quinta-feira, 31 de julho de 2014

Baudelaire revisitado

Reler Baudelaire é sempre como beber vinho de safra rara: o sabor não se detém apenas no paladar. Invade o cérebro e povoa a alma de sentimentos múltiplos. Talvez seja por isso que jamais gostei muito de compartilhar bebida e leitura. Ambas requerem meditação, só possível no ato solitário de ser e estar. Baudelaire me joga nos meus próprios braços, envolve-me na doce melancolia do que se desconectam com a realidade objetiva. A sensação de que tudo é sonho, como dizia Fernando Pessoa. A diferença é que o primeiro não precisa (ou não pretende) olhar pela janela. Satisfaz-se com seu mundo interior e vive nele, malgrado o “spleen”.  Incrível como Baudelaire, quase 150 anos passados, é capaz de falar claro às almas e corações, principalmente os encanecidos. Viver não é um ato de coragem, como queria Sartre. Prefiro a “expiação”, conceito que emerge do velho testamento. Mas importa falar de Baudelaire, a razão de ter me curvado sobre o papel. O efêmero das coisas e das pessoas como verdade absoluta. O “poetinha”, de forma mais simples, dizia que “a vida vem em ondas, como o mar”. Baudelaire apascenta a alma atormentada, oferecendo-lhe a noite solitária, onde das ondas só se escuta o quebrar longínquo. Parar o barco, a meio de um lago sem margens, contemplando o brilho monótono e estático da água. Porque ficamos assim, velhos barcos parados ao meio de um lago sem margens, guardando, em seu bojo, historias, reais ou fictícias, mas todas elas, sem importância. Viver ou é um ato de irresponsabilidade, ou é estar parado no meio do lago.

terça-feira, 29 de julho de 2014

O bom senso cede lugar à prepotência

A Presidente Dilma vem demonstrando sua aversão à verdade e sua maneira ditatorial em enfrentá-la. Vamos aos fatos: analista do Banco Santander apresentou relatório pessimista, quanto à economia brasileira, na hipótese da reeleição da Presidente. Essa, irritada, exigiu a retratação do banco, que divulgaria a analise e a demissão do analista, obtendo êxito em ambos os seus intentos, porque, por obvio, o Santander não iria se atritar com a Presidência da Republica. Não li a analise, mas, tenho certeza que o descrédito do autor se prende à manutenção da política econômica do governo, que vai se revelando desastrosa:  a indústria desacelera e demite, o PIB cai, a inflação sobe, além das previsões oficiais. Tudo isto está nos noticiários. Não creio que o analista do Santander tenha alguma desavença pessoal com a Presidente. É ele um técnico e fez sua avaliação a partir de dados técnicos. Se esses estão equivocados, caberia ao Planalto refutá-los, fundamentadamente. Agora, “exigir a cabeça” do analista, é inconcebível, para quem se diz democrata. Abre-se precedente perigoso: que se cuidem os jornalistas que ousarem discordar da Presidente, criticando, por exemplo, seu penteado ou sua indumentária. Dª Dilma segue a truculenta cartilha de seus “companheiros” da Argentina e da Venezuela. Esperamos que o Brasil não mergulhe no mesmo mar revolto desses dois países e, ao que parece, só a alternância, a ser promovida em outubro, pode nos afastar desse perigo.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Sempre o Oriente Médio
O massacre da população civil de Gaza, incluindo ataques a hospitais e escolas, deixa estupefato o mundo civilizado, principalmente porque tais desmesuradas agressões partem de Israel, cujo povo foi a principal vitima da ferocidade nazista. Para quem tem um mínimo de conhecimento da história, torna-se obvio que uma paz razoável no oriente médio só será possível quando Israel reconhecer o Estado Palestino, devolvendo as áreas ocupadas, em razão de uma política expansionista, semelhante à utilizada por Hitler. Pueril imaginar que tal reconhecimento surgirá pela livre e espontânea vontade das partes litigantes. A ONU não passa de mera ficção, a menos que os Estados Unidos interviessem de fato, o que é difícil se concretizar, pelos indissolúveis interesses econômicos que unem aquele País a Israel. E qual seria, então, o caminho para alcançar tão difícil objetivo, principalmente se considerarmos a abismal diferença entre o poderio bélico de Israel e o raquítico armamento palestino? Busquemos a lição da história. Os romanos ensinavam lição básica de sobrevivência: “se queres a paz, prepara a guerra” (si vis pacem, para bellum). A Europa esqueceu essa lição e, enquanto Chamberlain negociava uma paz impossível – como a ONU, agora o faz – “Hitler” preparava a guerra. Se a Europa tivesse feito o mesmo, talvez o exército alemão não tivesse passado da Áustria e milhões de vidas, (inclusive judias) e bilhões de dólares tivessem sido poupados. Os Estados Unidos e a União Soviética absorveram, por inteiro, a lição romana: passaram quase 50 anos “rosnando”, um para o outro. E, porque se respeitavam, belicamente, jamais partiram para o conflito. Como “tinham preparado a guerra”, puderam manter a paz. Os países árabes, isoladamente, são presas fáceis para Israel, que já os derrotou no Egito, na Síria, no Líbano, na Jordânia.
A criação de uma “força de guerra”, formada por uma nova “liga árabe”, com a participação do Irã, Iraque, Kuwait, enfim, de todos os países, que se opõem a Israel, seria a única forma de “preparar a guerra”, o que, com certeza, faria com que Israel sentasse, sem prepotência, à mesa de negociação para “querer a paz”.


