens
indevidas e pagar propina por isto, sempre foi regra dessa relação prostituída,
na qual também está envolvida boa parte da Imprensa, apesar dessa pose de
vestal, que não convence, pelo menos aos que, como eu, pela longevidade,
passaram a “testemunhas oculares da
história”. Mas Rodolfo quer saber o que acho de mais escabroso, nesta
história, envolvendo a “JBS” e os
políticos citados. “É claro que tudo é
escabroso – respondo eu -. A começar pelo Presidente receber, na calada da
noite, um pulha, como esse Joesley e com ele trocar diálogos, nada
republicanos. E o interessante é que a “armação”, na qual se enroscou Temer,
foi montada pela Polícia Federal, que é subordinada ao Ministério da Justiça
que é subordinado... ao Presidente da República. Conclusão: o tapete de Temer e
de seus aliados, como Aécio, foi puxado por gente de dentro da Casa, o que
impõe concluir que os inimigos do governo são mais poderosos do que os amigos.
Acrescento que os donos da JBS cometeram um rosário de crimes: organização
criminosa, corrupção ativa, gestão temerária, sonegação fiscal, ocultação de
bens e valores, remessa indevida de valores para o exterior, falsidade
ideológica, obstrução da justiça e vários outros, cujas penas, somadas chegam a
mais de 100 anos de reclusão. Deveriam ter tido a prisão preventiva decretada,
como o tiveram Marcelo Odebrecht e tantos outros empresários. Ao invés disto, -
informa a mídia – os donos e executivos foram liberados, sem qualquer medida
restritiva, embarcando para os Estados Unidos onde, segundo a mesma Imprensa,
levam vida de extremo luxo. Quem os liberou? Segundo o delator, Joesley, ele
tinha, “no bolso”, juízes e procuradores. Quem os podia liberar era tão somente
o Ministro Facchin, que homologou a delação e autorizou as medidas
persecutórias, realizadas pela Procuradoria da República e Polícia Federal. A
alegação de que os donos da JBS estavam sendo vítimas de ameaças e esta teria
sido a justificativa para serem liberados a viajar, é pífio. Presos, estariam
eles e os interesses nacionais, muito mais protegidos. Inaugura-se nova fase no
Direito Brasileiro: quanto mais contundente for a delação, feita pelo
criminoso, por mais grave que tenha sido o crime, por ele cometido, mais certo
é que receba, por prêmio, sua liberdade, ampla, geral e irrestrita. Acho que os
advogados de Fernandinho Beira-Mar e Marcola encontraram caminho para
libertá-los.”
Ao completar minha tímida exposição, Rodolfo ergueu-se e,
olhos nos olhos, pediu-me, com profunda tristeza, para entregar-lhe seu
passaporte alemão. Não sei não, mas acho que estou na iminência de perder meu
melhor e mais íntimo amigo.
sexta-feira, 19 de maio de 2017
Vamos sair da crise?
Como já se esperava, o
lodaçal, que já tinha abraçado as duas casas do Congresso Nacional, invadiu e
tomou, por completo, o Palácio do Planalto. Na linha sucessória de Temer
encontra-se Rodrigo Maia, citado na “lava-jato”.
As reformas, trabalhista e previdenciaria, vão para o ”arquivo morto”. Sem elas, afirma a área econômica do governo, o
País para (do verbo parar), o que significa: ficamos onde estamos, com a bolsa
despencando, o dólar subindo e nossa credibilidade internacional mais baixa do
que bunda de sapo. Se se optar por uma saída democrática, a única viável é a
antecipação, no máximo em 60 dias, de novas eleições gerais, oportunidade ímpar
de recomposição do cenário político. E se o Lula ganha?, já antevejo
Rodolfo a me mostrar os dentes e a eriçar o pelo, em sinal da incontida raiva.
Uai, digo eu, voltando-me à origem mineira, toma posse e vida que segue. Como o
Presidente da República não pode ser processado por fatos anteriores a sua investidura, ficarão suspensos todos os
processos, instaurados contra ele. Pode até ser – sonhar não custa nada – que
ele, depois de tantas experiências negativas vividas, seja capaz de montar um
Ministério predominantemente técnico e tirar o Brasil deste atoleiro, em que
nos encontramos. Depois desta “suruba
moral”, habitamos um deserto de líderes, à esquerda e à direita, abrindo as
portas para que os Tiriricas da vida conquistem o Poder e nos afunde, de vez,
transformando-nos em País africano. Por óbvio, não votaria em Lula, mas, (que
Rodolfo não me escute), se ele ganhar, não perderei o sono por isto.
quarta-feira, 17 de maio de 2017
Por causa de um aniversariante de amanhã
Hoje, vocês me desculpem, mas vou falar de um amigo e de uma
amizade que se aproxima de seis décadas. Lá no começo – parece que foi ontem –
éramos dois magérrimos jovens, com a sabedoria inconseqüente da adolescência,
eu, caipira chegante, ele, já paulistano, cidade domada, e sempre impecável em
seu terno escuro. Não me lembro bem do que nos aproximou. Talvez a
prematura consciência de que, pela origem simples de nossas famílias, não
estávamos ali para brincadeira. Tínhamos objetivos a conquistar e estudar e
aprender era preciso. Por isso, modéstia à parte, situávamos entre os melhores. Mas, do
que me lembro, com certeza, era da celestial lazanha, elaborada com engenho,
arte e muito carinho, pela sua mãe, Maria como a minha, nos intervalos dos
Cíceros e Virgílios que o exigente Hélio Pìmentel nos empurrava, goela abaixo.
Aprendemos com facilidade, a navegar nos labirintos das orações, a procura dos
sujeitos e predicados, que nos dariam a tradução exata... e éramos firmes
navegadores, mesmo em mares revoltos. Depois, seguimos caminhos diferentes, mas
não o perdi de vista, seguindo-o pelas madrugadas, em seu programa de radio,
que ele comandava e do qual participava o notável Sargentelli, inventor do “ziriguidum”. Ri muito – desculpe, amigo,
a inconfidência – quando o vi, fazendo papel de “zorro”, no alvorecer da tv Bandeirantes. Mal sabia eu que seria o
prenuncio do “zorro” atual, que faz
em seus programas diários, onde, com o vigor de sua espada verbal, espanta os
malfeitores de todos os gêneros. Certa feita, meu estimado Delfim Netto,
falando sobre ele, disse-me considerá-lo o mais inteligente e íntegro
jornalista destas bandas. Enchi o peito de orgulho, afinal ele falava do
amigo-irmão, fraternidade construída com a solidez dos que não pedem, nem
exigem nada, um do outro, senão a própria amizade. Amizade que desconhece o
“dou para que dês”. Convivemos menos do que eu gostaria e mais do que mereço,
mas, quando nos encontramos, é em almoços regados a vinho, que se prolongam
pela tarde, tanto temos a dizer. Pois este amigo, querido amigo, amanhã
comemora mais um aniversário. Certamente não terei o privilégio de abraçá-lo,
pessoalmente, por conta de audiência, em processo que se arrasta desde 2011 e
trabalhar é preciso, para profissionais liberais, como eu, que ainda não se
liberaram. Todavia, ele e todos os
momentos vividos juntos, estarão ardendo na fogueira do respeito e do afeto, que
nos tornou “amigos para sempre”.
Querido José Paulo de Andrade, que Deus o proteja e o guarde!
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