Porque foi São João
Ao olhar a agenda do dia, surpreendi-me com o
fato de ontem ter sido São João. Nenhum balão iluminou, qual estrela cadente, o
céu que, também não viu o riscar dos fogos de artifício. Do Santo, alguns
apenas se lembram de ter sido quem batizou Cristo. Mais do que isso: foi ele o
precursor e o ideólogo do Cristianismo. E da festa? Tem-se noticia – vaga noticia
– ser o “São João” uma das maiores
festas do nordeste. Mas a mim, a data remete-me à infância, absurdamente
distante. A fogueira era montada, lenha a lenha, com dias de antecedência. Aos
olhos de eu menino – que teimo em conservar – atingia a uns 10 metros de
altura. A excitação tirava-me o sono de véspera e o grande dia transcorria
agitado, preparando os doces e a comida. Mal escurecia e lá íamos nós para o
ritual de acender a fogueira: ver a madeira estalar e, lentamente, ser lambida
pelo fogo. Às crianças eram distribuídos “fósforos
de cor” e “espanta coió”, uma
fita de pólvora que, em se passando pela parede, produzia um barulho seco e
escurecia os dedos. E havia também o “traque”
que atirávamos uns aos outros, ou os acendíamos em circulo, formando uma “ciranda”. Comíamos “batata doce”, “pé de moleque”, “lombo de porco”, até que o inicio
da madrugada nos levasse, cansados, para a cama. Lembro-me de meu pai – ele
também João -, sentado à distancia, apreciando nossa alegria. Sem euforia, mas,
tenho certeza, com o coração transbordado, por saber que tinha nos
proporcionado viver um sonho, que jamais irá se apagar de minha retina cansada.
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