Como é do conhecimento dos mais chegados, trabalho muito mal com este
negócio de idade. Escondo-a, principalmente de mim mesmo. Inacreditável como,
em estalar dos dedos, acumularam-se tantos anos, sem ter realizado importantes
planos. Acontece que tenho amigos, longevos como eu, que têm o estranho gosto
de alardear idade, o que acaba revelando a minha. Por exemplo, amanhã, 18, é
aniversário de meu definitivo amigo, José Paulo de Andrade. Distanciam-nos
raquíticos 03 meses – eu sou de fevereiro -. Quantos anos ele vai fazer? “Nem a pau Juvenal”, isto é lá com ele. Conhecemo-nos
no Liceu Pasteur, eu, caipiríssimo, recém-chegado do interior de Minas, ele,
sempre elegante, o único que não abdicava de terno e gravata. Não me recordo
bem o que nos uniu, mas enfrentamos, com galhardia e sapiência – desculpem a
modéstia – os inflamados discursos de Cícero e as poesias épicas de Virgílio.
Caçavamo-lhes os sujeitos e predicados, além de os trazer para o Português.
Talvez seja a razão pela qual, até hoje, ele se refere a mim, como “latinista”. Podem não acreditar, mas já
fomos magérrimos e, a quem duvida, exibo foto tirada no encerramento do curso
clássico. Isto foi em... deixa pra lá. Zé e eu temos o bom hábito de, pelo
menos mensalmente, almoçar no mesmo restaurante, acompanhado de bom vinho.
Falamos um pouco do passado, muito do presente e quase nada do futuro, que não
estamos com esta bola toda. Por falar em “bola
pouca”, ele é são-paulino e eu botafoguense, então futebol não entra em
nosso papo, apesar de ele, dentre tantas coisas realizadas, no rádio e na
televisão, ter sido repórter de campo. Aliás, já contei quantas vezes nos
encontramos no “corujão” da ponte-área, ele, voltando do tal trabalho, eu da boemia
carioca de fim-de-semana, que ninguém é de ferro. Pois as décadas se passaram e
nossos laços de amizade só nos tornaram mais íntimos, inclusive em segredos,
mantidos a ferro e fogo. De vez em quando, só pelo afeto que se encerra,
ele, em seu badalado programa, fala de
algum texto manco deste escriba idem. E meu ego se inflama, porque conhecidos
logo se espantam com minha importância: “você
foi citado no programa do José Paulo de Andrade!!!” Logo acrescento, quase
a pedir desculpas, “ele é amigo de longa
data.” E, na verdade, é esta amizade que importa, feita de afeto e respeito
mútuo, onde não há espaço para o “dou
para que dês”.
Por puro egoísmo e um pouco para me mostrar, antecipo meu
abraço, apertado abraço, em – morram de inveja – meu íntimo Zé Paulo, que
possamos, por longo tempo, beber do bom vinho e desfrutar do bom papo, que nos
tornam, se for possível, cada dia mais amigos.
Que Deus estenda suas bençãos sobre ele.
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