sexta-feira, 25 de julho de 2014

Adeus às artes.

Tem-se a impressão que os deuses do Olimpo resolveram disparar sua ira em direção ao Brasil. Não, não falo da copa do mundo, a um, porque eles, os deuses, têm coisa mais importante com que se preocuparem; a dois, porque o assunto – copa do mundo – ninguém suporta mais, se bem que Dunga... ninguém merece. Mas a razão de eu me voltar a Zeus e seus companheiros decorre da constatação de que, em menos de um mês, terem nos sido tirados os dois maiores escritores, absoluta e totalmente identificados com o que há de mais autentico na alma e nos costumes do povo brasileiro. Falo de João Ubaldo Ribeiro e Ariano Suassuna, ambos nordestinos e que fizeram do povo de suas terras – Bahia e Pernambuco – personagens principais de suas obras. A verdade é que, quando se dá um passeio pela historia da literatura brasileira, constatamos que os escritores, que marcaram presença entre nós, pelo menos a partir de Machado de Assis, foram os que focaram seus trabalhos em personagens e fatos a seu redor. Foi assim com o próprio Machado (por quem nutro reservada admiração), a falar do Rio de sua época e, mais tarde, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado e, nos tempos atuais, João Ubaldo e sua Itaparica e Suassuna e o agreste nordestino. Tenho um filho que costuma dizer que o litoral brasileiro começa na Bahia e segue para cima. Acho que seria o caso de dizer que a literatura idem, talvez abrindo exceção a Érico Veríssimo, que nos deixou extensa e vibrante produção literária. Estranho ou interessante – escolham o adjetivo – é que João Ubaldo passava dos 70 anos e Suassuna aproximava-se dos 90 e todos, até os jovens na faixa dos 30, os conheciam. E assim o era porque falavam linguagem popular, sem os mergulhos ou vôos pseudo- intelectuais de autores moderninhos, cujas obras repousam, intocáveis, nas estantes das livrarias. Os estudiosos no assunto dizem que se lê pouco no Brasil. Se isto for verdade, se lerá, daqui em diante, muito menos com o desaparecimento desses dois gênios da arte de escrever bem e fácil.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Agora... às eleições

