sexta-feira, 30 de novembro de 2012


CARTA A UM COMPANHEIRO DA “PIOR IDADE”

Prezado Amigo,

Leio, no Google Notícias de ontem, 29, que “a expectativa de vida do brasileiro aumenta para 74 anos e 29 dias”. Como levo a sério estatísticas, principalmente as que contém dados tão precisos, comecei, imediatamente, a fazer meu planejamento, que lhe envio, a título de sugestão:

1.- Arrumar minhas gavetas, destruindo papéis que possam comprometer minha imagem póstuma.

2.- Escrever, de forma a mais inteligente possível (tarefa ingente) sobre temas atuais, de modo a valorizar minha imagem póstuma.

3.- Passar a largo dos “pecados capitais”, principalmente o da “ira”, da “inveja” e da “luxúria” (se bem que esse a idade já se encarregou de apagar), de modo a ter algum crédito, quando chegar “do outro lado”. Quanto ao pecado da “gula”, não vejo mal algum em cometê-lo. Se estou garantido até os 74 anos e 29 dias, que vinde a mim a carne de porco, o leitão à pururuca, a carne de sol, a cerveja no calor e o vinho, no frio. Tudo em abundância. Às favas com as saladas e as carnes magras e grelhadas, com gosto de sola de sapato. Já que vou, levarei comigo boa carga de colesterol. E não posso me esquecer dos doces, muito e de todas as espécies, com a máxima dosagem de açúcar possível. Morrer sem diabetes, chega a ser sacrilégio.

4.- Pensar um pouco nos desafortunados, dando-lhes aquelas roupas, esquecidas no armário, esperando-nos vencer a luta inglória do emagrecer.

5.- Dar mais atenção ao lado espiritual, rezando mais e pedindo perdão pelos pecados acumulados vida afora, principalmente os mortais. Sinceramente, não acho que “desejar a mulher do próximo” seja algo tão grave assim, até porque o desejar é ato emocional, que passa longe da razão. Mas, como consta das “Tábuas da Lei”, convém enumerar tantos desejos ilegais e, um a um, ir pedindo perdão por eles. Ah, é bom não se esquecer de que, biblicamente falando, próximo são todos e não apenas o vizinho do lado.

6.- Para não me estender mais, concluo pela conveniência de guardar algum dinheiro para que a viúva – que, em vida, já apenas nos suporta – lembre-se de nós com alguma benevolência.

Em tempo: fico a me perguntar: o que acontecerá, falhando a previsão, se amanhecermos vivos na manhã do 30º dia, após 74 anos? Pagaremos multa, seremos presos? E, se ao contrário, morrermos antes do prazo delimitado? A viúva terá direito a uma indenização, calculada sobre o tempo faltante?

Forte abraço!

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