quinta-feira, 17 de maio de 2018

Para falar de aniversário e amizade


Como é do conhecimento  dos mais chegados, trabalho muito mal com este negócio de idade. Escondo-a, principalmente de mim mesmo. Inacreditável como, em estalar dos dedos, acumularam-se tantos anos, sem ter realizado importantes planos. Acontece que tenho amigos, longevos como eu, que têm o estranho gosto de alardear idade, o que acaba revelando a minha. Por exemplo, amanhã, 18, é aniversário de meu definitivo amigo, José Paulo de Andrade. Distanciam-nos raquíticos 03 meses – eu sou de fevereiro -. Quantos anos ele vai fazer? “Nem a pau Juvenal”, isto é lá com ele. Conhecemo-nos no Liceu Pasteur, eu, caipiríssimo, recém-chegado do interior de Minas, ele, sempre elegante, o único que não abdicava de terno e gravata. Não me recordo bem o que nos uniu, mas enfrentamos, com galhardia e sapiência – desculpem a modéstia – os inflamados discursos de Cícero e as poesias épicas de Virgílio. Caçavamo-lhes os sujeitos e predicados, além de os trazer para o Português. Talvez seja a razão pela qual, até hoje, ele se refere a mim, como “latinista”. Podem não acreditar, mas já fomos magérrimos e, a quem duvida, exibo foto tirada no encerramento do curso clássico. Isto foi em... deixa pra lá. Zé e eu temos o bom hábito de, pelo menos mensalmente, almoçar no mesmo restaurante, acompanhado de bom vinho. Falamos um pouco do passado, muito do presente e quase nada do futuro, que não estamos com esta bola toda. Por falar em “bola pouca”, ele é são-paulino e eu botafoguense, então futebol não entra em nosso papo, apesar de ele, dentre tantas coisas realizadas, no rádio e na televisão, ter sido repórter de campo. Aliás, já contei quantas vezes nos encontramos  no “corujão” da ponte-área, ele, voltando do tal trabalho, eu da boemia carioca de fim-de-semana, que ninguém é de ferro. Pois as décadas se passaram e nossos laços de amizade só nos tornaram mais íntimos, inclusive em segredos, mantidos a ferro e fogo. De vez em quando, só pelo afeto que se encerra, ele,  em seu badalado programa, fala de algum texto manco deste escriba idem. E meu ego se inflama, porque conhecidos logo se espantam com minha importância: “você foi citado no programa do José Paulo de Andrade!!!” Logo acrescento, quase a pedir desculpas, “ele é amigo de longa data.” E, na verdade, é esta amizade que importa, feita de afeto e respeito mútuo, onde não há espaço para o “dou para que dês”.
Por puro egoísmo e um pouco para me mostrar, antecipo meu abraço, apertado abraço, em – morram de inveja – meu íntimo Zé Paulo, que possamos, por longo tempo, beber do bom vinho e desfrutar do bom papo, que nos tornam, se for possível, cada dia mais  amigos.
Que Deus estenda suas bençãos sobre ele.

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