De tempos longevos, vem-me à memória o purismo do professor
Soares Amora, a pretender afastar de nosso idioma todas as palavras usurpadas
de idiomas estrangeiros. Luta, bravamente, contra os galicismos e anglicismos, luta perdida,
pois o idioma, qualquer idioma, em sua evolução dinâmica, sofre a influência de
culturas mais sedimentadas. O Português, que se fala e se escreve por aqui, até
o final da segunda grande guerra, assimilou palavras e expressões francesas,
até porque Paris era o destino dos fazendeiros de café que, até então,
dominavam a economia brasileira. Com o passar do tempo, palavras como “chauffer”, “abât-jour” foram “traduzidas”
e incorporadas a nosso vernáculo, como chofer e abajur. Após 1945,
principalmente pelo massacre a que nos impôs Hollywood, os Estados Unidos
passaram a ser nossa Meca cultural e as novas gerações, na música, no vestir e
até no comportamento passaram a gravitar em torno daquele País. Hoje, qualquer
garoto de 10 anos, pelo menos, arranha o Inglês, até porque, se não o fizer,
fica fora do mundo dos “games”, o que
é fatal. A diferença é que nem se dão ao trabalho de traduzir palavras
cibernéticas. Usam-nas, no original e
vida que segue... menos para analfabetos, como eu. Conto, sem pudor, que certa
feita, uma de minhas noras enviou-me mensagem, convidando-me a participar de
seu “linkedin”. Não respondi, porque
não tinha a menor ideia do significado daquela palavra, com jeito de “mineirês”,
nós que falamos “docim”, “brinquedim” e até tempos cidade chamada “Betim”. Continuo desconhecendo
o sentido desse palavreado, que faz com que chame computador de Vossa
Excelência. Não navego na internet, ando de canoa, o que já está pra lá de bom.
Considero absolutamente normal estas incorporações a nosso
idioma, de palavras e expressões estrangeiras, a ponto de a geração, que nasceu
com a informática, ter criado vocabulário próprio, repleto de catacreses,
palavra que emprego só para me exibir. O que, realmente, me provoca arrepios é o uso de
expressões que, de tempo em tempo, são usadas até por gente metida a
intelectual. Houve uma época em que a moda
era empregar a expressão “via de
regra”, que abria e fechava qualquer diálogo. Caiu em desuso ( o que foi
oportuno, porque, ao pé da letra, significa o trajeto do fluxo menstrual),
sendo substituída por outra, mais tenebrosa:
“a nível de” que,
rigorosamente, nada significa a não ser que quem a usa é pernóstico e
ignorante. De uns tempos prá cá, está todo mundo “colocando opinião”, ao invés de, simplesmente opinar. Ontem, mesmo,
no jornal da “Globonews”, o jornalista Camarote ‘colocou”, à vontade, sobre o encontro de Trump com o norte-coreano.
O saudoso Otto Lara Rezende, em uma de suas crônicas, chamava de bestialógicas
essas expressões, sem conexão com a realidade semântica e que, de repente,
incorporam-se ao linguajar cotidiano.
Quando tiver um “tempim”,
vou pesquisar para descobrir como essas cretinices entraram no vocabulário,
contaminando, inclusive, ilustres jornalistas, como o acima citado.
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