quinta-feira, 24 de maio de 2018

Rodolfo, eu e a Venezuela


Rodolfo, meu politizado pastor alemão, desde domingo à noite, insiste em conversar comigo. O frio, este inimigo de sempre, suspendeu nossos passeios noturnos, rápidos passeios, mas que serviam para comentarmos os assuntos do dia. Ontem, após o jantar, todos recolhidos, procurei-o, até porque amigo está acima das oscilações da temperatura. Refugiamo-nos no fundo da garagem. Rodolfo não é chegado a conflitos existenciais, por isso o assunto só podia ser... política. E era! Rodolfo queria minha opinião sobre a vitória de Nicolás Maduro, na Venezuela. Para sua irritação, respondi-lhe que tinha sido contundente, pois Maduro tivera o triplo dos votos de seu opositor. Fez-se, assim, a vontade da esmagadora maioria do povo. Rodolfo não se conteve: “mas os mais importantes países do mundo, inclusive o Brasil, não reconheceram a eleição de Maduro, sob alegação de fraude”. Respondi-lhe que: “ é sempre assim, quando o eleito não é o “nosso”  candidato, a eleição foi fraudada. E outra coisa: o Brasil, a França e outros não reconhecerem Maduro, como presidente eleito, nada, rigorosamente, nada significa, é mero ato político. A Venezuela se sustenta com a alta produção de petróleo, vendido, em maior parte, para a China, que, diga-se de passagem, reconheceu a  legalidade da eleição. Eu, cá de mim, espero que a elevação do preço do barril de petróleo, no mercado internacional, promova melhor condição de vida da população venezuelana”. Rodolfo, que anda lendo o “Estadão” e assistindo ao noticiário da “Globonews”, não se deu por vencido: “mas como, com o povo a viver com  inflação de 50.000%, sem ter o que e onde comprar até papel higiênico, fugindo do País, não seria o caso de intervenção militar externa, para depor Maduro?” – “Devagar com o andor, Rodolfo! O Brasil, no governo Sarney, já conviveu com inflação elevada e desabastecimento de gêneros alimentícios, alguns, como a carne, encontrados apenas no mercado negro. Ultrapassamos esses obstáculos e vida que seguiu, inflação controlada, abastecimento pleno. Quanto ao problema da imigração de venezuelanos, este é dominante entre povos não desenvolvidos que buscam outros países, como alternativa de melhores condições de vida. Agora mesmo, muitos brasileiros estão se transferindo, principalmente para Portugal e Estados Unidos, seja em virtude do achatamento de nosso mercado de trabalho, seja por motivos de segurança pessoal. Aliás, o Brasil, desde final do século 19 recebeu italianos, árabes, japoneses, alemães que foram fundamentais ao desenvolvimento nacional. E ainda tivemos, como fator importante do crescimento paulista, as correntes migratórias, vindas, principalmente do nordeste, quando do surgimento da indústria automobilística. Portanto, meu caro Rodolfo, imigração, desde que controlada, não é nenhum bicho papão. Não tenho qualquer simpatia pelo Maduro, com aquele jeitão de psicopata, mas tenho certeza que, com a nova alta do petróleo, a economia da Venezuela voltará a se recuperar.” Já subindo a escada, Rodolfo continuou: “mas o Trump ameaça retaliar. Isto não pode resultar naquela intervenção, a que me referi?” – “Bobagem, Rodolfo,  Trump está preocupado é com o Oriente Médio. A América Latina tem pouca, para não  dizer nenhuma, importância geopolítica, não oferecendo qualquer risco para os Estados Unidos. Os países que contam – Brasil, Argentina e Chile – são aliados dos norte americanos, até por dependência econômica”.
Não sei se convenci Rodolfo, que desceu a escada, balançando a cabeça, com aquele ar de “não sei, não!”

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