Maria de todos os
Domingos
Eu tinha um texto escrito, a falar das mazelas da Petrobrás. Mas
surgiu fato muito mais importante, testemunho que meu coração me manda dar.
Tenho o hábito – como milhares de outras pessoas – de, pela
manhã de domingo, ir até a Igreja de São Judas Tadeu, render minha homenagem ao
Santo, que ouve minhas súplicas e me ajuda seguir em frente. E sempre a
encontrava ali, sentada em um canto da calçada, primeiro em um tosco banco,
depois em uma cadeira de rodas. Quantos anos tinha, não sei, alguma coisa em
torno de 90. Eu parava, dirigia-lhe algumas palavras, segurando-lhe as mãos
murchas e deixava-lhe algum mimo, que ela agradecia, com tímido sorriso. Esse ritual
durou anuais domingos. Em um deles – faz, mais ou menos, um ano – ela apareceu
sem uma perna, amputada pela diabetes. Não mais sorria, quando eu a
cumprimentava, apenas enchia os olhos de lagrimas, que deslizavam pelo seu
rosto, quando eu a perguntava como ia. Como já fazia três semanas que eu não a
encontrava, perguntei por ela ao segurança da Igreja. Morreu, disse-me ele. Senti
um aperto no coração. Por certo, morrera com aquele olhar triste dos últimos
tempos, deixando vazio aquele canto da calçada. Ah, ela se chamava Maria,
apenas Maria, como Nossa Senhora. Depois, na missa, pensei em dedicar essa a
ela. Bobagem! Ela já deve estar sentada, ao lado da mãe de Jesus e espero que,
se eu merecer, ela dirija seu terno olhar e seu meigo sorriso para mim. Adeus,
minha doce Maria, alegria e tristeza de minhas manhãs de domingo.
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