segunda-feira, 30 de junho de 2014

Para não dizer que não falei em copa

O Brasil vive o tormento da ausência de um herói. Depois da trágica morte de Senna, nossos locutores e analistas de automobilismo tudo fizeram para promoverem, primeiro Barrichello, depois Massa, a legítimos sucessores daquele... tarefa ingente e frustrada, que afastou a maioria dos telespectadores da televisão. Acho, até que, nos dias atuais, apenas Galvão Bueno e Reginaldo Leme são, por dever de ofício, os únicos telespectadores das manhãs de domingo. No futebol, o fenômeno se repete. Encerrado o ciclo “Ronaldo”, não apareceu ninguém, digno de limpar-lhe as chuteiras. Mas a imprensa esportiva precisa sobreviver e daí inventaram Neymar, como o novo gênio da pátria. Ganhou fama, muito dinheiro (e belas mulheres, é claro), mas seu futebol é esta coisa pouca que vem exibindo na copa, sobressaindo-se apenas contra adversários medíocres. Não é justo criticar o Felipão, pela pequenez do futebol, apresentado pela nossa seleção. Quem acompanha o campeonato brasileiro sabe que não temos melhor a oferecer, a não ser esse bando desordenado de jogadores, a maioria deles desconhecidos, até par nós mesmos. Se vamos ganhar a copa?o coração diz que sim, mas a razão diz que ganhar seria iludir o povo, como se ainda tivéssemos o melhor futebol do mundo. Afinal, com quem ficar, com o coração ou com a razão?

quarta-feira, 25 de junho de 2014

                                               Porque foi São João
Ao olhar a agenda do dia, surpreendi-me com o fato de ontem ter sido São João. Nenhum balão iluminou, qual estrela cadente, o céu que, também não viu o riscar dos fogos de artifício. Do Santo, alguns apenas se lembram de ter sido quem batizou Cristo. Mais do que isso: foi ele o precursor e o ideólogo do Cristianismo. E da festa? Tem-se noticia – vaga noticia – ser o “São João” uma das maiores festas do nordeste. Mas a mim, a data remete-me à infância, absurdamente distante. A fogueira era montada, lenha a lenha, com dias de antecedência. Aos olhos de eu menino – que teimo em conservar – atingia a uns 10 metros de altura. A excitação tirava-me o sono de véspera e o grande dia transcorria agitado, preparando os doces e a comida. Mal escurecia e lá íamos nós para o ritual de acender a fogueira: ver a madeira estalar e, lentamente, ser lambida pelo fogo. Às crianças eram distribuídos “fósforos de cor” e “espanta coió”, uma fita de pólvora que, em se passando pela parede, produzia um barulho seco e escurecia os dedos. E havia também o “traque” que atirávamos uns aos outros, ou os acendíamos em circulo, formando uma “ciranda”. Comíamos “batata doce”, “pé de moleque”, “lombo de porco”, até que o inicio da madrugada nos levasse, cansados, para a cama. Lembro-me de meu pai – ele também João -, sentado à distancia, apreciando nossa alegria. Sem euforia, mas, tenho certeza, com o coração transbordado, por saber que tinha nos proporcionado viver um sonho, que jamais irá se apagar de minha retina cansada.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Rápida digressão sobre a vaia e o aplauso
As ofensas, recebidas pela Presidente Dilma, na abertura da copa do mundo, remeteu-me ao longínquo ano de 1971. Final do campeonato carioca, Botafogo e Fluminense, mais de 150 mil espectadores lotam o Maracanã. De repente, o serviço de alto-falantes do estádio informa: “anunciamos a chegada do senhor Presidente da República, general Emilio Garrastazu Médici.” Foram, pelo menos, cinco minutos de aplausos. Aliás, o Presidente Médici, fanático por futebol e torcedor do Flamengo, era presença constante no Maracanã, sempre com radinho de pilha ao ouvido. Chegava sem qualquer aparato especial, assistia ao jogo e depois ia embora, sem maiores salamaleques, mas sempre sob os aplausos do publico presente. Os flamenguistas consideravam-no “pé quente”, os torcedores viam-no como um Presidente sereno, que conduziu o País com competência e seriedade: o Brasil crescia a 9%; vivíamos período de pleno emprego e podíamos andar, com tranqüilidade, pelas ruas, sem corrermos o risco de ser assaltados, ou atingidos por bala perdida. Quanto à repressão política, ficava ela adstrita a repressores e reprimidos, fato que passava bem longe da população. E ainda havia o Botafogo de Jairzinho, o Corinthians de Rivelino, o Santos de Pelé e não este bando de pernas de pau, em que se transformou nossa seleção.

Tudo isto reunido, difere a vaia de hoje e os aplausos, de ontem.

terça-feira, 17 de junho de 2014

O Idi Amin do Supremo

Poderia ser apenas bizarra estória, mas, para infelicidade das já combalidas instituições nacionais, foi indigno acontecimento real: ilustre advogado, na véspera da estréia do Brasil na copa do mundo, pendura-se em um avião e sai de São Paulo em direção a Brasília para, na Corte Suprema, pugnar por legítimo interesse de cliente seu, direito esse que se acha obstruído pelo sempre espetaculoso Ministro Joaquim Barbosa. Vai a Tribuna e, com a eloqüência que o caracteriza, exige que aquele Ministro leve à apreciação de seus pares, matéria relevante e preferencial, porque envolve a liberdade, o mais sagrado dos direitos humanos. O que faz o “nosso” Idi Amin? Primeiro, desliga o microfone do advogado; depois, determina aos seguranças que o retire, à força, da Tribuna. Gesto de truculência, próprio de quem jamais deveria ter integrado a Corte e, integrando-a, acabou por deixar indelével nodoa, que perdurará por muito tempo. Depois, a mídia – talvez impulsionada pela assessoria do Ministro – notificou que o advogado estava embriagado. Talvez estivesse mesmo, mas embriagado pela emoção dos que lutam luta justa e pela coragem dos que enfrentam tiranos e tiranetes.

Leio que uma Entidade, representativa dos direitos raciais, está exigindo da Presidente que outro negro substitua Joaquim Barbosa. Apenas para lembrar: a Constituição Federal estabelece, como condições para ser admitido na Corte Suprema, que tenha o candidato “ilibada reputação e notório saber jurídico.” Independentemente de cor ou raça, exige-se do postulante a Ministro que tenha conhecimento técnico e equilíbrio, características que, se tivessem sido observadas, teriam deixado Joaquim Barbosa longe da Corte. 

segunda-feira, 16 de junho de 2014

A hora e a vez do governador Alckmin

A recente greve dos metroviários, em São Paulo, revelou que a natureza da mesma era meramente política e, ao perceberem tal fato, aqueles trabalhadores foram voltando ao trabalho, à revelia do seu Sindicato. Tanto isto é verdade que, iniciadas as demissões, aceitou-se o aumento ofertado pelo governo do Estado e as divergências cingem-se, agora, à revogação ou não das demissões. O Sindicato, que desmoralizou o poder judiciário trabalhista, não pode ganhar essa queda de braços com o governo, até porque, como ficou provado, não conta com o apoio dos metroviários e ganha total antipatia da população, a grande prejudicada nessa paralisação inútil. Por isso, em respeito a essa população, que legitima o exercício do poder, o governador Geraldo Alckmin deve se manter firme e intransigente, no sentido de manter as demissões dos agitadores, membros de uma carcomida extrema esquerda, já enterrada em todo o mundo civilizado.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Tristezas e alegrias da vida são
Imaginava eu, mais de quatro décadas passadas de diuturno exercício profissional, tantas foram as aberrações jurídicas, com as quais me deparei, que perdera a capacidade de me indignar. Ledo engano, como dizia ancestral professor quando, em exame oral, dávamos equivocada resposta a uma pergunta. Não é que ontem, 15, experimentei o amargo gosto da decepção por ver o Direito ser pisoteado e a Justiça ser objeto de escárnio? Mas vamos aos fatos: às 14:30h, participei, como advogado de defesa, de audiência, onde o réu, primário, vale dizer, sem nunca ter sido processado ou condenado anteriormente, menor de 21 anos, com emprego e residência fixos, encontrava-se preso, desde o mês de janeiro, por tentativa de roubo, praticado por um colega... com o dedo. Reunia, assim, meu cliente, todos os requisitos para receber os benefícios da liberdade provisória e, nestas condições, continuar respondendo ao processo. A audiência foi adiada para final de novembro, porque a vitima, que reside em outra cidade, não compareceu. Formulei o pedido de concessão de liberdade provisória e a Juíza – simpática e educada – negou o pedido, simplesmente afirmando que melhor apreciaria o pedido na próxima audiência. Assim, aquele jovem, que, até então, nunca entrara numa Delegacia, vai continuar pelo menos por mais quatro meses, convivendo com perigosos marginais. Sai do fórum desolado, desolação desmedida, por ter de dar a noticia à mãe, que a recebeu em pranto convulso. Do fórum sigo para o Tribunal de Justiça, no centro velho da cidade, onde encontro um colega, de antigas lidas. A meio a cordial bate-papo, fico sabendo que o ex-Promotor, que assassinara a esposa grávida, agora, menos de 03 anos de sua condenação, fora agraciado com o beneficio do regime semi-aberto, isto é, só vai (se é que vai) ao presídio para dormir. Aquela melancólica dicotomia , a solidificar o entendimento popular de que “cadeia é para os pobres”, carreguei-a como fardo insuportável, noite adentro, dando-me a quase convicção que está na hora de arrepiar carreira. É claro que buscarei no Tribunal a reparação da injustiça, perpetrada contra meu cliente. Mas, quem apagará dos meus ouvidos o choro convulso daquela mãe que, no próximo domingo, entrará na fila dos horrores, para visitar seu imberbe filho preso? Enquanto isso, com certeza, aquela juíza, educada, simpática, estará almoçando, em paz, com seus familiares. Mas, de onde tirei a idéia de que o Direito é meio para se fazer Justiça?

P.S.: Este texto repousava em minha gaveta e, após alguns dias, o Tribunal, acolhendo “habeas corpus”, mandou soltar o rapaz. Apenas redimiu o equivoco da Juíza, mas não apagou a amargura da mãe que teve que esperar, por mais 10 dias, para abraçar seu filho, finalmente liberto. 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Será a copa o ópio do governo?

Não faz muito tempo – talvez um mês – a Presidente Dilma convocou os principais jornalistas esportivos a Palácio, solicitando – talvez exigindo – esforço concentrado, no sentido de “vender” a copa à população. Além da inusitada propaganda institucional – afinal se trata de evento privado -, a partir daquela reunião, a mídia não fala em outra coisa, a ponto de “o Jornal Nacional”, o “Jornal Bandeirantes” e o “GNT” consumirem dois terços do tempo de seus noticiários, falando da copa. Não sei se é coincidência, (apenas constato o fato), nunca a Petrobrás investiu tanto em publicidade. E, no último encontro do PT, Lula, no melhor estilo “Conselheiro Acácio”, que, na linguagem “Rodrigueana”, fazia a apologia do óbvio, declarou que as manifestações contra a copa são, na verdade, contra o PT. Que grande novidade! O Brasil passa por crise econômica, moral e social, gerada pelos ocupantes do poder, ligados, direta ou indiretamente, ao PT, representante da maior desilusão política sofrida pelo povo. As indústrias da construção civil e automotiva, maiores geradoras de emprego, estão estagnadas. Os sindicatos laborais decretam greves e ridicularizam as determinações, inclusive multas, do poder judiciário trabalhista. É claro que as manifestações não são contra a copa, em si, apesar de os jogadores da seleção não terem vinculo subjetivo com os clubes brasileiros e seus torcedores. As manifestações – e tomara que não empanem o brilho da festa – são contra um governo liliputiano, que, equivocadamente, ainda acha que pode enganar o povo, na base do “porque me ufano do meu País”. 

sexta-feira, 6 de junho de 2014



Podemos confiar nas pesquisas?
Converso com amigo, sociólogo de vários títulos e longa estrada, que sabe tudo de pesquisa. Quero explicação técnica para o sobe e desce da Dilma e a subida vertiginosa do Aécio. A mim, ignorante no assunto, as conclusões sobem-me como contraditórias. Explica-me ele que as pesquisas, realizadas antes da abertura dos debates, tem pouco valor cientifico e a prova disto é o grande numero de indecisos. Além do mais, o País vive o clima “contra a copa” e “a favor da copa”, cujo resultado, acrescentou ele, não influirá na opção do eleitor, mas serve para tirar a política de foco. Assim – sempre segundo ele -, teremos que aguardar o começo do mês de agosto, quando, então, as pesquisas estarão mais próximas da verdade.
Respirei aliviado, pois a simples possibilidade de a Presidente se reeleger já no primeiro turno, constitui um desalento. Aécio, apesar de sua juventude, não é o candidato dos meus sonhos, mas nada é pior do que o País continuar nesta administração retrógrada e malcheirosa, mãos dadas com os “Maduros” e “Morales” da vida. O Brasil, literalmente, andou para trás, nestes últimos anos e foi objeto do escárnio mundial, com seu pífio crescimento econômico e tendo, como única prioridade, a copa do mundo, versão moderna do “pão e circo” dos antigos romanos. Somos vergonha internacional em saúde e educação e a “bolha imobiliária”, que estourou nos Estados Unidos, em 2008/2009, parece estar chegando por aqui, com a estagnação desse segmento. A Presidente tem, a seu favor, o enorme contingente de miseráveis, que recebe essa esmola do governo, sob o nome de “bolsa família”, esmola, simples esmola, porque nada exige em troca, a não ser o voto, o velho voto de cabresto. Dilma, que surgiu do mesmo ninho dos “mensaleiros”, é beijada por Collor e Maluf, todos “bons companheiros” da Presidente, que se empenha por afundar a CPI da Petrobrás, empresa que já foi orgulho dos brasileiros e agora transformada em valhacouto de bandoleiros. Mas nada disso, pelo menos, por agora, importa, porque “Yes, nós temos banana”, isto é, copa do mundo e, peito inflado, acabamos por esmagar a poderosa seleção do Panamá.

terça-feira, 3 de junho de 2014



A inglória partida do Ministro Joaquim
Veja”, com incompreensível “baba ovo”, transformou o retirante Ministro Joaquim Barbosa em grande herói nacional. Em primeiro lugar, ser bom jurista – e ele tem suas limitações – e julgar segundo os princípios do Direito, mais do que obrigação constituem requisitos para se ingressar na Corte Suprema. Joaquim Barbosa, provavelmente de olho em futura carreira política, nunca entendeu o Supremo como Órgão Colegiado. Exasperava-se, chegando à falta de respeito e de educação, quando era contestado por seus pares e marcantes foram suas desavenças, especialmente com os Ministros Ricardo Levandowski e Marco Aurélio Mello. Quis reinar no Supremo, como déspota pouco esclarecido e sua partida, pelo menos entre os operadores do Direito, não deixará saudades, como saudades deixou a partida de Cesar Peluzo, jurista de cultura e equilíbrio invulgares, como saudades deixará Celso de Mello, jurista e fidalgo, que não receia em receber advogados. Joaquim Barbosa carregou com ele o auto-preconceito de sua negritude, como se essa fosse um defeito, a justificar suas preterições. O que se espera de um Magistrado, além de seu conhecimento jurídico, é equilíbrio no ato de julgar e este o Ministro Joaquim positivamente não o tem. Por isso, repito, com inúmeros outros colegas, “já vai tarde, melhor se nem mesmo tivesse vindo.”