Sobre o Poder e a Beleza
Recebo e-mail indignado (que retransmito), dando conta da
nomeação das filhas dos Ministros Marco Aurélio e Luiz Fux, para integrarem,
como Desembargadoras, respectivamente, o Tribunal de Justiça e o Tribunal
Regional Federal do Estado do Rio de Janeiro. A matéria recebida mostra-as
muito bonitas e alega não terem elas qualificação profissional para tão
relevante cargo. Não as conheço, por isso não posso me pronunciar sobre a
capacitação técnica de ambas. Mas o amigo correspondente está desatualizado,
pois, de larga data, o chamado “notório
saber jurídico” deixou de ser requisito para alguém ocupar a cúpula do
Poder Judiciário. Ou você acha que Lula, Dilma, Sérgio Cabral têm alguma idéia
do que vem a ser esse tal de “notório
saber jurídico.”? As nomeações levam, prioritariamente, em conta, o
interesse pessoal e político de quem nomeia. Já tivemos, no Supremo, Ministro
nomeado, porque, em seu Estado, era, por assim dizer, “guia” do então candidato
Lula. Outro, lá está porque, ao que consta, é amigo do ex-marido da Presidente
Dilma e outro, cria do ex Ministro José Dirceu, sentou praça em nossa Corte
Suprema, apesar de ter sido reprovado em concurso para ingresso na magistratura
paulista. Essa sinecura, prezado amigo internauta, só terminará (se algum dia terminar)
quando os magistrados dos Tribunais Superiores forem eleitos pelos seus pares
dos tribunais inferiores: os juízes elegem os desembargadores; os
desembargadores elegem os Ministros do Superior Tribunal de Justiça e esses,
por sua vez, elegem os Ministros do Supremo. Simples, não? Claro que não! Se
assim fosse, como se acomodariam os interesses políticos e outros...? Deixa pra
lá. Na atual estrutura, a famosa tri-partição de Poderes, é mera figura de
ficção, vez que o Poder Judiciário – tal qual o Legislativo – não passam de
braços auxiliares do Poder Executivo. Quem está na estrada da advocacia como
eu, lá se vão quase 50 anos, já viu, conformado, inúmeras vezes (e eu vi, a
última, não faz um mês) o Executivo “comandar”
as decisões do judiciário, até porque quem tem a chave do cofre é o primeiro.
Fica o consolo de que, pelo menos, as filhas dos Ministros,
agora feitas Desembargadoras, são mulheres bonitas e, como ensina o poeta, “beleza é fundamental.” Aí você pergunta:
e o justo e o legal, onde ficam? E eu respondo, sem disfarçar o bocejo: vá
procurá-las na França, como dizia um personagem do inesquecível Chico Anísio.
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