sexta-feira, 13 de abril de 2018

Pergunta sem resposta


Atravessei o tempo, colocando-me à margem direita do rio ideológico, mantendo, sempre, cordiais relações e incontida admiração pela turma do lado esquerdo. Lembro-me de que, quando ainda tinha o apartamento do Rio, debruçado sobre o bairro do Leme – de eternas recordações -, emprestei-o a dileto amigo, alto executivo da Ford, mas que se  exibia como habitante da margem esquerda. Ao devolver as chaves, comentou sobre a natureza de meus livros (tinha pequena biblioteca, no Rio), muito mais relacionados ao pensamento de esquerda. Não só os admiro, mas me solidificam eles a convicção de ser impossível sociedade,  que prioriza o bem comum e apresenta soluções utópicas de igualdade social. “Trampei” muito na vida, enfrentei mares revoltos até atingir águas calmas (que ainda se agitam, de vez em quando) e aprendi que só se chega ao objetivo ou próximo dele com esforço e dedicação. As oportunidades estão aí, ao alcance de quem as buscou, com empenho, sem a necessidade do Estado protecionista com suas desastradas e inúteis políticas públicas. Ao contrário do que apregoam os sacripantas, a direita não prega o fim do ensino gratuito, mas, sim, o fim do ensino público, cuja progressiva decadência não  se contesta. Os bilhões, jogados pela janela, para manterem escolas e professores, incapazes de transformar alunos em cidadãos, poderiam ser convertidos em bolsas de estudo, a serem distribuídas a estudantes, comprovadamente pobres, independentemente da cor da pele ou preferência sexual. É improvável que jovem, mesmo morando em meio social precário, fosse capaz de agredir professor de escola particular. As condições objetivas – instalações da escola, convívio com colegas, interação com o educador – o impediriam. O próprio ensino superior vive maus dias, marcado por desvios de verbas, falta de incentivo à pesquisa e tantos outros males, de conhecimento comum. Outro dia, pessoa de relevância, na área de ensino, com pós doutorado em Pedagogia, contou-me a seguinte parábola: eis que um homem, mantido vivo, por congelamento, desde os anos 50, é despertado. Encanta-se com o desenvolvimento tecnológico, a internet, a comunicação “on line”, a engenharia médica. Tudo, muito além de sua imaginação. Levado, porém, a uma escola pública, verificou que ainda se ensinava, como à época de “seu congelamento”, ...mas de forma pior.
Todos – esquerda e direita – afirmamos que o Brasil só entrará na lista dos países desenvolvidos, através da educação. A esquerda namora com o Estado protetor, política de quotas e outras utopias que ficaram, ficam e, se mantidas, ficarão no campo do inatingível. Por causa dessa visão equivocada, nos últimos 20 anos fomos ultrapassados por países que viveram guerras, tiveram campos, cidades e populações devastados por avalanches, ciclones, furacões e tantos outros fenômenos da natureza. Coreia do Sul e Chile, por exemplo. Contam a mentira – e muitos acreditam – que somos uma das 10 maiores economias do mundo, apesar de termos educação de péssima qualidade, assistência à saúde de péssima qualidade, quase 15% da população desempregada, unânime descréditos nas instituições. Temos tudo para alcançar o desenvolvimento. O que atrapalha? Esse monstro tentacular, absolutamente ineficaz e corrupto, chamado Estado, que extrai nossa riqueza e a vomita sob forma de incúria administrativa.
Com preocupação e incerteza, olho para os meus netos e me pergunto: “o que será que será?”

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