Escrevi algumas linhas sobre a sectária escolha a ser feita,
caso se confirme Bolsonaro e Haddad, no segundo turno. Recebi alguns elogios,
inclusive de quem não conheço e algumas críticas, até de conhecidos. Uma, em
especial, bateu no estômago, por ter me acusado de radical de direita e “padrinho da intolerância”. Posso até ser
de direita, se tal epíteto significa estado mínimo, administração pública
enxuta, gastos públicos controlados e transparentes, incentivo à entrada do
capital estrangeiro restrito à área de investimentos, racionalização das
políticas públicas, com o fim do assistencialismo e reformas, principalmente a
tributária e política. Todavia, “radical”
é adjetivo que não se coaduna com quem está na batalha há mais de meio século
e, até por força da profissão, exerce a arte de conciliar. Ao tempo do
endurecimento do regime de 1968, convivi – e bem – com “subversivos” e, até, defendi alguns. Posso, até, não concordar com
a diversidade sexual, todavia isto não me impede de aceitar, conviver e ter
clientes homossexuais e entender que a homofobia deva ser objeto de repulsa e
punição. Quanto ao extremismo político, o “nós”
contra “eles”, que se instalou no
país, repito, é fenômeno que vem de longe e que se agravou, por culpa do
petismo, envolvido em tudo o que de pior aconteceu, entre nós. Não podemos nos
esquecer de que o próprio Temer, tão execrado, foi instalado no poder pelo PT e
suas espúrias alianças. Particularmente, pelos dados divulgados, acho que a
vitória pende para o lado de Haddad, jovem, boa formação técnica e cultural,
pode surpreender, fazendo bom governo – (pior que está, não fica, como ensina o
filósofo Tiririca) -, desde que consiga se desprender da banda podre do
partido, aí incluso Lula. Vivi meu tempo, tive em Carlos Lacerda meu líder
maior, mas este tempo acabou e fica, para as novas gerações, guiar o País. Na
mão ou na contra-mão, pois democracia é veículo difícil de conduzir.
quinta-feira, 27 de setembro de 2018
quarta-feira, 19 de setembro de 2018
“A escolha de Sofia”
No dia, 28 de agosto, neste mesmo espaço, vaticinei possível
segundo turno, entre Bolsonaro e Haddad. Essa previsão – que era quase óbvia –
vai se tornando realidade concreta, pela divulgação das últimas pesquisas,
Bolsonaro, subindo gradativamente e Haddad, ancorado em Lula, alçando múltiplos
voos. Arrisco outro palpite para o final do primeiro turno: Bolsonaro 34%, Haddad
26%. O raciocínio é simples: nestes últimos dias para a eleição, predominará o voto
útil: votos de Alckmin e companhia migrarão para Bolsonaro e votos de Ciro e
Marina, especialmente no Nordeste, deslocar-se-ão para Haddad. Como
consequência, assistiremos à acirrada batalha entre o petismo – e tudo de
execrável sucedido na recente história do país – e o anti petismo, representado
pela Ideia de um Brasil passado a limpo. Os que temem Bolsonaro, por verem nele um radical de direita, esquecem-se
de que, se eleito, terá ele suas ações, boas ou más, tuteladas pelo Congresso Nacional, sem cuja harmônica
colaboração a governabilidade vai para o espaço, como aconteceu, anteontem, com
Collor e, ontem, com Dilma. Nosso regime é presidencialista, mas a Constituição
possui regramento parlamentarista. Um pouco de olhar para a história, ajuda-nos
a fazer, se não digo a melhor, mas, pelo menos, a menos pior escolha. É como votarei.