Encerrada a copa do mundo, está aberta a temporada eleitoral. E o começo indica que as agressões pessoais, mais uma vez, prevalecerão sobre o confronto de idéias. Dilma nada tem a ver com os mensaleiros presos na Papuda, da mesma maneira que Aécio está distante das confusões do Metrô paulista. O Brasil vive difícil momento econômico, com a indústria demitindo, o PIB se aproximando de 0, a inflação recrudescendo. O que a população espera dos candidatos é que tragam soluções viáveis para que o País encontre o caminho do desenvolvimento e saia da incômoda posição de ser um dos últimos colocados em saúde e educação públicas. Outro aspecto importante, a ser debatido, é o caminho a ser trilhado pela nossa política externa. A reunião do BRIC parece que nos deixou em segundo plano e o MERCOSUL, com a Argentina às vésperas de uma moratória, mergulha numa “UTI”. O aumento da criminalidade está a exigir urgentes modificações na legislação penal. Apenas um pálido exemplo: a maioridade penal foi fixada pelo Código de 1940, quando o rádio ainda era o único veículo de comunicação e os garotos de 16 anos empinavam pipa ou jogavam futebol. Hoje, em tempos cibernéticos, segundo dados dos Órgãos de segurança pública, 60% dos crimes de roubo e latrocínio são praticados por maiores de 18 anos. Não seria ocasião de, pelo menos, discutir-se a redução da maioridade penal? O déficit habitacional urbano tem provocado seguidas incursões de movimentos populares. Como equacionar tão grave problema? Assim, tantos são os problemas a serem debatidos que se espera que os candidatos à Presidência e a Governador não gastem o tempo (deles e nosso) em questões pessoais, de relevância nenhuma. O grande número de indecisos é que vai decidir a eleição de outubro e esperam exatamente o embate sobre temas importantes para passarem à condição de “decididos”.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Finalmente, cumpre-se a lei.
Um bando de baderneiros, liderado por uma advogada desocupada e acusada de provocar depredações no patrimônio público e privado, teve sua prisão temporária decretada por um Juiz do Rio de Janeiro, que acatou pedido formulado pelo Ministério Público. Inconformado com o decreto prisional, o bando impetrou “habeas corpus”, perante o Tribunal de Justiça, que negou o pedido. Tudo de acordo com o ordenamento jurídico pátrio. Agora vêem os absurdos;
1-    A advogada, líder dos baderneiros, pediu asilo na Embaixada do Uruguai, alegando ser “perseguida política”. É obvio que não o é, pois quem promove arruaças, tumultuando a vida da população ordeira, destruindo vidraças, queimando ônibus, pratica crime, como tal descrito em nosso Código Penal.
2-    Alguns deputados (só podiam ser do PSOL) representaram contra o Juiz, que decretou a prisão, perante o Conselho Nacional de Justiça. Ora, o CNJ não tem competência jurisdicional, isto é, não pode rever decisão judicial. Se a decretação da prisão dos baderneiros foi confirmada pelo Tribunal de Justiça, resta recorrer ao Superior Tribunal de Justiça.

De parabéns o Ministério Público, que pediu a prisão dos baderneiros e o Juiz que a decretou. Que outros sigam o exemplo dos mesmos, como única forma de coibir as sandices e violências praticadas em nome da liberdade de expressão. É de se esperar que a Embaixada do Uruguai ponha para fora a baderneira refugiada, que já tem, a sua espera, uma viatura policial.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

