terça-feira, 18 de setembro de 2012


O Equívoco do Cardeal


Aqueles que me conhecem sabem que sou católico, apostólico romano praticante, tendo a firme convicção de ser essa religião a única verdadeira, porque fundada pelo próprio Cristo. Em minha fase "xiita", insurgia-me, com ferocidade até, contra os que não professavam minha fé e abominava a chamada "Igreja neo-pentecostal", por ver em seus líderes os falsos pastores, a que Cristo se referia como Satanás, a serem evitados. Hoje, mais centrado, mesmo passando ao largo de tais religiões, concluo que algo de útil trazem a seus adeptos: a esperança para superação de seus males. Faço esta necessária introdução, para que os que me lêem entendam a crítica que vou fazer, não à minha Igreja, mas ao Cardeal Dom Odilo que, em má hora, e numa visão equivocada de seu pastoreio, abraçou a candidatura Serra, insurgindo-se, abertamente, contra Celso Russomanno, por ver nele candidato do Bispo Edir Macedo e que, assim, se eleito for, privilegiará os interesses da "Universal", em detrimento aos interesses da Igreja Católica. A fala do Cardeal foi amplamente divulgada na imprensa e trouxe desconforto, a nós, católicos. Particularmente, não vejo como Russomanno, em sendo eleito, poderá favorecer ou prejudicar este ou aquele segmento religioso. Nossa cidade é um brutal emaranhado de colossais problemas, cujas soluções passam longe dos embates religiosos e, ao contrário, necessita da união de todos. No Evangelho de
Marcos, encontramos uma passagem (7,31-37), relatando que Jesus se dirige aos povos gentílicos, repudiados pelo judaísmo, levando sua palavra de amor e libertação a todos, abolindo a distinção entre povos impuros – os gentios – e o povo puro – os judeus. Portanto, esta distinção, principalmente vinda de um Cardeal, é absolutamente descabida. O segundo ponto, que quero destacar, é o grande risco de a Igreja, contrariando sua tradição, engajar-se, nominalmente, em uma candidatura. E se esse candidato for derrotado, exatamente pelo candidato dos "impuros"? Dir-se-á, por certo, que nossa Igreja foi derrotada pela Universal, o que, além de não corresponder à verdade, irá comprometer a autoridade do próprio Cardeal. O candidato a Prefeito de nossa cidade deve ser avaliado por todos, católicos e não católicos, pela sua capacidade de gerir a coisa pública, de maneira a mais eficiente possível. O candidato Serra abandonou a prefeitura para ser Governador e, na seqüência, abandonou o governo do Estado para se lançar candidato a Presidente da República. Talvez seja esse uso do Poder como trampolim, que esteja pesando contra ele, segundo as pesquisas qualitativas, que o dão como o mais rejeitado, dentre todos os candidatos. Mas este seguramente não é debate para ser trazido para dentro da Igreja, não da "nossa" Igreja, que deve se manter apartidária, voltada para sua missão maior de propagar a fé, a esperança e a caridade.

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