quarta-feira, 13 de junho de 2018

Nosso idioma, ontem e hoje


De tempos longevos, vem-me à memória o purismo do professor Soares Amora, a pretender afastar de nosso idioma todas as palavras usurpadas de idiomas estrangeiros. Luta, bravamente, contra  os galicismos e anglicismos, luta perdida, pois o idioma, qualquer idioma, em sua evolução dinâmica, sofre a influência de culturas mais sedimentadas. O Português, que se fala e se escreve por aqui, até o final da segunda grande guerra, assimilou palavras e expressões francesas, até porque Paris era o destino dos fazendeiros de café que, até então, dominavam a economia brasileira. Com o passar do tempo, palavras como “chauffer”, “abât-jour” foram “traduzidas” e incorporadas a nosso vernáculo, como chofer e abajur. Após 1945, principalmente pelo massacre a que nos impôs Hollywood, os Estados Unidos passaram a ser nossa Meca cultural e as novas gerações, na música, no vestir e até no comportamento passaram a gravitar em torno daquele País. Hoje, qualquer garoto de 10 anos, pelo menos, arranha o Inglês, até porque, se não o fizer, fica fora do mundo dos “games”, o que é fatal. A diferença é que nem se dão ao trabalho de traduzir palavras cibernéticas.  Usam-nas, no original e vida que segue... menos para analfabetos, como eu. Conto, sem pudor, que certa feita, uma de minhas noras enviou-me mensagem, convidando-me a participar de seu “linkedin”. Não respondi, porque não tinha a menor ideia do significado daquela palavra, com jeito de  mineirês”, nós que falamos “docim”, “brinquedim” e até tempos  cidade chamada “Betim”. Continuo desconhecendo o sentido desse palavreado, que faz com que chame computador de Vossa Excelência. Não navego na internet, ando de canoa, o que já está pra lá de bom.
Considero absolutamente normal estas incorporações a nosso idioma, de palavras e expressões estrangeiras, a ponto de a geração, que nasceu com a informática, ter criado vocabulário próprio, repleto de catacreses, palavra que emprego só para me exibir. O que,  realmente, me provoca arrepios é o uso de expressões que, de tempo em tempo, são usadas até por gente metida a intelectual. Houve uma época em que a moda  era empregar a expressão “via de regra”, que abria e fechava qualquer diálogo. Caiu em desuso ( o que foi oportuno, porque, ao pé da letra, significa o trajeto do fluxo menstrual), sendo substituída por outra, mais tenebrosa:  a nível de” que, rigorosamente, nada significa a não ser que quem a usa é pernóstico e ignorante. De uns tempos prá cá, está todo mundo “colocando opinião”, ao invés de, simplesmente opinar. Ontem, mesmo, no jornal da “Globonews”, o  jornalista Camarote ‘colocou”, à vontade, sobre o encontro de Trump com o norte-coreano. O saudoso Otto Lara Rezende, em uma de suas crônicas, chamava de bestialógicas essas expressões, sem conexão com a realidade semântica e que, de repente, incorporam-se ao linguajar cotidiano.
Quando tiver um “tempim”, vou pesquisar para descobrir como essas cretinices entraram no vocabulário, contaminando, inclusive, ilustres jornalistas, como o acima citado.

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