OUTRA VIAGEM DE AVIÃO
A primeira
vez que viajei de avião foi lá pelo começo dos anos 60. Eu, estudando em São
Paulo, fui para o enterro do meu pai, no interior de Minas e tive que voltar, às
pressas, porque estava a meio do vestibular. O avião era um DC-3 da VARIG, que,
alguns anos depois, encontraria exposto, como relíquia, no “Aterro do Flamengo”,
no Rio. De lá até esta data, viajei, centenas de vezes, em todo tipo de
aeronave. Confesso, sem heroísmo, que nunca tive medo, apenas certo
desconforto, por ocasião de temporais ou intensas turbulências. Nessas
ocasiões, procuro me distrair lendo um livro ou folheando uma revista. O que
realmente me incomoda são as recomendações, feitas pelo comissário de bordo, antes
da decolagem: a localização das saídas de emergência, o assento que flutua, a
máscara, que cai automaticamente etc. Fico a me perguntar: na hora do “vamos
ver”, será que alguém se lembra daquelas instruções e as segue, corretamente? Felizmente,
nestes 40 anos de passageiro alado, nunca vivi qualquer experiência que fosse
além de “afivelar os cintos de segurança”. Neste campo, não tenho histórias
para contar. Na última quarta-feira, porém, tive um pequeno acesso de
insubordinação: após o discurso de praxe, o comissário aproximou-se de mim, dizendo
“Já que o senhor está sentado ao lado da
saída de emergência, por certo deve saber o procedimento a ser adotado, em caso
extremo. O senhor sabe como abrir a porta e em que circunstâncias não pode
abri-la?”. Logo eu que, com alguma dificuldade, descasco uma banana, estaria
encarregado de tarefas tão complexas, a serem executadas em momento de pânico! Enquanto
o comissário recitava tantas e incompreensíveis instruções, passei os olhos
pelo interior do avião e tomei a decisão mais sensata: mudei de lugar. Que
outro, não eu, se incumbisse de tão dramática missão.
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