quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Rodolfo, eu, Fidel Castro e Cuba


Chego em casa, domingo à noite e sou abordado por Rodolfo, meu politizado pastor alemão, dizendo-me que compreendia minha correria, mas precisava falar comigo. Enquanto trocava de roupa, tentei imaginar o assunto. Sobre a conquista do Palmeiras, por certo não seria. Adepto do ‘’Bayern’’ de Munique, torce o nariz, ou melhor, o focinho para o futebol, abaixo do Equador. Ainda traz vivo, na memória, os 7x1 da última copa. Roupa trocada, chamo-o à sala, o que lhe traz indisfarçável descontentamento, pois indica que não haverá passeio no parque. Ele se posta a meu lado e vai direto ao assunto:
- ‘’este tal de Fidel Castro, que acabou de morrer, foi mesmo tudo isto que a mídia está falando? Nestes quase 5 anos que estamos juntos, você faz referencia aos Estados Unidos, aos países da Europa, mete o pau na Venezuela, mas de Cuba, nenhum comentário. Por que?’’
E o pior é que o Rodolfo tinha razão nas duas coisas: a imprensa massacrou-nos com notícias sobre Fidel, como se fosse ele o mais importante líder político do mundo e, por outro lado, tinha razão, porque Cuba jamais esteve inserida em minhas preocupações. É desses países, como a Albânia: sabemos que existe, mas não têm qualquer relevância. Entretanto, Rodolfo, com indisfarçável ansiedade, aguardava minhas explicações.
- ‘’meu amado Rodolfo, Fidel Castro foi o estadista do atraso. Estive em Cuba, no inicio dos anos 90 e, além de uma repressão, que constrangia até os turistas, a pobreza estava disseminada. Conversei com alguns jovens e todos alimentavam plano de irem para os Estados Unidos. O tão decantado avanço, no campo educacional, é pura falácia, pois o acesso à Universidade é privativa dos membros do partido, isto sem contar que, pela ausência de desenvolvimento, não há mercado de trabalho para os egressos das Universidades. A mesma falácia constituiu-se no campo da saúde pública. À exceção da medicina tropical, Cuba é zero nos demais ramos, até porque o médico, lá formado, é proibido de sair do País, para cursos de especializações e, quando sai, é para integrar programas geridos pelo governo, como esse + Médicos. Cuba sobreviveu, economicamente, até o final dos anos 80, enquanto durou a União Soviética, que a subsidiava, enfiando cerca de 01 bilhão de dólares por ano, naquele País, apenas por questões estratégicas, em relação aos Estados Unidos. Com o fim da União Soviética, a ‘’mesada’’ foi cortada e o que já era ruim ficou péssimo. O cubano é simpático, generoso, o País tem praias lindíssimas, mas, além da repressão política, o povo, sofre, até mesmo repressão alimentícia, porque não é tudo que pode comer. Fidel foi ditador sanguinário, que mandou matar mais de 20 mil oponentes políticos e provocou a fuga de cerca de 100 mil cubanos, especialmente para Miami, onde comemoraram, como se estivessem em carnaval, a morte do dito cujo. E, para completar, propagou sua anacrônica ideologia, especialmente para a América Latina, gerando ‘’filhotes’’, como Lula, Morales e Hugo Chávez. Em resumo: Fidel foi cancro, que levou Cuba para o século 19,  fazendo o País ter saudades do corrupto governo de Fulgêncio Batista, que ele derrubou. Como me disse um velho cubano: ‘’pelo menos, no tempo de Batista, nos tínhamos empregos, nos cassinos e nas casas noturnas’’. É isto aí, meu caro Rodolfo, se posso interpretar o sentimento cubano, diria: Fidel, você já foi tarde!’’
Imaginava eu ter encerrado a conversa e já me levantava para ir embora, quando Rodolfo imobilizou-me com as patas, dizendo:
- ‘’espera um pouco. E agora, como fica Cuba com a morte de Fidel?’’
- ‘’ainda não dá para ter idéia precisa. Cuba é dirigida por Raul, irmão de Fidel, que está tentando reaproximação com os Estados Unidos, mas, agora, com a eleição de Trump, essa reaproximação vai esfriar, já que o novo Presidente norte-americano fará duras exigências para manter o apalavrado por Obama. Na verdade, em termos comerciais, Cuba nada tem a oferecer aos Estados Unidos, em particular, e ao mundo, em geral. Sua vocação é, predominante, turística, todavia os norte-americanos só investirão lá, se tiverem absoluta segurança, política e financeira desses investimentos’’.

Rodolfo deu-se por satisfeito, saiu porta a fora, desceu as escadas e, como de hábito, recolheu-se, sob a caixa de correspondência, para refletir. 

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