A noite ainda não abrira seu negro manto sobre a cidade, mas um silencio ensurdecedor já podia ser ouvido, em todas as ruas. O homem caminhava atônito, ouvindo os ruídos de seus próprios passos. Tudo muito estranho. Em condições normais, aquela era a hora em que as pessoas buscavam, apressadamente, suas casas e os carros congestionavam as ruas. O homem passou por um bar que deveria estar explodindo em gargalhadas e conversas babélicas. Mas, nenhum ruído. Cadeiras e mesas vazias, a indicarem a presença única da ausência total. Onde teriam ido todos? Recompunha seu dia: trabalhara por toda a madrugada, no seu fazer de guarda noturno; adormecera pela manhã; acordara às 4 horas da tarde, comera o sanduiche de sempre, tomara um banho e saíra para ver o movimento de final de tarde. Esse era seu grande prazer: sentar no banco da praça, que dava para a grande avenida e ficar olhando as coxas que passavam. Algumas, já conhecia de cor. Olhava apenas para as coxas, sem se atentar para suas donas. Apenas olhava, sem qualquer tesão especial. Chegara àquela altura da vida em que se sepulta o desejo e se resgata a pureza de olhar, sem desejar. Mas, naquele momento, sozinho, andando pelas ruas desertas, não pensava em coxas. Apavorava-lhe a idéia de todos terem ido embora (para onde?) e ele estivesse abandonado, em uma cidade fantasma. Será que não estaria dormindo, em pesadelo? Não, tudo era muito real. Talvez fosse melhor voltar para casa e se enfiar debaixo do cobertor, como fazia, quando criança, sentia-se ameaçado pelo lobisomem. Todavia um medo-curiosidade-surpresa o mantinha estático, naquela esquina, onde o semáforo abria e fechava, inutilmente. Subitamente, uma nuvem espessa passou, bem ali, debaixo de seus pés e, num estalo, compreendeu tudo: a cidade morrera e como, provavelmente, na hora da morte, da qual o sono é primo irmão, ele dormia, foi transportado para aquele não mundo, feito de ausências e silencio. A principio, a percepção da nova realidade apavorou-lhe. Pouco a pouco, a euforia foi se espalhando pelo seu coração, que passou a bater em ritmo acelerado. Agora, aquela era sua cidade e sua todas as coisas que nela existiam: o bar da esquina; o cinema com seu luminoso multicolorido, todos os bancos da praça. Mas... para que os bancos da praça, sem as coxas para serem vistas? Foi então que o homem chorou.  
Pequena reflexão sobre sucessão empresarial
Outro dia, participando de uma reunião, assessorando um de meus melhores clientes, este afirmou a terceiros participantes que não envolveria sua empresa em negócios que não fossem absolutamente transparentes, dentre outros motivos porque pretendia fazer de sua filha, ambos com a mesma formação técnica, sua sucessora. A sucessão empresarial é um dos grandes problemas a desafiar os que se debruçam sobre o tema, principalmente quando se sabe, segundo dados do IBGE, que 90% das empresas são de origem familiar e, dessas, menos de 20% sobrevivem à segunda geração. A idéia de se contratar executivos de ponta para dirigir essas empresas familiares parece seduzir os especialistas no assunto. Os que torcem o nariz para essa alternativa argumentando que o executivo, por mais competente que seja, não tem o “compromisso subjetivo” com a empresa e, por falta desse vínculo, abandoná-la-á tão logo receba proposta financeira de terceiro. Vivi experiência bem interessante: durante cerca de 15 anos prestei assessoria jurídica a Eucatex, então dirigida pelo Dr. Roberto Maluf. Homem extremamente simples, com longa visão empresarial, fez do conglomerado um dos mais importantes do País. No final dos anos 90 – creio, em 1997 – teve que se afastar e, a partir daí, a Eucatex, dirigida pelo seu sobrinho, Flávio Maluf, foi perdendo espaço no mercado e, hoje, ao que consta, está em recuperação judicial.  A meu modesto juízo, o importante é o “poderoso chefão” ter a consciência de que não é eterno e planejar, com antecedência, sua sucessão, como, aliás, fez Amador Aguiar em seu Bradesco. Li, em um artigo, cujo autor não me recordo, uma afirmação incontestável: “ter direito a uma herança não significa ter um emprego. Para ocupar um cargo é preciso competência.”


quarta-feira, 16 de julho de 2014

Organização X Prepotência

Não há que se falar mais em copa. Foi o coroamento da organização e do planejamento alemão, características, aliás, que marcam a história daquele povo. Ficou para trás a ignorância arrogante do Brasil, com a imprensa criando a ilusão de que tínhamos tudo para ganharmos. Fomos o que somos: piores em educação, piores em saúde, piores, enfim, no que se convencionar chamar “políticas públicas”. E, agora, há que se reconhecer: dentre os piores do futebol. Ao contrario do que imaginam os estrangeiros, que por aqui estiveram, não somos um povo alegre, somos um povo conformado. Conformado com um governo voltado, apenas, para seus mesquinhos interesses eleitoreiros e que nos mente, dizendo que tudo vai bem, quando nosso IDH está na rabeira dos países desenvolvidos. Exatamente porque somos um povo conformado, continuaremos a ser um País de segunda categoria. A copa foi momento de fantasia, como o carnaval o é. Ao final, conscientes da mediocridade da nossa seleção, tornamo-nos “alemães”, torcendo pela vitoria deles e sonhando (sonho fugaz) sermos, um dia, vencedores, como eles, nos grandes e verdadeiros problemas.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

