sexta-feira, 25 de novembro de 2016

O acompanhante



Alguém, por amizade ou parentesco, já passou a noite, em quarto de hospital, como acompanhante de pessoa enferma? Estou vivendo essa experiência e tenho algumas considerações a fazer. Em primeiro lugar, gostaria de saber – e estou aberto a esclarecimentos – quem atribuiu ao doente o codinome de ‘’paciente’’. Nada mais impróprio, porque ele – pelo menos o meu – caracteriza-se, com toda razão, pela impaciência. Nada mais angustiante do que ficar retido, em uma cama, conectado a aparelhos, que fazem companhia ao doente, até quando ele vai ao banheiro. E como fica a cabeça do infeliz, vendo a vida, principalmente a sua, correndo lá fora e ele, ali, impotente? Mas, deixemos o (im)paciente de lado e falemos do ‘’acompanhante’’. Via de regra, é ele um leigo, que não tem a menor ideia para que servem aqueles botões e fios, o que o deixa em permanente estado de pânico, se tiver que tomar qualquer iniciativa. E a cama do acompanhante? Pra começo de conversa, não é cama, mas, sim, um raquítico sofá, geralmente de couro falso, que o expulsa a qualquer movimento mais brusco e, a depender de sua estatura, deixa seus pés de fora. Além de o acompanhante dormir de olhos abertos, pois seus sentidos estão no (im)paciente, durante toda a madrugada é um entra e sai de enfermeiros e auxiliares de enfermagem, que, sem qualquer cerimônia, acendem as luzes, suficientes para despertar até defunto. E a comida do acompanhante? Tenho a convicção formada de que nutricionista de hospital tem, geneticamente, aversão à comida, porisso prepara uma ‘’gororoba’’, sem tempero, seguida de gelatina, de sabor não identificado. Se o acompanhante ainda ‘’ganha o pão com o suor do próprio rosto’’, cumprindo a maldição bíblica – como é o caso deste canhestro escriba – no dia seguinte ao ‘’plantão’’, ele chega ao trabalho como se fosse zumbi, lutando para concatenar as ideias, como faço neste momento.

 Acompanhante, um dia você será um! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário