1964 outra vez
Daqui a poucos dias o movimento cívico-militar, desencadeado
em 31 de março de 1964, completará 50 anos. A carcomida esquerda afirma e
reafirma que não passou de uma “quartelada”
e a Imprensa, que apoiou maciçamente o movimento, teima em chamá-lo de “golpe militar”, até porque seus
principais integrantes pertencem àquela esquerda, que bebia uísque da varanda
do “Antonio’s”, no Rio, ou jantava, à
beira de um bom vinho, no “gigetto”,
em São Paulo. Que o movimento foi cívico, a História não refuta. Centenas de
milhares de pessoas saíram às ruas, em todo o Brasil, pedindo a destituição de
Jango. Ninguém suportava mais conviver com a carestia de gêneros alimentícios,
com uma inflação, que batia nos 70% e com quebra da hierarquia militar. Pode-se
dizer que “1964” foi movimento da
classe média. Talvez tenha sido mesmo e assim o foi, a classe média
impulsionando as insurreições, desde a Revolução Francesa de 1789. Mas o certo
é que nem mesmo as organizações sindicais de trabalhadores saíram às ruas para
defender Jango, que caiu de maduro, apoiado, apenas pelo histriônico Leonel
Brizola. “1964” abriu novo marco na
administração pública brasileira. Não mais apadrinhados políticos, despidos de
qualquer qualificação profissional. Homens como Hélio Beltrão, Leitão de Abreu,
Delfim Netto, Reis Veloso, Allison Paulinelli iriam tirar o Brasil do atraso e
levá-lo em direção ao desenvolvimento. São Paulo iria congregar o maior parque
industrial da América Latina; a taxa de emprego aproximar-nos-ia dos países do
primeiro mundo e as empresas públicas (mais tarde, no governo Fernando
Henrique, vendidas a preço vil) foram as principais impulsionadoras do
progresso. Registre-se, apenas à guisa de exemplo, que, antes de “64” esperava-se quase um dia inteiro
para se completar um simples interurbano. Menos de 10 anos depois, o Brasil já
dispunha de um dos mais avançados sistemas de telecomunicações do mundo.
Andava-se, com tranqüilidade, pelas ruas de Copacabana, como se trafegava, sem
cuidados, pelos cruzamentos da paulicéia. Seqüestros, assaltos a banco, só
viriam a ser conhecidos quando os subversivos, levados pela insanidade, tiveram
a leviana pretensão de derrubar o regime. E é bom que se refresque a memória
dos mal intencionados: os militares estavam no comando do poder, mas o
exercício do governo estava nas mãos dos civis.
Olhamos, hoje, passados 50 anos, para Brasília e temos uma
visão desalentadora: uma Presidente que, para obter um mínimo de
governabilidade, tem que barganhar com o Poder Legislativo comprometido e
objeto de escárnio da população. No Rio, os comandantes das UPP’s são
assassinados pelos traficantes, que, de dentro dos presídios de segurança
máxima, ordenam, impunemente, tais mortandades. Em São Paulo, vândalos destroem
o patrimônio, público e privado, sob o complacente olhar da Polícia Militar,
manietada pelo Governador do Estado. O programa “+ médicos”, menina dos olhos do Governo Federal, revelou-se
verdadeiro esbulho à dignidade dos cubanos, a trabalharem em regime de
escravidão, sujeitos, não à legislação brasileira, que renunciou a sua
soberania, entregando aqueles profissionais à sanha do castrismo. O governo,
que dá um ensino de péssima qualidade, uma assistência médica de péssima
qualidade, já gastou 10 bilhões de reais – e muito mais gastará – para
patrocinar um torneio de futebol que, como principal legado deixará estádios,
em Capitais como Manaus, Fortaleza, Natal, Cuiabá, Brasília, onde não há
público nem para cobrir os custos de manutenção desses mausoléus. O Brasil,
instituído em 31 de março de 1964, era o Brasil grande em seu desenvolvimento
real, no respeito a coisa pública, na defesa do cidadão. O Brasil de hoje é o
lixo, acumulado na rua; os “zumbis”,
fumando crack nas esquinas; o assaltante que, tranquilamente, aguarda sua
vítima; os vândalos que, sem causa real, destroem ônibus e vitrines e saem,
como se heróis fossem; os desafortunados que sucumbem, sem socorro, às portas
dos hospitais. O Brasil de hoje é, enfim, o conjunto de desgoverno que fez que
31 de março de 1964 acontecesse.
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