O Equívoco do Cardeal
Aqueles que me conhecem
sabem que sou católico, apostólico romano praticante, tendo a firme convicção
de ser essa religião a única verdadeira, porque fundada pelo próprio Cristo. Em
minha fase "xiita", insurgia-me, com ferocidade até, contra os que
não professavam minha fé e abominava a chamada "Igreja
neo-pentecostal", por ver em seus líderes os falsos pastores, a que Cristo
se referia como Satanás, a serem evitados. Hoje, mais centrado, mesmo passando
ao largo de tais religiões, concluo que algo de útil trazem a seus adeptos: a
esperança para superação de seus males. Faço esta necessária introdução, para
que os que me lêem entendam a crítica que vou fazer, não à minha Igreja, mas ao
Cardeal Dom Odilo que, em má hora, e numa visão equivocada de seu pastoreio, abraçou
a candidatura Serra, insurgindo-se, abertamente, contra Celso Russomanno, por
ver nele candidato do Bispo Edir Macedo e que, assim, se eleito for, privilegiará
os interesses da "Universal", em detrimento aos interesses da Igreja
Católica. A fala do Cardeal foi amplamente divulgada na imprensa e trouxe
desconforto, a nós, católicos. Particularmente, não vejo como Russomanno, em
sendo eleito, poderá favorecer ou prejudicar este ou aquele segmento religioso.
Nossa cidade é um brutal emaranhado de colossais problemas, cujas soluções
passam longe dos embates religiosos e, ao contrário, necessita da união de
todos. No Evangelho de
Marcos, encontramos uma
passagem (7,31-37), relatando que Jesus se dirige aos povos gentílicos, repudiados
pelo judaísmo, levando sua palavra de amor e libertação a todos, abolindo a
distinção entre povos impuros – os gentios – e o povo puro – os judeus. Portanto,
esta distinção, principalmente vinda de um Cardeal, é absolutamente descabida. O
segundo ponto, que quero destacar, é o grande risco de a Igreja, contrariando
sua tradição, engajar-se, nominalmente, em uma candidatura. E
se esse candidato for derrotado, exatamente pelo candidato dos "impuros"?
Dir-se-á, por certo, que nossa Igreja foi derrotada pela Universal, o que, além
de não corresponder à verdade, irá comprometer a autoridade do próprio Cardeal.
O candidato a Prefeito de nossa cidade deve ser avaliado por todos, católicos e
não católicos, pela sua capacidade de gerir a coisa pública, de maneira a mais
eficiente possível. O candidato Serra abandonou a prefeitura para ser
Governador e, na seqüência, abandonou o governo do Estado para se lançar
candidato a Presidente da República. Talvez seja esse uso do Poder como trampolim,
que esteja pesando contra ele, segundo as pesquisas qualitativas, que o dão
como o mais rejeitado, dentre todos os candidatos. Mas este seguramente não é
debate para ser trazido para dentro da Igreja, não da "nossa" Igreja,
que deve se manter apartidária, voltada para sua missão maior de propagar a fé,
a esperança e a caridade.
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