O governo quer estatizar o futebol

Agora é que, realmente, a vaca vai para o brejo. Não é que o Ministro Aldo Rebelo vem a público dizer que o governo vai interferir no futebol? Tudo por causa do vexame em uma copa do mundo preparada para que o PT de Dª Dilma tirassem frutos políticos do evento. Gastaram milhões, construindo estádios, onde nem futebol há, montaram esquemas de segurança que nos fizeram sentir uma Suécia, só que esqueceram de que jogadores, desde a aposentadoria de Ronaldo fenômeno, não os temos. É claro que a culpa do nosso desastre não pode ser atribuída à CBF. Ela escolheu a dedo a melhor comissão técnica. Parreira e Felipão juntos, têm 07 títulos mundiais. A “Granja Comary” é verdadeiro hotel seis estrelas. Os jogadores tiveram tratamento de reis, inclusive com direito a psicólogo de plantão. A torcida apoiou com cantos e cânticos. Só que os atletas, bolsos forrados de dólares, eram medíocres e medíocres foram suas atuações. Neymar, transformado em “prima Donna” pela mídia, só jogou alguma coisa contra “Camarões” que não ganha nem na várzea. Como ninguém dá o que não tem, a seleção, que tanto recebeu, nada deu. O Ministro fala em “proibir” a saída de jovens jogadores para o exterior. Alguém precisa avisar ao Ministro que o PCB só existe no Brasil e em Cuba e que Stalin morreu já lá vão 60 anos e que a Constituição consagra a liberdade como o bem maior do cidadão, inclusive a de se trabalhar onde quiser. O Estado intervir no futebol? Apenas para lembrar: a FIFA acaba de proibir a Nigéria de participar de qualquer evento futebolístico internacional, exatamente porque o governo resolveu meter o nariz onde não foi chamado. Esperemos pelo domingo. Torço para ver Dª Dilma, em pleno Maracanã, entregando a “Jules Rimet” ao Messi.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

As agruras da dieta compulsória

Quando alguém nos diz – “você está bem”, na verdade quer dizer – “você está bem gordo”. Já tinha constatado meu excesso de peso nas camisas apertadas e nas calças, que teimavam em dobrar na cintura. Subi na balança apenas para constatar o quanto engordara: seis quilos acima do máximo permitido pela minha idade. Não tive outra alternativa senão cortar as três delicias da vida (a quarta a idade encarregara-se de suprimir): o doce – qualquer um – a cerveja e os carboidratos, de modo geral. A dieta tem sido sacrifício maior do que assistir aos jogos da nossa seleção. Agora, dei para ter alucinações: nesta última noite sonhei que estava nadando em um lago de goiabada em calda, cuja margem estava rodeada de costeleta de porco. Acordei suando e corri à geladeira: apenas um imbebível guaraná zero e um queijo branco, com gosto de coisa alguma. Sono perdido, abro um livro para esquecer meu sofrimento. Inútil: vinte páginas adiante tive que voltar à primeira, pensamento voltado para o doce e para a costeleta. Abatido e humilhado, voltei à geladeira e bebi um pouco do insosso refrigerante e comi uma fatia do desprezível queijo. Como dizia Vinicius: “são demais os perigos desta vida...”

terça-feira, 1 de julho de 2014

O espúrio jogo das eleições

Completa-se o ciclo das escolhas dos candidatos a Governador do Estado. Armado o tabuleiro dos interesses políticos – os legítimos e, principalmente, os espúrios – o candidato do PT foi abandonado a sua própria sorte. A polarização ficará entre o Governador Alckmin, de um lado e Paulo Skaf, de outro. O ex Presidente Lula, no último fim de semana deu uma declaração mais ou menos assim: “não importa quem se eleja governador de São Paulo, o importante é apear o PSDB do governo”. Interpretação óbvia: ferre-se o Padilha, desde que Alckmin não se reeleja. Qual o liame ideológico entre o PT e Paulo Skaf, este, Presidente da FIESP, que reúne a fina flor do empresariado paulista e que, além disso, carrega consigo o apoio de Paulo Maluf e do ex Prefeito, Gilberto Kassab, aquele que não é de esquerda, nem de direita, nem de centro? Sem dúvida, é esta falta de identidade entre os candidatos que faz com que os eleitores, ao ouvirem falar de política, tapem o nariz, afastando o mau cheiro que exala do jogo político. Qualquer pesquisa – e estamos a 03 meses das eleições – indica que o número de indecisos é suficiente para decidir a eleição. Indecisos, não porque estão a analisar os projetos dos candidatos, mas indecisos, porque sabem que, qualquer que seja o eleito, os velhos problemas – a insegurança pública, a saúde desassistida, o ensino sucateado – permanecerão intocáveis. E os interesses do povo? Ora, o povo é apenas um detalhe, como dizia um personagem do eterno Chico Anísio.