sexta-feira, 14 de setembro de 2018
Pequena história de amor
Ela era linda, assim, quase um metro e oitenta de formosura,
olhos verdes, espiando dentro do corpo dele, longos cabelos pretos que se
agitavam quando ela ria aquele sorriso largo e solto que calava o gorjeio do
pássaro, postado no muro defronte. Era muito para ele, inaugurando 50 anos,
olhos embaçados, pele manchada pela desenfreada corrida do tempo. Mas ela quis,
aceitou emprestar-lhe um pouco de juventude, estendeu-lhe a mão, como a um
naufrago e ele a reteve – quisera, para sempre -, afagara-lhe os dedos longos, encaixou-os nos seus e apenas disse “fica comigo” e ela, sem apagar o
sorriso, respondeu-lhe “eu quero” e
eles seguiram em direção à pedra do Arpoador, ele, próximo e distante, sentindo
o hálito de hortelã, que ela exalava, ouvindo sua voz, mas apenas vendo-a,
assim, absurdamente linda, mostrando as coxas, maravilhosas coxas, pela fenda
da saia. Sentaram-se, num banco da praia e ele extasiou-se com os seios,
rígidos seios, apontados para o norte e que teimavam em fugir da blusa. De repente ele quis sair dali, da
multidão, que passava e olhava para ele, uns com inveja, outros, por certo, com
piedade, pois sabiam – ou, julgavam saber – que, em pouco tempo, ela diria “cansei, vou embora ao encontro de outra
juventude”. Ele contou isto para ela, que lhe apertou a mão, beijou-lhe o
rosto e, em sussurro, apenas disse “bobo,
eu quero você” e ele abraçou-a e a beijou, em público, porque ali, naquele
momento, todos foram desaparecidos, ficando apenas a magia do mar batendo. Aí
veio tempo de loucura, loucura de amor, todos os dias, em qualquer lugar, como
aquela vez, no banheiro do supermercado. E quando ela telefonava, dizendo “eu quero” e ele largava tudo, cliente,
reunião e dirigia loucamente, ela o
esperando na porta do prédio e o amor, frenético amor, subia de elevador
e continuava, na sala, no quarto, dois
bêbados, embriagados de suor e desejo.
Um dia, passados dois verões, uma noite úmida de outono, o
inverno espreitando para encolher as pessoas e apagar a paisagem, ele chegou, o
apartamento grávido de silêncio, e, sobre o travesseiro, rescendendo a perfume
dela, apenas um bilhete: “cansei vou em
busca de outra juventude!”. Calmamente, como quem cumpre um ritual antigo,
ele percorreu os quartos, querendo acreditar que era mais uma brincadeira dela.
Os minutos se eternizaram na procura inútil. O que restou dela foi a minúscula
calcinha, ainda molhada, pendurada no box do banheiro. Apanhou-a, vestiu-a e,
com tresloucada gargalhada, braços abertos em hipotético abraço,
saltou para a noite escura.
quarta-feira, 12 de setembro de 2018
A lição dos Jovens
O que mais me chama atenção, na pesquisa IBOPE, de ontem,
além de Bolsonaro predominar em todas as regiões do Brasil, a exceção do
Nordeste, é o fato de abrir ampla vantagem entre os jovens, até 25 anos. Eles,
os jovens, são as principais vítimas de um País desarticulado, onde o ensino é
deficiente e não há emprego para os que chegam ao mercado de trabalho, onde a violência
faz mais vítimas do que a guerra da Síria. Os jovens, com mais amplitude,
capturaram a necessidade de mudança e desprezaram as velhas e carcomidas
lideranças, que passaram por cargos executivos, “andando de lado”. Se não se houveram bem, como governadores, por
que a eles confiar a Presidência da República? O “sistema”, representado pelos grandes conglomerados empresariais e
financeiros, não foi suficiente para impulsionar a candidatura Alckmin, que
patina em um único digito. Os “analistas”
de plantão estão tontos e, tirando coelho da cartola, tentam explicar o
fenômeno Bolsonaro. A explicação, a meu modesto juízo, está na força das redes
sociais, exatamente onde os jovens gritam sua revolta, pelo bandidismo, que o
PT instalou no País e agitam suas esperanças de um novo Brasil, onde haja “ordem”, sem a qual não há “progresso”. Bolsonaro pode não ser o
melhor, dentro do desejável, mas, como diz o vulgo, é o que temos, para este
momento de descrença e incerteza. Os jovens souberam captar esta circunstância,
sem se preocuparem com a anacrônica dicotomia esquerda/direita, até porque
restaurar a confiança é preciso.
quinta-feira, 6 de setembro de 2018
Porque amada é a pátria!
