Alguém, por amizade ou parentesco, já passou a noite, em
quarto de hospital, como acompanhante de pessoa enferma? Estou vivendo essa experiência
e tenho algumas considerações a fazer. Em primeiro lugar, gostaria de saber – e
estou aberto a esclarecimentos – quem atribuiu ao doente o codinome de ‘’paciente’’.
Nada mais impróprio, porque ele – pelo menos o meu – caracteriza-se, com toda
razão, pela impaciência. Nada mais angustiante do que ficar retido, em uma
cama, conectado a aparelhos, que fazem companhia ao doente, até quando ele vai
ao banheiro. E como fica a cabeça do infeliz, vendo a vida, principalmente a
sua, correndo lá fora e ele, ali, impotente? Mas, deixemos o (im)paciente de
lado e falemos do ‘’acompanhante’’. Via de regra, é ele um leigo, que não tem a
menor ideia para que servem aqueles botões e fios, o que o deixa em permanente
estado de pânico, se tiver que tomar qualquer iniciativa. E a cama do
acompanhante? Pra começo de conversa, não é cama, mas, sim, um raquítico sofá,
geralmente de couro falso, que o expulsa a qualquer movimento mais brusco e, a
depender de sua estatura, deixa seus pés de fora. Além de o acompanhante dormir
de olhos abertos, pois seus sentidos estão no (im)paciente, durante toda a
madrugada é um entra e sai de enfermeiros e auxiliares de enfermagem, que, sem
qualquer cerimônia, acendem as luzes, suficientes para despertar até defunto. E
a comida do acompanhante? Tenho a convicção formada de que nutricionista de
hospital tem, geneticamente, aversão à comida, porisso prepara uma ‘’gororoba’’,
sem tempero, seguida de gelatina, de sabor não identificado. Se o acompanhante
ainda ‘’ganha o pão com o suor do próprio rosto’’, cumprindo a maldição bíblica
– como é o caso deste canhestro escriba – no dia seguinte ao ‘’plantão’’, ele
chega ao trabalho como se fosse zumbi, lutando para concatenar as ideias, como
faço neste momento.
Acompanhante, um dia você
será um!
Nenhum comentário:
Postar um comentário