segunda-feira, 14 de janeiro de 2013


OUTRA VIAGEM DE AVIÃO

A primeira vez que viajei de avião foi lá pelo começo dos anos 60. Eu, estudando em São Paulo, fui para o enterro do meu pai, no interior de Minas e tive que voltar, às pressas, porque estava a meio do vestibular. O avião era um DC-3 da VARIG, que, alguns anos depois, encontraria exposto, como relíquia, no “Aterro do Flamengo”, no Rio. De lá até esta data, viajei, centenas de vezes, em todo tipo de aeronave. Confesso, sem heroísmo, que nunca tive medo, apenas certo desconforto, por ocasião de temporais ou intensas turbulências. Nessas ocasiões, procuro me distrair lendo um livro ou folheando uma revista. O que realmente me incomoda são as recomendações, feitas pelo comissário de bordo, antes da decolagem: a localização das saídas de emergência, o assento que flutua, a máscara, que cai automaticamente etc. Fico a me perguntar: na hora do “vamos ver”, será que alguém se lembra daquelas instruções e as segue, corretamente? Felizmente, nestes 40 anos de passageiro alado, nunca vivi qualquer experiência que fosse além de “afivelar os cintos de segurança”. Neste campo, não tenho histórias para contar. Na última quarta-feira, porém, tive um pequeno acesso de insubordinação: após o discurso de praxe, o comissário aproximou-se de mim, dizendo “Já que o senhor está sentado ao lado da saída de emergência, por certo deve saber o procedimento a ser adotado, em caso extremo. O senhor sabe como abrir a porta e em que circunstâncias não pode abri-la?”. Logo eu que, com alguma dificuldade, descasco uma banana, estaria encarregado de tarefas tão complexas, a serem executadas em momento de pânico! Enquanto o comissário recitava tantas e incompreensíveis instruções, passei os olhos pelo interior do avião e tomei a decisão mais sensata: mudei de lugar. Que outro, não eu, se incumbisse de tão dramática missão.

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