Lembro-me, com grande emoção, de que, amanhã, comemora-se o “dia da pátria”. Para mim, quase adolescente, a festa começava
em agosto, quando ensaiávamos para o grande desfile que percorria as principais ruas da cidade,
apinhada de público, para nos ver passar, impecáveis, vestidos de branco, ar
solene e compenetrado, dando nossa decisiva contribuição para a independência
do Brasil. Do desfile, participavam todas as escolas da cidade, mas o ponto
alto era o “Tiro de Guerra” e seus
rapazes, portando fuzis e comandado por exigente sargento, - creio que Anésio
era seu nome – a exigir firmeza no passo e cabeça erguida, pois a pátria espera
que cada um cumpra seu dever. De outro 07 de setembro, lembro-me de como me
senti diminuído, ao assistir ao desfile ao lado do General Murgel, ele
Secretário e eu Diretor da Secretaria de Segurança do Rio. Ao passar os
pavilhões nacionais – o do Império e o da República – o austero General não
impediu que duas grossas lágrimas escorrecem-lhe pelo rosto. Emoção incontida
pela qual eu, filho ingrato, não fui atingido. Apesar das críticas de sempre
(de não se poder falar em independência, em um país com povo tão dependente),
gosto da data e o que ela representa. E não se diga que nossa independência foi
conquistada “no grito”, dado às
margens do Ipiranga. Na verdade, para chegar a ela muito sangue foi derramado,
a começar pelo dos Inconfidentes, em Vila Rica, em 1789. E houve a Revolução
Pernambucana, em 1817 e a Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul, comandada
por Bento Gonçalves. Ensina a história que, se D. Pedro I não tivesse se
antecipado, teria sido engolido pelo movimento libertário, semeado pela
revolução Francesa de 1789 e pela Independência dos Estados Unidos, em 1776.
Mas não carece viajar no tempo, até porque não é a para isto que
gravo estas “mal traçadas”. Registro
o espírito aberto à conciliação e à esperança que devemos abraçar, neste dia.
Nada se resolverá, afirmando que o Brasil não tem mais solução. Claro que tem,
bastando que “o filho teu não fuja à luta”.
Este é o País que, mal ou bem, construímos para filhos e netos e, só por isto,
nele temos que acreditar. É claro que o aeroporto não é a saída, porque não há
de contente em ser eterno estrangeiro. Amanhã, acordarei cedo para ver a
desfile, sentir o peito urfando, , respirar o ar da liberdade e pisar firme,
porque este solo é meu. Pátria amada, salve, salve!
quarta-feira, 5 de setembro de 2018
Para gostar de ler
Como já alardeei, estou sempre, através de livros, a buscar
emoções novas, por isso dedico, geralmente, a tarde de sexta-feira, para
garimpá-los nas livrarias preferidas. Conto, também, com a colaboração de
amigos, leitores compulsivos, como eu, que me indicam livros a ler. Pois foi de
um deles, magistrado de alto saber, muito além do jurídico, que cheguei a “Os loucos da Rua Mazur”. Seu autor, João
Pinto Coelho, depois de várias andanças, aportou em Lisboa. A informação é
relevante, porque “Os loucos” foi
escrito em castiço português de Portugal, o que me obrigou, recorrer ao dicionário, a buscar o significado
de palavras, para mim, até então inusitadas. A leitura começa difícil, até
porque a trama se passa em épocas e locais diferentes, com 03 personagens
centrais e vários coadjuvantes, mas essenciais ao enredo. Vencidas as primeiras
páginas e em se familiarizando com a linguagem e o estilo do autor, o livro
alça voo e fica difícil estancar a leitura: amor, ódio, sofrimento, perdas, reencontros e brutal traição fazem dos “loucos”
leitura obrigatória. E, acrescente-se um pouco da história – principalmente dos
judeus, na Polônia ocupada pelos russos. Mais, não conto.
