quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Rodolfo, eu e as eleições norte-americanas.



Rodolfo, meu politizado pastor alemão, exige que eu rompa meu período sabático e teça considerações sobre o resultado das eleições norte-americanas. Respondo-lhe que é tarefa desnecessária, vez que, nas últimas 48 horas, as emissoras de televisão – que torceram, até com euforia por Hillary – não falam em outra coisa. Mas ele insiste, afinal nós dois passamos a madrugada do dia 9 acompanhando a marcha das apurações. Rodolfo é republicano, nos Estados Unidos e repudia Obama que, segundo ele, é bom de marketing, mas péssimo gestor público, a cujo governo responsabiliza pela crise de 2008. Rodolfo costuma dizer que os democratas fazem a guerra e os republicanos costuram a paz. Rodolfo tem desprezo pela Hillary, a quem chama de mentirosa e belicista. Conhecendo como sou subserviente a um chamego, ele se aninha, entre minhas pernas, roçando seus pelos nela e procurando, com a cabeça, minhas mãos para um afago. Eu, mendigo de carinho, rendo-me, vou quebrar o silencio, que me impus, mas estabeleço condição irreversível: será a opinião dele que vou transmitir. Ele ainda quer saber porque e eu, para não estender o assunto, sou curto e grosso: já estou de partida, e não vejo como a vitória de Trump possa influir em meu medíocre cotidiano, trabalho-casa. Além do mais, tenho missão muito mais importante: resolver se mato os personagens principais de meu novo livro ou se os deixo viver, torturados pelas lembranças dos terríveis dias vividos. Contrafeito, Rodolfo instala-se, dignamente, a meu lado, faz aquele ar professoral dos entrevistados da ‘’GloboNews’’ e iniciamos o diálogo:
Eu: - ‘’e, então, Rodolfo, a que você atribui a vitória do Trump, contrariando todas as pesquisas?’’
Rodolfo: - ‘’pra começo de conversa, esta história de pesquisa foi pura empulhação da mídia norte-americana, comprometida com a candidatura Hillary, para induzir o eleitorado a votar na democrata. Qualquer imbecil sabe que, em sendo a voto facultativo, a pesquisa perde seu conteúdo cientifico. Mas acabou sendo um tiro no pé, pois adeptos de Trump, decididos a não votar, correram às urnas, fazendo a diferença, a favor dele, principalmente na Flórida e em Ohio, Estados decisivos para a vitória republicana’’.
Eu: - ‘’mas, na campanha, Trump foi um falastrão, atacou as mulheres, as minorias, falou da muralha, a ser construída na fronteira com o México, que vai expulsar imigrantes e, mesmo assim, o homem ganha. Como você explica?’’
Rodolfo: - ‘’você precisa raciocinar com a cabeça do norte-americano. Essas questões, que você falou, não têm qualquer importância. Trump fundamentou sua campanha em 03 pontos essenciais: o protecionismo à industria nacional; a valorização do emprego, contra a ação predatória da mão-de-obra imigrante e o fim da presença dos Estados Unidos, em conflitos, que não lhe dizem respeito. Durante a campanha, Trump apresentou dados, não refutados por Hillary, segundo os quais, durante os 8 anos do governo Obama, cerca de 5 mil norte-americanos, a maioria com menos de 30 anos, morreram em combates, no Oriente Médio. Trump se comprometeu a trazer os soldados americanos, de volta para casa. Você tem idéia como tal afirmação deva ter atingido corações e mentes, especialmente de mães desses soldados? O lema de Trump, segundo o qual cada País que cuide de si, sem envolver os Estados Unidos em suas querelas, pode desagradar o mundo, mas é música suave aos ouvidos do americano. Quanto ao protecionismo industrial, também acho justificável. Veja o que aconteceu no Brasil, onde a industria têxtil praticamente desapareceu, substituída pelo produto chinês, de baixa qualidade que, via de regra, entrou no Brasil de forma clandestina. Em São Paulo, o comércio, principalmente, o eletro-eletrônico é, predominante, dominado por coreanos, muitos clandestinos, produtos e coreanos. Os haitianos, que entraram pela fronteira do norte do País, já ocupam cerca de 20% das vagas da construção civil, sujeitando-se a salários e condições de trabalho inferiores aos brasileiros. É claro que lamentamos a situação deles, mas, e os nossos desempregados, não contam? Foi dentro dessa lógica imbatível que Trump construiu seu discurso de campanha, que agradou o norte-americano, que viu suas industrias fecharem as portas, gerando desemprego, enquanto produtos estrangeiros, principalmente chineses e japoneses inundavam o mercado. Em resumo: Hillary, era a continuidade do mesmo e Trump, mesmo com sua fanfarronice, representava a esperança do novo tempo, tempo dos Estados Unidos para os norte-americanos. E é bom não esquecer os valores morais, que o norte-americano conservador preserva. Afinal, nunca é demais lembrar que os Estados Unidos foram fundados por puritanos ingleses, transportados pelo ‘’Mayflowers’’ e esse ‘’puritanismo’’ subsiste na religião professada por grande parte da população. Na cabeça desse segmento, Trump defende esses valores e Hillary a permissividade.’’

Olho para Rodolfo e não posso deixar de concordar com ele, que se retira, em passos firmes, para beber água e comer um pouco de ração. Como ‘’bônus’’, ofereço-lhe duas coxas de frango, sobras do jantar de ontem. 

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