Rodolfo, meu politizado pastor alemão, desde domingo à noite,
insiste em conversar comigo. O frio, este inimigo de sempre, suspendeu nossos
passeios noturnos, rápidos passeios, mas que serviam para comentarmos os
assuntos do dia. Ontem, após o jantar, todos recolhidos, procurei-o, até porque
amigo está acima das oscilações da temperatura. Refugiamo-nos no fundo da
garagem. Rodolfo não é chegado a conflitos existenciais, por isso o assunto só
podia ser... política. E era! Rodolfo queria minha opinião sobre a vitória de
Nicolás Maduro, na Venezuela. Para sua irritação, respondi-lhe que tinha sido
contundente, pois Maduro tivera o triplo dos votos de seu opositor. Fez-se,
assim, a vontade da esmagadora maioria do povo. Rodolfo não se conteve: “mas os mais importantes países do mundo,
inclusive o Brasil, não reconheceram a eleição de Maduro, sob alegação de
fraude”. Respondi-lhe que: “ é sempre
assim, quando o eleito não é o “nosso”
candidato, a eleição foi fraudada. E outra coisa: o Brasil, a França e
outros não reconhecerem Maduro, como presidente eleito, nada, rigorosamente,
nada significa, é mero ato político. A Venezuela se sustenta com a alta
produção de petróleo, vendido, em maior parte, para a China, que, diga-se de
passagem, reconheceu a legalidade da eleição.
Eu, cá de mim, espero que a elevação do preço do barril de petróleo, no mercado
internacional, promova melhor condição de vida da população venezuelana”.
Rodolfo, que anda lendo o “Estadão” e
assistindo ao noticiário da “Globonews”,
não se deu por vencido: “mas como, com o
povo a viver com inflação de 50.000%,
sem ter o que e onde comprar até papel higiênico, fugindo do País, não seria o
caso de intervenção militar externa, para depor Maduro?” – “Devagar com o andor, Rodolfo! O Brasil, no
governo Sarney, já conviveu com inflação elevada e desabastecimento de gêneros
alimentícios, alguns, como a carne, encontrados apenas no mercado negro.
Ultrapassamos esses obstáculos e vida que seguiu, inflação controlada,
abastecimento pleno. Quanto ao problema da imigração de venezuelanos, este é
dominante entre povos não desenvolvidos que buscam outros países, como
alternativa de melhores condições de vida. Agora mesmo, muitos brasileiros
estão se transferindo, principalmente para Portugal e Estados Unidos, seja em
virtude do achatamento de nosso mercado de trabalho, seja por motivos de
segurança pessoal. Aliás, o Brasil, desde final do século 19 recebeu italianos,
árabes, japoneses, alemães que foram fundamentais ao desenvolvimento nacional.
E ainda tivemos, como fator importante do crescimento paulista, as correntes
migratórias, vindas, principalmente do nordeste, quando do surgimento da
indústria automobilística. Portanto, meu caro Rodolfo, imigração, desde que
controlada, não é nenhum bicho papão. Não tenho qualquer simpatia pelo Maduro,
com aquele jeitão de psicopata, mas tenho certeza que, com a nova alta do
petróleo, a economia da Venezuela voltará a se recuperar.” Já subindo a
escada, Rodolfo continuou: “mas o Trump
ameaça retaliar. Isto não pode resultar naquela intervenção, a que me referi?”
– “Bobagem, Rodolfo, Trump está
preocupado é com o Oriente Médio. A América Latina tem pouca, para não dizer nenhuma, importância geopolítica, não
oferecendo qualquer risco para os Estados Unidos. Os países que contam –
Brasil, Argentina e Chile – são aliados dos norte americanos, até por
dependência econômica”.
Não sei se convenci Rodolfo, que desceu a escada, balançando
a cabeça, com aquele ar de “não sei, não!”
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