Poderá a bicicleta ser meio de transporte?
O trânsito, já
habitualmente lento, na grande e importante avenida da região dos
"Jardins", parara, de vez, contrariando, até, a etimologia da palavra,
vez que "transitar" e "parar" constituem, na verdade, antônimos.
Alguns motoristas buzinavam, freneticamente, como se o próprio som da buzina
tivesse a magia de abrir caminho. Outros falavam ao celular, provavelmente
adiando compromissos ou comunicando inevitáveis atrasos. O da fila ao lado da
minha pergunta-me o que
acontecera, esquecendo-se
de que, ali, assim como ele, também nada sabia. De repente, os carros começam a
se movimentarem, lentamente, "se arrastando
que nem cobra pelo chão", como, um dia, cantou Gilberto Gil. Alguns
metros adiante, estava a causa do congestionamento: encostado, ocupando uma
faixa de rolamento, a ambulância do resgate socorria uma pessoa, já colocada na
maca e, sobre o canteiro, que divide os dois lados da avenida, via-se uma bicicleta,
absurdamente retorcida. De notar que, na faixa, onde estacionara a ambulância, estava
pintado, no chão "ciclofaixa", o que permite deduzir que a vítima, ciclista,
por ali trafegava, imaginando-se seguro, apesar do grande fluxo de veículo no início
de uma tarde de quarta-feira. E,na sua ingênua segurança, foi atropelado. Segui
adiante, conjecturando sobre a causa primeira de tão lamentável acidente, qual
seja a utilização de bicicleta, como meio de transporte... Na verdade, o grande
apelo do momento, no gênero "politicamente correto" é abdicar do
carro, como meio de transporte e utilizar a bicicleta. Delas as há de todo tipo
e preço, para atender a todos os segmentos da sociedade. A idéia não é de todo
péssima, se não vivêssemos em uma cidade de 12 milhões de habitantes com 06
milhões de veículos circulando, dia e noite, por entre ruas e avenidas. Isto
sem falar que São Paulo, por ter experimentado crescimento desordenado (o que
não tem mais volta), talvez seja a mais acidentada, topograficamente falando, das grandes cidades do País. Não vejo como
alguém, por exemplo, morando na Aclimação, possa chegar à Avenida Paulista, dirigindo
uma bicicleta. Da mesma forma, não vislumbro a possibilidade de um trabalhador,
residente da zona leste e exercendo sua atividade na região de Santo Amaro, poder,
de bicicleta, cobrir tamanha distância. Por certo, se conseguir fazê-lo, chegará
tão extenuado, que seu rendimento será nenhum. O Prefeito Kassab, como
engenheiro que o é, com certeza, pode dimensionar as citadas dificuldades, mas,
exatamente em nome do
malfadado "politicamente
correto", está espalhando ciclofaixas pela cidade, colocando em risco a
vida dos próprios ciclistas, como no caso real, acima narrado. Rindo ou chorando,
a cidade pertence aos automóveis e esses têm que ter a preferência em qualquer
planejamento de trânsito. Que fiquem as bicicletas para o lazer, para os
passeios de domingo, com alegria e segurança, pelas ruas desertas ou pelos inúmeros
parques, que enfeitam nossa cinzenta Capital.
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