Adeus às artes.
Tem-se a impressão que os deuses do Olimpo resolveram
disparar sua ira em direção ao Brasil. Não, não falo da copa do mundo, a um,
porque eles, os deuses, têm coisa mais importante com que se preocuparem; a
dois, porque o assunto – copa do mundo – ninguém suporta mais, se bem que
Dunga... ninguém merece. Mas a razão de eu me voltar a Zeus e seus companheiros
decorre da constatação de que, em menos de um mês, terem nos sido tirados os
dois maiores escritores, absoluta e totalmente identificados com o que há de
mais autentico na alma e nos costumes do povo brasileiro. Falo de João Ubaldo
Ribeiro e Ariano Suassuna, ambos nordestinos e que fizeram do povo de suas
terras – Bahia e Pernambuco – personagens principais de suas obras. A verdade é
que, quando se dá um passeio pela historia da literatura brasileira,
constatamos que os escritores, que marcaram presença entre nós, pelo menos a
partir de Machado de Assis, foram os que focaram seus trabalhos em personagens
e fatos a seu redor. Foi assim com o próprio Machado (por quem nutro reservada
admiração), a falar do Rio de sua época e, mais tarde, José Lins do Rego,
Graciliano Ramos, Jorge Amado e, nos tempos atuais, João Ubaldo e sua Itaparica
e Suassuna e o agreste nordestino. Tenho um filho que costuma dizer que o litoral
brasileiro começa na Bahia e segue para cima. Acho que seria o caso de dizer
que a literatura idem, talvez abrindo exceção a Érico Veríssimo, que nos deixou
extensa e vibrante produção literária. Estranho ou interessante – escolham o
adjetivo – é que João Ubaldo passava dos 70 anos e Suassuna aproximava-se dos
90 e todos, até os jovens na faixa dos 30, os conheciam. E assim o era porque
falavam linguagem popular, sem os mergulhos ou vôos pseudo- intelectuais de
autores moderninhos, cujas obras repousam, intocáveis, nas estantes das
livrarias. Os estudiosos no assunto dizem que se lê pouco no Brasil. Se isto
for verdade, se lerá, daqui em diante, muito menos com o desaparecimento desses
dois gênios da arte de escrever bem e fácil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário