Recebo e-mail, prá lá de desaforado, de um Promotor de
Justiça, que não tenho o privilegio de conhecer, afirmando que todos aqueles
que apoiam o projeto de lei, versando sobre abuso de autoridade, são contra a ‘’lava jato’’, porque estão envolvidos em
atos de corrupção. Não vesti a carapuça, primeiro, porque não sou contra a ‘’lava jato’’, muito pelo contrário;
segundo, porque, se quando habitava o ‘’andar
de cima’’, tendo incontáveis oportunidades, nunca me deixei seduzir, não
seria agora, vivendo no rés do chão, que iria fazê-lo. Só quem bate à minha
porta, em horas tardias, é o Rodolfo, meu politizado pastor alemão, quando me
esqueço de dar-lhe ‘’boa noite’’. Nas
dependências da Polícia Federal, lá na ‘’Lapa
de baixo’’, entro sempre pela porta da frente, em razão de meu oficio.
Quanto a minhas criticas àquela ‘’operação’’,
resultam elas de meu inconformismo pelas ‘’pedaladas
legais’’, que estão sendo praticadas, em nome da moral e dos bons costumes,
mas que colocam em risco o Estado de Direito. A este respeito, sugiro a quem se
interessa pelo tema, a leitura do livro ‘’A Outra Historia da Lava Jato’’, do
jornalista Paulo Moreira Leite, com passagem pela ‘’Veja’’, ‘’Isto É’’ e ‘’Época’’. Advirto que se trata de
jornalista de esquerda, feroz adversário do impedimento da falecida política,
Dilma Rousseff e notório simpatizante do lulopetismo, o que significa estarmos,
eu e ele, em margens opostas deste rio chamado Brasil. Todavia, como sou
despido de preconceitos ideológicos, comungo dos mesmos interesses daqueles que
preservam a pratica do bom direito, marca registrada das democracias
constitucionais. Como o escritor sugerido, abomino a delação premiada, como vem
sendo ela exercitada, seja como meio de prova, seja como instrumento de coação,
para a concessão da liberdade. Como o escritor sugerido, abomino o instituto da
prisão provisória, temporária ou preventiva, tal como vem sendo decretada, ao
arrepio dos pressupostos exigidos pelo Código de Processo Penal. Como o
escritor sugerido, abomino a quebra do sigilo do Inquérito Policial, com
vazamentos seletivos de informações para a mídia, a linchar, moralmente, como
se condenado já o fosse, o mero suspeito. Como o autor sugerido, abomino a
pirotecnia do Ministério Público Federal, ao oferecer denuncias. Como o autor
sugerido, não consigo entender como Alberto Youssef, Paulo Roberto Costa,
Nestor Cerveró, condenados a centenas de anos, cumprem rasteiras penas em suas
confortáveis residências, enquanto o Marcelo Odebrecht continua preso,
negando-se-lhe o direito constitucional de recorrer em liberdade. Juiz,
transformado em herói nacional, faz-nos lembrar Silvio Berlusconi, que emergiu
da ‘’operação mãos limpas’’.
Interessante a informação, trazida pelo escritor sugerido,
segundo a qual o Juiz, Sergio Moro, em artigo publicado em 2004, sob o titulo
‘’Considerações sobre a Operação Mani Pulitti’’, já deixava clara a necessidade
de se deflagrar idêntica operação no Brasil, ao afirmar:
‘’No Brasil,
encontram-se presentes várias das condições necessárias para a realização de
uma ação judicial semelhante. Assim como na Itália, a classe política não goza
de prestigio junto à população, sendo grande a frustração pela quantidade de
promessas não cumpridas após a restauração democrática.’’
Nem de longe a mínima intenção de estabelecer comparações,
mas, de repente, sacode-me a historia de um punhado de homens, que, no
longínquo ano de 1925, reuniu-se, em uma cervejaria de Munique, chamada ‘’Burgerbraü”, para ouvir um exaltado
orador, que falava da vergonha e da humilhação do País, que, por conta de um
Tratado ignominioso, retirara 1/3 do território e mais da metade da riqueza
nacional, gerando fome e desemprego, sob os inertes olhares da classe política,
desacreditada pela população. Três anos depois, aquele eloqüente orador era
líder de um partido que já contava com
60 mil membros. Em 1931, o mesmo entusiasmado orador recebe 11 milhões de
votos, na eleição para Presidente da República e, em janeiro de 1933 é nomeado
Primeiro Ministro, fazendo editar a ‘’Lei
dos Plenos Poderes’’, que modificava a Constituição, suprimindo direitos
individuais. Aquele novo herói nacional, guia de um povo descrente e humilhado,
restaura a moralidade pública, restaura a dignidade do povo e, apoiado por este
mesmo povo, 06 anos após assumir o Poder, em 1939, inicia uma guerra, que iria
deixar um saldo de 60 milhões de mortos e iria destruir seu próprio País.
Aquele orador inflamado chamava-se Adolf Hitler; seu partido era o ‘’Partido Nacional Socialista’’ e seu
País, a Alemanha.
Vivemos era cibernética, onde o tempo não se conta em anos,
mas em dias, mas os acontecimentos de hoje, quando, com o apoio do povo, com o
incentivo da mídia, o arbítrio solapa o ordenamento jurídico, permitem, mais,
estimulam o surgimento de um novo ‘’salvador
da pátria’’, que nos conduzirá rumo ao desconhecido.
A história serve, principalmente, para que, olhando os erros
e horrores do passado, não os repitamos, no presente.