Desde terça-feira, Rodolfo, meu politizado pastor alemão,
cerca-me, a pretexto de assunto urgente. Como sei do que se trata, evito-o,
quanto posso. Por óbvio, Rodolfo quer saber da entrevista de Jair Bolsonaro, na
última segunda-feira, ao ¨Roda Viva”
da Tv Cultura. Debate pífio, pela baixa qualidade dos entrevistadores, que, ao
invés de extraírem as ideias do presidenciável, injetaram sangue petista nos
olhos e pressionaram Bolsonaro a expor conceitos preconceituosos. E ficar, por
todo um bloco, a falar da morte de Vladimir Herzog, ocorrida há quarenta
longínquos anos, é sair do debate essencial, e apenas se pretender colocar
casca de banana à frente do candidato. Entre enojado e entediado, mudei de
canal, ao final do segundo bloco. Ontem, mal chegante em casa, Rodolfo me
abordou. Que era falta de consideração eu evitá-lo, ele, sempre atento às
minhas necessidades, etc etc.
Envergonhado, prometi-lhe toda a atenção, após o jantar. Encerrado este, como
estava muito frio, pedi permissão a quem manda
para que ele entrasse e se acomodasse, a meu lado, no sofá da sala,
Jobim “rodando na vitrola, sem parar”.
O assunto era mesmo o debate, mas, antes que eu iniciasse a exposição acima,
Rodolfo, cheio de entusiasmo, foi logo dizendo: “você viu que sucesso? “Roda Viva” alcançou inusitado índice de
audiência e, pesquisa realizada após o debate, indica que nosso candidato
“subiu 02 pontos percentuais nas intenções de votos””. Retruquei: “espera aí, Rodolfo”, “nosso candidato”? Eu, cá de mim, ainda não
decidi. Confesso minha simpatia por Bolsonaro, mas gostaria de conhecer suas
ideias sobre temas, como redução do déficit público, reforma previdenciária,
tributária, administrativa e tantas outras, a clamarem por urgência.¨ “Bobagem, - rebateu Rodolfo – o homem é nosso “Trump brasileiro”. Nunca
esteve envolvido em qualquer ato de corrupção e, por não querer enganar o
eleitor, afirma nada entender de economia, mas que se assessorará por quem
entende. Afinal, Getúlio, Juscelino, os presidentes militares entendiam de
economia? Bolsonaro, meu caro, tal qual Trump o foi, é apoiado pela “maioria
silenciosa”, que sofre com a falta de emprego, com salários aviltados, com
juros inimagináveis ao mais inescrupuloso agiota. Trump, atacado pela grande mídia, que
apoia o sistema – até por que vive
dele – está fazendo os Estados Unidos crescerem a uma taxa de 4%. Bolsonaro,
aqui, é o anti-sistema, atacado por
“Veja”, “Isto é”, “Globonews”, que sempre estiveram a serviço dos grandes
conglomerados, por isso é o candidato da maioria, feita silenciosa.”
Como a noite avançava e o frio idem, despedi-me de Rodolfo,
todavia levando seu discurso comigo. Será que meu amado pastor alemão está
certo?
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