“Os loucos da Rua Mazur”,
João Pinto Coelho, editora Leya.
terça-feira, 4 de setembro de 2018
O Candidato da mentira
Alckmin, o candidato do sistema, começou sua propaganda,
atacando Bolsonaro e apresentando suas estatísticas que, sabemos, são vergonhosamente
falsas. Falar, por exemplo, que o índice de criminalidade caiu, é rotunda
balela. O Estado de São Paulo, nestes anos de governo Alckmin, foi o que apresentou
o maior número de latrocínio (roubo seguido de morte), de assaltos a caixas
eletrônicos, de roubo de cargas. Basta ir a um Distrito Policial, para
identificar a falta de estrutura para o trabalho, a gerar desmotivação entre
policiais, que ficaram sem reajuste salarial, durante quase toda a
administração Alckmin. As escolas públicas estaduais restaram ao abandono, o
mesmo acontecendo com os hospitais. Todavia, os desatinos de Alckmin não
ficaram, apenas na administração pública. Seu governo está marcado por obcenas
histórias de corrupção, nas obras do Metrô, do Rodoanel, da CPTM, para ficar
apenas nestas. Não adianta Alckmin, com seu ar professoral, citar dados
inexistentes, contar histórias de realizações que não houve. Por que será que,
em nosso Estado, Alckmin não alcança mais de 15% das intenções de voto? A
resposta é óbvia: porque, nós, que aqui estamos, sabemos da verdade, do
fracasso que foram as administrações do ex-governador. Como, para ele, os fins
justificam os meios, tratou de construir aliança espúria, com o que há de pior
na política brasileira, para conseguir tempo mais dilatado na televisão.
Alckmin, se fosse eleito (seu desempenho pífio indica que não o será) teria de
dividir o governo, por exemplo, com Roberto Jefferson e Valdemar da Costa Neto,
seus aliados. Seria o retorno do Brasil a seu pior momento. Este é o candidato
que, por não conseguir alçar voo, cuja insinceridade sai pelos óculos, em
estado de desespero, atira em outros candidatos, para os ter embaixo, a seu
lado,
segunda-feira, 3 de setembro de 2018
O elo desfeito
Era uma vez um amigo, queridíssimo amigo. Conheci-o, quando
cheguei, povoado de medos, no Liceu Pasteur, para fazer o curso clássico. Como
eu, vinha ele do interior e trombou com aquele casarão imponente, que cobria o
quarteirão e de onde saíam jovens adolescentes, recheados de arrogância da
cidade grande. Aproximou-nos a timidez dos que julgam pouco ou nada saber perto
dos que aparentam notória sabença. Por conta de muita dedicação, passamos a
contar entre os melhores. Quando chegou o vestibular, esquecemos do bom viver, porque estudar e (quase) só
estudar, era preciso. E colhemos o fruto, pois, de primeira, estávamos na
faculdade e no topo da lista. Como era aluno interno, vivia em minha casa e eu,
por vezes várias, corri ao interior, a conviver com a família, a ouvir, atento,
a sabedoria do pai, que só não tornou meu amigo, porque era muito desejar para
mim. Posso dizer que amadurecemos juntos, marido e esposa irmanados, a viajarem
viagens de folguedos, aquém e além mar. Ele, do alto de sua classe, degustava o
fino camarão e o acarajé de beira de calçada. Assim, sem frescura, alma lavada
e pronta para o bom viver. Éramos irmãos que se queriam até não poder mais.
Certo aniversário meu, ele recuperado de insidiosa doença, passei-o com ele,
pois tê-lo, de volta, era o maior presente. Até que um dia, talvez pelos uísques
bebidos, ele agrediu, não a mim, mas a fé, que eu tinha sem medidas. Poderia
ter deixado passar, que palavras não são para embrutecer. Mas, embrutecido,
disse-lhe palavras duras e as disse por escrito, que era para marcar, com tinta
indelével, a ruptura de amizade, que tínhamos, como definitiva. Mas o tempo –
quase nenhum tempo – passou e eu me arrependi, não desses arrependimentos que,
histéricos, correm a se desculparem, mas arrependimento sem força, até porque o
cristal se trincara. Deixei-me ficar com a memória dos momentos de folguedos e,
principalmente, das tristezas e dificuldades que, juntos, transpusemos, porque tínhamos
corações e mentes unidas.
Amanhã, 04, ele comemora vários anos, dois a menos do que eu,
o que já é “barbaridade”, palavra que
ele costumava usar. Como posso pouco, rezarei por ele, pedindo a Deus proteção
para a família, que construiu e, também que não deixe morrer em mim esta
amizade que, mesma rompida e distante
foi um dos melhores momentos que vivi.
“Fabius, morituri te
salutant”
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